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Início › Artigos › Ausências, presenças e a poética do espaço

Ausências, presenças e a poética do espaço

A temporada da CASACOR 2023 nos faz relembrar das reflexões propostas pelo arquiteto, artista e professor na UFSC sobre o corpo e o espaço. O texto é uma adaptação do livro “Perceber o Invisível: dimensões sensíveis de um corpo na arquitetura”, do arquiteto Rodrigo Gonçalves.

Por Rodrigo Gonçalves
18 jan 2021
em Artigos
foto é da Rudin House, em Leymen, nordeste da França, projetada por Herzog & de Meuron em 1997
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A temporada da CASACOR 2023 que tem como tema “Corpo e Morada” nos faz relembrar das reflexões propostas pelo arquiteto, artista e professor na UFSC e no Programa de Pós-Graduação, Rodrigo Gonçalves. Vale a leitura ou releitura já.  O espaço me fascina. Desde que me perco em minhas lembranças e (re)visito meus vividos reparo que o espaço está lá. Primeiramente, é a dimensão mais caseira que possa um espaço ser: o espaço da casa, espaço doméstico, e, mais precisamente, o espaço de um quarto. Quando pequeno me recordo de um quarto enorme com piso de assoalho de madeira e uma janela voltada para um terreno que ao fundo tinha um córrego (o qual mais tarde descobri ser uma vala formada pelas águas que desciam do morro) e um abacateiro gigantesco. Minha escrivaninha ficava embaixo desta janela e ali eu desenhava e coloria um mundo infantil cheio de formas, cores, cheiros e texturas. Modelava minha imaginação com massa de modelar e com ela experimentava heróis e toda a ficção que uma infância solicita. Este quarto – este espaço – era um mundo, ou uma parte do mundo que era o meu mundo.

O arranjo espacial daqueles tecidos sobre aquela terceira parede formavam um palco para o desfile fantasmagórico destes monstros e personagens assustadores.

Minha cama ficava encostada em uma parede e um guarda-roupa com portas de correr de vidro ficava encostado em outra parede. Em uma terceira parede havia meu terror de infância: um amontoado de tecidos que compunham um estúdio fotográfico de meu pai. Ali minha imaginação fértil alimentava monstros horríveis de cor escura se movimentando principalmente à noite. O arranjo espacial daqueles tecidos sobre aquela terceira parede formavam um palco para o desfile fantasmagórico destes monstros e personagens assustadores. Eram noites de verdadeiro pânico fomentados pela escuridão e um não-ver infantil peculiar de uma criança que tinha o espaço como protagonista de suas brincadeiras. Aquele estúdio fotográfico para meu corpo-infantil era enorme, quase a metade de meu quarto. Depois vim saber que eram poucos centímetros configurando um corredor que apenas entrava meu pai. Mas o que me confortava mesmo era o assoalho de madeira e a janela que se abria para este córrego-vala. Ali eu sentia o tão grande era aquele quarto.

Meus vividos

Fisicamente, provavelmente, esta casa não existe mais hoje. Sei que esta casa e meu quarto apenas existem em meus vividos, naquilo que experienciei. A memória e a recordação estão ligadas à percepção antiga de algo, uma vez que o que guardamos como memórias não são imagens das coisas que percebemos, e sim nós guardamos as próprias percepções antigas evocando-as quando recordamos. Assim, lembramos os objetos como foram dados naquele momento. Minha antiga casa e meu quarto de infância (re)aparecem para mim justamente da maneira como eles foram dados naquele momento de minha existência. Entendo o processo de meus vividos virem à tona num esquema de presença e ausência, na qual uma acentua a outra.  Sei que o quarto e toda sua configuração espacial estão ausentes agora, mas esta ausência marca a presença deste espaço em minha memória. E a cada momento que relembro o pequeno (embora grande) quarto, por mais que ele esteja ausente, sua presença vem forte, (re)marcando as marcas que estão arquivadas em meu corpo. Sinto o torpor do medo, a alegria da janela aberta, a textura do assoalho de madeira. Cada uma destas lembranças são novas e reinventadas a cada momento que eu as consulto. É assim que meu quarto de infância, um espaço generoso e de acolhimento por natureza, (re)aparece marcando seu ineditismo na parede de minha memória.

Retorno a minha frase inicial “o espaço me fascina”. Não sei muito bem quando foi, mas posso afirmar que em meus devaneios infantis e nas incursões na escola, sempre me interessava pela dinâmica espacial, sem mesmo saber que tal dinâmica existia. Em muitos momentos ia afirmando uma noção de espaço a qual lanço novos olhares ressemantizados a cada momento de minha trajetória. Lembro-me de medir as coisas com meu corpo: um palmo disto, um braço daquilo, dois dedos daquele lá, um punhado disso aqui… Até mesmo num exercício de escrita eu deixava o espaço de um dedo à frente da linha que inicia um novo parágrafo. Era meu corpo dando sinais que ele faz parte do mundo e não é apenas um mero suporte existencial. Criei assim minhas referências dimensionais partindo de meu próprio corpo. E as brincadeiras continuavam, cada vez mais incrementando este sistema de referências dimensionais sabiamente conduzidas pelo meu corpo. “Fique cinco passos longe de mim para começarmos a brincadeira de pega-pega!” ou “A alturinha só vale como barra se for da altura da metade da minha canela” eram proposições frequentes no mundo das brincadeiras e parlendas infantis.

 

Proponho espaços para corpos conviverem. Analiso espaços observando como os corpos se movem e se apropriam destes mesmos espaços.

Estas brincadeiras e parlendas foram mudando… Hoje sou arquiteto e meu fascínio pelo espaço tem outra dimensão. Proponho espaços para corpos conviverem. Analiso espaços observando como os corpos se movem e se apropriam destes mesmos espaços. Leio nestes corpos as percepções espaciais. Busco clarificar a noção de recordação e percepção. A percepção apresenta um objeto diretamente para nós, e esse objeto é sempre dado numa mistura de presenças e ausências. Em virtude desta dinâmica que mistura presença e ausência trazendo-nos multiplicidade de manifestações, um e o mesmo objeto continua a manifestar a si mesmo para nós. O espaço acaba se tornando um e o mesmo para cada corpo que ali desenha sua trajetória.

É neste toque de trajetórias, nesta zona litorânea onde o mar da percepção toca as areias da praia do existir que arrisco colocar meu corpo(-de-arquiteto). É um risco o qual assumo. É uma escolha…

É neste toque de trajetórias, nesta zona litorânea onde o mar da percepção toca as areias da praia do existir que arrisco colocar meu corpo(-de-arquiteto). É um risco o qual assumo. É uma escolha… Tento assumir a posição de estar nas margens e observar o rio e seu percurso, numa atitude transcendental. É aqui que quero estar e colocar (alguns) aspectos entre parênteses para a partir dali, das margens do rio da existência, realizar indagações de um e do mesmo rio…

Assim, o espaço e as possibilidades de desenhos transcendem a nós próprios. O espaço ou o desenho que fiz (projetei) não é só o que vejo ou que poderia ver, mas é o que todos os envolvidos neste espaço/desenho podem ver. A intersubjetividade espacializa-se nesta gama de possibilidades.

Minha principal indagação vem ao encontro da mutabilidade deste espaço doméstico.

Mutabilidade do espaço doméstico

É por este viés que reflito acerca dos diversos espaços que nos circundam. O espaço doméstico, o de nossa casa, é o mais comum e onde podemos nos deter por mais tempo. Minha principal indagação vem ao encontro da mutabilidade deste espaço doméstico. Sempre modificamos algo em nossa casa. É no livro A poética do espaço de Gaston Bachelard que percebo o quanto a casa é prenhe de efemeridades poéticas. É no âmbito doméstico que o espaço assume e reassume papéis, é (re)desenhado por corpos e trajetórias corporais são traçadas. É muito pretensioso ao arquiteto desenhar esses pormenores poéticos. Parece-me que, objetivamente, ao arquiteto cabe apenas a estrutura física do espaço; e não-objetivamente, ao arquiteto cabe desenhar as possíveis possibilidades que desencadearão os desenhos das trajetórias corporais no espaço. É nesta ação não-objetiva que entra os vividos de quem desenha/projeta. O espaço percebido pela imaginação não pode ser o espaço indiferente entregue à mensuração e reflexão do geômetra. Assim, o espaço é um espaço vivido. Ressalto que é vivido não em sua positividade, mas com todas as parcialidades da imaginação. Logo, o que experienciei com meu corpo serve como alicerce, como ponto de partida para se criar a possibilidade de outro corpo experienciar.

Tendo isto em mente posso retomar a memória de meu quarto com a janela que se abria para o córrego-vala e com assoalho de madeira. Aquela situação espacial é uma das primeiras que me vem à tona quando me pego a desenhar um novo espaço. A preferência pela madeira e por janelas amplas ficaram marcadas em meu corpo desde que foram experienciadas em minha infância e procuro ressemantizar aquele espaço em cada espaço que desenho. No entanto, procuro ensinar em um novo desenho como transpor o medo daquele canto escuro que fora o estúdio fotográfico de meu pai. É a volta daquele espaço de infância com uma nova roupagem e o convite a outras pessoas desenharem com seus corpos suas trajetórias e me mostrarem formas de vir-a-ser, fazendo com que, desta maneira, posso manter vivo em mim cada experiência por que passou meu corpo. Ressalto aqui que o corpo se desloca de uma experiência para outra experiência, somando experiências e marcando trajetórias existenciais.

Muitas indagações povoam minha mente quando penso desta maneira e ao tentar respondê-las o cansaço toma conta… Enfim, como posso ativar com meus vividos os vividos de outrem? Como posso incorporar os desenhos do outro no meu desenho? Que respostas o outro me dá ao desenhar com seu corpo uma trajetória existencial no espaço desenhado por mim?

É neste momento que penso em como os espaços estão por serem acabados, estão inacabados. Tal como a cidade de Tecla belamente descrita por Italo Calvino em seu livro As cidades invisíveis, acredito que cada espaço por que passamos tem como plano, como projeto, o desenho mutante das estrelas, onde nascem e morrem milhares delas todos os dias (ou noites?). Acredito que é difícil finalizar um espaço enclausurando-o num desenho final de relacionamentos, possibilidades e trajetórias… Desde o espaço doméstico de uma casa até a complexidade urbana de uma cidade pode-se ver o inacabamento. Identifico aí neste inacabamento a zona litorânea que quero estar para observar, para pôr entre parênteses, para realizar minha leitura fenomenológica.

Desvela-se perante meus vários sentidos possibilidades e convites de diversos pesquisares… Novos (ou velhos) ares de pesquisar aquilo que sempre pesquisei mas poucas vezes o observei da outra margem do rio.

Ábalos ressalta que o olhar fenomenológico não carrega consigo uma consistência temporal, mas uma intensidade do vínculo pessoal com o espaço como fenômeno do sentido (tanto emocional quanto intelectual).

Iñaki Ábalos no texto Picasso em férias: a casa fenomenológica de seu livro A boa-vida: visita guiada às casas da modernidade me faz pensar a respeito desta constelação como o projeto, como o planejamento de ações, um norteador da apropriação do espaço… Ábalos ressalta que o olhar fenomenológico não carrega consigo uma consistência temporal, mas uma intensidade do vínculo pessoal com o espaço como fenômeno do sentido (tanto emocional quanto intelectual). O sujeito protagonista seria, assim, um indivíduo diante de si mesmo e do mundo, um corpo sensível constituído através de sua experiência, vinculado, por meio da intenção, ao mundo e às coisas. Com isto, percebo que o tempo fenomenológico é um tempo lento e em suspensão, colocado entre parênteses, tornando-o também autoral e personalizado. É um tempo à margem de qualquer velocidade impulsionada quer pela nostalgia do passado ou pela incerteza do futuro.

A casa não vive somente no dia-a-dia, no curso de uma história, na narrativa de nossa história. É por meio dos sonhos que as diversas moradas de nossa vida se interpenetram e guardam os tesouros de dias antigos. Logo, quando, na nova casa, as lembranças das antigas moradas retornam, somos transportados a um país no qual vivemos fixações de felicidade. Desta maneira, somos reconfortados ao reviver lembranças de proteção. Lembranças do mundo exterior não têm a mesma tonalidade das lembranças da casa, e, ao evocarmos as lembranças da casa adicionamos valores de sonho. No espaço de meu quarto de infância onde havia minha escrivaninha posicionada sob a janela que se abria para o córrego-vala, o guarda-roupa com portas de vidro, minha cama e o aterrorizante estúdio fotográfico de meu pai feito com tecidos num canto escuro, observo a irracionalidade poética de um sujeito ocupar um espaço… O espaço fenomenológico constrói sua ideia através da excitação do ar, de uma ativação completa de sua inércia. O espaço deixa de ser compreendido como uma extensão neutra e transforma-se em um ente habitado por estímulos e reações e do nosso corpo entre eles. Desta maneira, qualquer objetividade é anulada, favorecendo uma presença protagonista polarizada pela revelação dos fenômenos físicos em interação com a própria subjetividade. O espaço passa a ser um contínuo umbral, uma transição na qual se regularizam os intercâmbios e se organiza a complexidade labiríntica.

 

OUTROS ARTIGOS DE RODRIGO GONÇALVES

 

Foto no destaque da página: Rudin House, em Leymen, nordeste da França, projetada por Herzog & de Meuron em 1997. Ao ler o artigo, nos lembramos desta imagem que de certa maneira representa um arquétipo da casa com telhado de duas águas, chaminé e janelas, lembrando um desenho infantil.

Tags: arquiteturadesigninterioresartigoRodrigo Gonçalvesarqsc artigoespaçoPerceber o Invisível: dimensões sensíveis de um corpo na arquitetura
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