Francine Goudel, curadora-chefe do Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, assina a exposição “Mais Humano: Arte no Brasil de 1850-1930” que abre um novo projeto de arte e educação no bairro Coqueiros idealizado como um caminho para a compreensão da arte e instrumento para o exercício da sensibilidade. Com essa dimensão, a pesquisadora embasa a proposta curatorial na urgente necessidade de expansão do olhar sobre temas históricos nas artes visuais. Conhecedora do acervo e dos interesses institucionais, ela propõe a um amplo público, cuja maioria ainda não teve o privilégio de estar diante de uma obra de arte, a possibilidade de conhecer sob diferentes formas a produção artística do século 19 e 20. A arte amplia os sentidos e ensina a pensar o mundo como cidadão mais consciente sobre o próprio passado, o presente e o futuro.
A primeira leitura de Goudel sobre o acervo incorpora a missão de disponibilizar algumas obras inéditas no contexto expositivo de Santa Catarina numa perspectiva bem didática. Com nitidez, a exposição precisa trazer provocações a partir de um conceito capaz de afetar de algum modo os espectadores.
Do ponto de vista estrutural, os blocos de interlocução para análise das obras criam conexões com o tempo presente. “Importante pensar que possivelmente é o primeiro contato de um certo público com esse acervo. Tratam-se de obras pautadas pela história, pois diferente de uma mostra contemporânea, requer um contexto, um pouco de chão e reforço para poder gerar novas leituras”, diz Francine. Para isso, ela conta com o conhecimento da museóloga Cristina Maria Dalla Nora, a coordenação educativa de Joana Amarante e a montagem de Flávio Xanxa Brunetto.
Exposição inaugural
A exposição “Mais Humano: Arte no Brasil de 185-1930” reúne aproximadamente 70 telas e duas esculturas de mais de 30 artistas brasileiros e estrangeiros radicados ou com produção no país, oriundas das concepções acadêmicas de arte e do princípio das ideações do modernismo no Brasil. A seleção representa um pequeno recorte da Coleção Collaço Paulo e busca fazer as pazes com as possíveis abordagens do século 19 e início do 20, que compreende o contexto da criação, mas, também e sobretudo, destaca a importância de olhar a obra na vertente dos estudos recentes da história da arte.
Em cinco eixos de exploração, os núcleos “Personas & Personagens” “Alegorias do Sensível – Nueza e Nudez”, “Demorar no Horizonte”, “Costumário” e “Ainda-vive” convidam a olhar com atenção para aprender sobre a complexidade da obra com base nos gêneros (retrato, nu, paisagem, cenas de costume e natureza-morta).
Do conjunto ao detalhe, a mostra traz a melhor qualidade, pintura por excelência, capaz de provocar impacto naquele que vê pela primeira vez. Aos especializados, do gênero à potência das descobertas de uma atenta observação, um mundo que se abre para pensar no entre séculos, no humano e nas representações de artistas que só agora à luz da Semana de Arte Moderna de 1922 ganham reconhecimento por suas tentativas de rupturas com os cânones da tradição.
Neste contexto, na amplitude das abrangências do acervo, tanto no cenário de produção local como internacional, a curadoria detém o papel de propor meios de interlocução para garantir o acesso aos bens culturais constituintes da coleção, o cerne das proposições de arte e educação. Pilar das ações, a curadoria projeta o caráter educativo da instituição, possibilita a fruição dos objetos artísticos, instrumentaliza pensamentos e elabora um substrato pelo qual pode-se transitar, imaginar e interrogar mundos possíveis. A mostra é de longa duração, o Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação abre de segunda a sábado, entre 13h30 e 18h30. A entrada é gratuita.
Vida de estudos e múltiplas atuações
Natural de Florianópolis, nascida em 1984, Francine Goudel, a curadora-chefe do Instituto Collaço Paulo, coloca a serviço os conhecimentos e a experiência como doutora em artes visuais – teoria e história, pela Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc), mestre em estudos avançados em história da arte pela Universidade de Barcelona (UB), Espanha, pós-graduada em gestão cultural pela Universidade Nacional de Córdoba (UNC), Argentina, e graduada em educação artística – artes plásticas pela Udesc.
Nesta nova atuação institucional, Francine aproveita a prática de pesquisadora, curadora, produtora cultural e professora, constituidora de um currículo amplo de múltiplos direcionamentos e focos. É a atual tesoureira da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA), na gestão 2022-24 e, desde 2016 participa do grupo de pesquisa História da Arte: Imagem-Acontecimento (CNPq/Udesc).
Outras facetas
Além da trajetória acadêmica, aparece como fundadora da marca Lugar Específico, uma plataforma de serviços para artistas e agentes do circuito de arte (2014-18). Como produtora cultural, desde 2008 idealiza, desenvolve e executa projetos ligados à promoção das artes visuais. Como curadora, assina projetos que evidenciam a produção de artistas, sobretudo os de Santa Catarina.
Como pesquisadora desenvolve investigações e textos abarcando temas sobre gestão e sistema das artes visuais, residência de artista e história da arte de Santa Catarina. Em 2020 publica a tese “O Sistema das Artes Visuais em Florianópolis”, um estudo inédito que detalha o modo de produção, circulação, validação e consumo do objeto artístico na capital catarinense. Entre 2020-21, esteve à frente da Diretoria de Artes e Cultura da Fundação Catarinense de Cultura (FCC). Desde 2021, é curadora-chefe da Coleção Collaço Paulo.
Artistas integrantes da exposição Mais Humano: Arte no Brasil de 185-1930
Almeida Júnior (1850-1899), Angelo Cantù (1881-1955), Antônio Ferrigno (1863-1940), Antônio Parreiras (1860-1937), Arthur Timótheo da Costa (1882- 1922), Aurélio de Figueiredo (1854-1916), Baptista da Costa (1865-1926), Belmiro de Almeida (1858-1935), Bruggemann (1825–1894), Castagneto (1862-1905), Décio Villares (1851-1931), De Martino (1838-1912), Eduardo Dias (1872–1945), Eliseu Visconti (1866-1944), Estêvão Silva (1844-1891), Garcia Bento (1897-1929),Garcia Y Vázquez (1859-1912), Georgina de Albuquerque (1885-1962), Joseph Léon Righini (1820-1884), Hélios Seelinger (1878-1965), Henrique Bernardelli (1862-1831), João Timótheo da Costa (1879-1932), Leopoldo e Silva (1879-1948), Marques Júnior (1887-1960), Modesto Brocos (1852-1936), Pedro Américo (1843-1905), Pedro Perez (1850-1923), Rafael Frederico (1865-1934), Rodolfo Amoedo (1857-1941), Rodolfo Bernardelli (1852-193 1), Sebastião Vieira Fernandes (1866-1943), Telles Júnior (1851-1914), Victor Meirelles (1832-1903) e Weingartner (1853-1929)
SINOPSE
A mostra “Mais Humano: Arte do Brasil de 1950-1930” reúne obras realizadas por artistas brasileiros e estrangeiros radicados ou com produção no Brasil, oriundas das concepções acadêmicas e do princípio das ideações do modernismo no país. Ao assumir um caráter didático, o caminho a ser percorrido no espaço expositivo foi idealizado através de eixos de exploração, aglutinados por gêneros artísticos e títulos que possibilitam leituras em seu conjunto e sobretudo na contemporaneidade. A reunião destas obras, significativas na Coleção Collaço Paulo, promove nesta ocasião, para além da oportunidade de ver o caráter contextual de um período, a possibilidade de pensar no tempo presente, em especial sobre os aspectos mais humanos.
SERVIÇO
O quê: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Cultura, exposição “Mais Humano: Arte no Brasil de 1850-1930”
Quando: 30.7.2022 a 21 de janeiro de 2023, segunda a sábado, 13h30 às 18h30
Onde: Rua Desembargador Pedro Silva, 2.568, bairro Coqueiros, Florianópolis (SC), Brasil
Quanto: Gratuito
SAIBA MAIS
“Sensos e Sentidos”, no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), Florianópolis. Uma Enriquecedora Viagem pela História da Arte. Texto de João Otávio Neves Filho (Co´a pá virada!)
Telas de Martinho de Haro Contam História de Florianópolis. Programa Missão Casa, de Simone Bobsin, portal ArqSC
“Eliseu Visconti – 150 anos”, na Galeria Almeida & Dale, São Paulo. Curadoria de Denise Mattar
“Iconografia 344”, na Fundação Cultural Badesc, Florianópolis. Curadoria de Ylmar Corrêa
Por que o “Nu Masculino Sentado com Bastão” do Visconti É Uma Tela Moderna?, no Masc, palestra de Raul Antelo
“A Arte de Colecionar”, texto de Urbano Salles, na revista Mural, Florianópolis (SC)
Fonte: assessoria de imprensa.