O Museu Oscar Niemeyer (MON), no famoso Olho, abriga até 1º de agosto, em Curitiba (PR), a exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica” que reúne cerca de 400 trabalhos de Luiz Henrique Schwanke (1951-1992), uma parcela expressiva apresentada de modo inédito. A realização aproxima o MON e o Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke, que atua em Joinville por meio do instituto que leva o nome do artista joinvilense. No recorte curatorial da professora e doutora Maria José Justino estão trabalhos nunca expostos em Curitiba, onde Schwanke viveu e estudou entre 1970 e 1985. Formado em comunicação social pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), ele atuou no campo da publicidade, do teatro e criou trabalhos como ator e cenógrafo.
Entre as décadas de 1970 e 1980, constrói uma produção vasta e vigorosa, um legado composto por cerca de 5 mil peças entre desenhos, pinturas, instalações, esculturas e projetos que resultam em inúmeras exposições individuais, coletivas e salões. Suas obras, que lhe garantem cerca de 30 prêmios nacionais, integram acervos de museus do Paraná, Goiás, Minas Gerais, Rio de Janeiro, São Paulo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
Na apresentação do catálogo da exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica”, Maria José Justino escreve que Schwanke rompe com a representação clássica, quebra a imagem antropomórfica, suspende o gestual e, nas últimas obras, volta-se à construção, abraça a imagem da pop art e deságua numa poética original. “Em seu labirinto, não há lugar para repouso. O artista se faz nessa travessia, manipula a matéria e dela extrai e constrói sentidos. Brinca, desafia, domina e transforma a matéria. Instiga os críticos, que se mostram assombrados na inútil tentativa em enquadrá-lo: Neoexpressionista? Hiperrealista? Minimalista? Cinético? Conceitual? Nada disso e tudo isso. Schwanke está fora de gavetas. Faz parte daquele time que vai além de ideias. Na concepção de Merleau-Ponty, ele é um instituidor de matriz. Um ponto fora da curva.”
Além de trabalhos mais conhecidos do grande público, como os “Perfis” ou “Linguarudos” – os mais conhecidos, desenhos, pinturas, obras criadas com baldes, maletas, mangueiras e pregadores de roupas no varal, a curadora inclui a produção da fase minimalista com uma envergadura temporal que permite compreender o refinamento dos conceitos do artista que se dizia obcecado pelo claro-escuro em direta referência à história da arte.
Obras emblemáticas
Três trabalhos emblemáticos estão em Curitiba, a começar por “Apogeu do Claro-escuro Pós-Caravaggio”, criado em 1980 para a Galeria Sergio Milliet, da Funarte, no Museu Nacional de Belas Artes, no Rio de Janeiro. Pela primeira vez, Curitiba recebe a montagem da instalação “A Casa Tomada (de Júlio Cortazar) por Desenhos que Não Deram Certo e Apogeu do Claro-escuro Pós-Caravaggio”. A montagem na capital paranaense assume significação pois se trata do primeiro trabalho em que o artista utiliza a energia elétrica como matéria-prima. Nos desenhos, Schwanke retoma a obra de Canova, Leonardo da Vinci, Renoir, La Tour, e Caravaggio. A instalação é criada com 500 metros de papel branco e um velho projetor de cinema.
Os outros dois trabalhos que contemplam a energia elétrica são a instalação “Claro-escuro” (1990) composta de plotagem da obra “A Deposição de Cristo”, de Caravaggio, ferro, 24 spots de luz e 24 espetos de churrasco, e o “Sem Título” (1990), trabalho que ganhou o apelido de “Paralelepípedo de Luz”, detentor do Prêmio de Estímulo as Artes Plásticas SC em 1990 e apresentado pela primeira vez na emblemática exposição Panorama do Volume, no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), em 1990.
A seleção inclui também a chamada fase das revisitações, em que o artista descontrói a referência original de telas de Georges La Tour, Antonio Canova e Leonardo da Vinci, entre outras, adotando signos do design contemporâneo. O público também poderá apreciar desenhos e pinturas de diferentes fases, como os sonetos, os Cristos e os shorts.
Idealizado como uma proposta de land art, “Cobra Coral” é um trabalho emblemático, pelo lúdico, que volta a ser montado no MON. Criado em 1989 para ser colocado, entre outros lugares, na ilha Feia de Piçarras (SC), o mais alto possível, e na Lagoa da Conceição, em Florianópolis, é sua décima primeira montagem. Maria José Justino já tinha incluído a obra na exposição “O Estado da Arte – 40 Anos de Arte Contemporânea no Paraná (1970-2010)”, realizada no MON entre 2010 e 2011 e que lhe garantiu, pela curadoria, o Prêmio Maria Eugênia Franco concedido pela Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).
Um conjunto tão expressivo da produção do joinvilense que se alinhou a diferentes correntes e linguagens, da pop art ao neoexpressionismo, concretismo, construtivismo e ao minimalismo. Como poucos em Santa Catarina, embaralhou arte e ciência, tempo e espaço, luz e ausência, transparência e luminosidade.
Novas leituras sobre o legado
“Ao realizar a exposição, que é inédita e idealizada especialmente para o espaço do Olho, o MON reverencia esse artista pesquisador tão importante que, com seu trabalho, explorou magistralmente as mais diversas linguagens, o que faz com que sua obra permaneça tão atual”, afirma a diretora-presidente do Museu, Juliana Vosnika. “Ao visitar a mostra, o público terá a oportunidade de encontrar um conjunto de obras múltiplas que permitem não apenas contemplar, mas que instigam”, comenta.
Para Maria Regina Schwanke Schroeder, presidente do MAC Schwanke, a exposição “Schwanke, uma Poética Labiríntica” é um sonho realizado pela magnitude conceitual, pelo conjunto de trabalhos reunidos e pelas conexões que o artista tem com a cidade de Curitiba. “Estudiosa e parceira de nosso trabalho há bastante tempo, Maria José Justino ajuda a projetar o legado de meu irmão, amplia a compreensão sobre o seu pensamento artístico, propõe novas leituras e nos enche de entusiasmo para seguirmos adiante no propósito de manter a memória do artista, ser referência na arte contemporânea brasileira, investindo em instâncias educativas, acessibilidade, inclusão e a transformação das pessoas”.
Sobre o artista
Luiz Henrique Schwanke nasce em Joinville, em 1951, desde a tenra infância demonstra pendor artístico. Formado em comunicação social, vive 15 anos em Curitiba (PR), onde amplia conhecimentos e práticas em torno das artes visuais em favor de um pensamento inquieto e quase obsessivo sobre questões do claro-escuro. Dono de uma produção impactante que não se sujeita a uma única rotulação, conduz a carreira com profissionalismo, potencializa o saber jornalístico em seu próprio proveito, faz viagens internacionais de estudos, lê teóricos fundamentais. A partir de meados de 1980, quando volta a morar com a mãe Maria Francisca, em Joinville, dilui as fronteiras entre centro e periferia, demonstra que em movimento é possível estabelecer articulações potentes e obter reconhecimento nacional. Seu nome está inscrito na história da arte brasileira.
Sobre Maria José Justino
Mestre em filosofia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (1983), doutora em estética e ciências das artes pela Universidade de Paris VIII (1991) e com pós-doutorado na École des Hautes Études en Sciences Sociales (Paris/2008) vive e atua em Curitiba (PR), onde tem grande contribuição no campo das artes visuais. Seu vasto currículo aponta inúmeras curadorias, premiações e livros.
SAIBA MAIS SOBRE O MAC SCHWANKE
Sobre o MAC Schwanke
Criado em 2002, o Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke (MAC Schwanke), mantido pelo Instituto Schwanke, filiado ao Ministério do Turismo e ao Ibram (Instituto Brasileiro de Museus), tem o compromisso de zelar pela memória de Schwanke e oferecer possibilidades de aprimoramento intelectual em torno da arte contemporânea. Com esse fim, organiza seminários e encontros de discussão, cursos e palestras com pesquisadores, críticos e artistas.
Serviço
O quê: Mostra “Schwanke, uma Poética Labiríntica”
Quando: até 1º de agosto 2021, terça a domingo, 10h às 18h (ingressos e acesso às salas até 17h30. Quarta gratuita, 10h às 18h.
Onde: Museu Oscar Niemeyer (MON), rua. Mal. Hermes, 999, Centro Cívico, Curitiba (PR)
Quanto: R$ 20/R$ 10 (professores e estudantes com identificação; doadores de sangue; pessoas com deficiência; titulares da ID Jovem; portadores de câncer com documento)
Realização: Museu Oscar Niemeyer (MON) e Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Enrique Schwanke Schwanke (MAC Schwanke).
Fonte: com assessoria de imprensa.