Muitas em uma só, Anna Moraes, 32 anos, natural de Foz do Iguaçu (PR), hoje é uma cidadã de Florianópolis (SC), lugar onde dá a sua contribuição no campo da cultura, em especial nas artes visuais. Múltipla, conduz a vida no entre “a mãe de Clara” e agendas cotidianas de uma carreira profissional como artista, curadora, professora de desenho em ateliê livre, doutoranda em artes visuais no programa de pós-graduação da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e integrante do Nacasa Coletivo Artístico, espaço independente de arte.
As mais recentes conquistas tangenciam as imposições do tempo pandêmico. O primeiro lugar no Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea 2020 resulta numa exposição na Fundação Cultural Badesc, em 2021. No último edital da mesma instituição, em 2020, emplaca as curadorias das mostras “Retratos Fantásticos”, a primeira individual de Carol Krügel, e “Pedra-carne”, de Meg Roussenq, que está prevista para o segundo semestre de 2021. O prêmio e a mostra da Carol foram montadas no espaço, porém obtiveram visitação híbrida, em certos momentos só on-line e, em outros, de modo presencial.
Como artista, Moraes participou da Bienal Internacional de Curitiba (2019) e foi selecionada em editais como Arte como Respiro do Itaú Cultural 2020, Lona Galeria (SP-2020), Arte Londrina 8 (2020) e Salão de Navegantes (2019). Em campo expandido, suas pesquisas artísticas associam o desenho contemporâneo ao espaço e a paisagem. Por meio de linhas, traços, fios e pontos geográficos, investiga e mapeia lugares no mundo a partir de um itinerário em que segue o próprio nome, como ocorre na série “Territórios Anna”.
Trabalho de fina tessitura
Criteriosa como curadora, sem alardes, ela faz um trabalho de fina tessitura, monta estratégias capazes de dar oportunidade a jovens artistas e, ao mesmo tempo, aprofunda-se na trajetória de já consagrados, como é o caso de Meg Roussenq. Vital a sua atuação num cenário de poucos profissionais nesta atividade, porque a história das exposições de Santa Catarina revela baixa renovação nos nomes de curadores.
Para Moraes, um bom artista é aquele que produz algo consistente, ou seja, adota práticas, pesquisas e percursos que se desdobram em diferentes linguagens e resoluções. É um ser que se atualiza, renova questões e instiga a pensar. A ela interessam os artistas que insistem em um tema, que repetem e esgotam as possibilidades de trabalhos. Suas preferências se estabelecem pela análise da apresentação, das soluções, da montagem, do suporte, dos materiais e dos discursos.
Insistência, persistência, um olhar sensível e atento ao mundo, “um olhar presente, atento e presente” são atributos fundamentais. Trata-se, segundo ela, de uma atividade que pede também generosidade e o desejo de ir além do circuito artístico. “Um bom artista, que está preocupado não só com a criação, mas também com a responsabilidade da circulação e recebimento do trabalho por outras pessoas.”
Nesta conversa, Anna Moraes reflete sobre a própria trajetória na sua multiplicidade de ações desenvolvidas “num contexto excludente e violento para artistas periféricos, artistas mulheres, artistas mães”. Além disso, um país dilacerado pelo luto de meio milhão de pessoas, em que a arte e a cultura são criminalizadas pelo “desgoverno”, como classifica.
Não é fácil ser um “artista-entre”, como se define, mas aos poucos, dribla as dificuldades para configurar o seu nome na estirpe de curadores de Santa Catarina.
Quem é Anna Moraes?
Anna Moraes – É como decidi assinar meu nome, escolhendo o primeiro nome e o primeiro sobrenome do meu nome completo. Na escola da minha filha Anna Moraes é a mãe da Clara. E para além dessa definição que toma boa parte do meu tempo, energia e dedicação, Anna Moraes é também artista visual, professora de desenho em ateliê livre, doutoranda em artes visuais no Programa de Pós-graduação em artes visuais da Universidade do Estado de Santa Catarina (Udesc) e integrante do Nacasa Coletivo Artístico, espaço independente de arte localizado em Florianópolis, onde atuo na gestão da galeria e comecei a pensar em práticas curatoriais e curadoria.
O que é dominante no percurso e no fazer artístico: a criação propriamente dita ou a curadoria? Se tivesse que optar entre uma atividade ou outra, o que escolheria?
Anna – Essas atividades se complementam em minha produção e pesquisa. Eu tenho formação em artes visuais – bacharelado (2009-13) pela Udesc, onde também cursei o mestrado na linha de teoria e história da arte (2017-19) com orientação da professora Rosângela Cherem, e atualmente faço doutorado na linha de processos artísticos contemporâneos no mesmo curso e instituição, orientada pela professora Sandra Fávero. Como artista e pesquisadora me interesso pelo desenho contemporâneo, principalmente no desenho em relação ao espaço e à paisagem. Ministro cursos livres de desenho em meu ateliê, e a troca com alunos também é essencial para a produção artística e pesquisa.
Como curadora, gosto de estudar trajetórias de artistas, acompanhar o processo de criação e pesquisar linguagens, suportes e conceitos que partem do desenho e se manifestam de diferentes maneiras em diferentes produções. Se tivesse que optar, seguiria trabalhando apenas como artista visual, mas sei que não estaria realizada desta forma, sinto que a curadoria e as aulas são desafios enriquecedores que me fazem pensar e repensar em muitas questões a partir dessas trocas.
O que é fundamental hoje para ser um bom artista?
Anna – É difícil responder o que seria um bom artista, não é? Mas a gente sabe quando nos deparamos com um bom trabalho: quando ele é consistente. Eu me interesso por produções e práticas que apresentam pesquisas e percursos consistentes, que vão se desdobrando em diferentes possibilidades de resoluções ou que instigam a pensar como será o próximo trabalho, ou como foi o anterior. Tenho interesse por trajetórias de artistas que insistem em um tema, que repetem e que esgotam as possibilidades de trabalhos. Gosto de olhar para as soluções encontradas, nas decisões tomadas, principalmente na apresentação, na montagem, no suporte e nos materiais utilizados, ou até discursos. Tudo isso – a insistência, a persistência, a trajetória – aliado a um olhar sensível e atento ao mundo ao redor, um olhar presente, atento e presente. Eu tenho como exemplo o artista Diego de los Campos, com quem tive a oportunidade de trabalhar conjuntamente em ateliê nos últimos anos e se tornou um mentor e grande amigo. Além de produzir e desdobrar trabalhos consistentes em diferentes linguagens e suportes, sempre atualizando e renovando questões, Diego orienta processos de outros artistas, ensina jovens artistas a reconhecerem a potência de seus trabalhos com muita generosidade no olhar, além de propor poéticas contemporâneas que chegam em pessoas que não são só do circuito artístico. Tudo isso exemplifica um bom artista, que está preocupado não só com a criação, mas também com a responsabilidade da circulação e recebimento do trabalho por outras pessoas.
Qual o papel da arte num tempo disruptivo, num tempo de morte? A arte serve para o que diante de tantas mortes e sofrimento?
Anna – Essa pergunta ainda me inspira muita reflexão, e penso que ainda não tenho uma resposta bem formulada para ela. Lembrei de Paulo Bruscky, e só a parte do enunciado “A arte serve para que…” da placa que ele carregava no peito já me deixaria sem saber o que responder. A arte acompanhou a história da civilização como registro ou como sintoma de um tempo. Passou por guerras, pestes, sistemas de governo, ditaduras, descobrimento e redescobrimento, e se reinventa o tempo todo. Lembro que no começo da pandemia houve uma enquete em que a profissão artista esteve entre as profissões mais dispensáveis para o momento. O setor cultural foi o primeiro a parar, e em muitos lugares ainda nem voltou ou segue resistindo de forma precarizada ou adaptada como pode aos meios virtuais. Agora, somando isso ao momento lamentável que vivemos, de desgoverno e com quantidade de mortes alcançando níveis inimagináveis, eu gostaria que existisse uma resposta simples dentro da arte para resolver isso. A arte nos constitui em subjetividades, sugere novas formas de criar um mundo, ou como escreveu a artista Louise Bourgeois “a arte é uma garantia de sanidade” para nós que seguimos vivos. Chegamos ao ponto que todos nós perdemos alguém querido ou conhecido no último ano. E da experiência de perda que tive, seguir criando e insistindo em arte diariamente foi o que me ajudou a resistir ao vazio.
Em 2020, você conquista o Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea que resulta numa exposição na Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis. No julgamento do edital da mesma instituição, são selecionadas para 2021 as mostras “Retratos Fantásticos”, de Carol Krügel, e “Pedra-carne”, de Meg Roussenq que têm a sua curadoria. A que atribui esses resultados?
Anna – As exposições da Carol Krügel e da Meg Tomio Roussenq foram selecionadas antes, no edital de 2020 no começo do ano, mas só estão sendo mostradas em 2021 por causa da pandemia. “Pedra-carne” teve curadoria conjunta com a Rafaela Maria Martins. Sem ela, não seria possível adentrar na produção da forma merecida, pois Meg apresenta questões muito profundas que foram apreendidas aos poucos. Foi um encontro muito feliz entre nós três. Em 2018, começamos a visitar o ateliê e a realizar uma série de entrevistas e seleção dos trabalhos que entrariam na exposição, até que conseguimos chegar nesse título após muito debate. A mesma proposta foi selecionada na Rede Sesc de Galerias de Santa Catarina, na Fundação Cultural de Navegantes e na Fundação Badesc (no segundo ano de envio), e ficamos felizes com esses resultados. Com a pandemia e suspensão das atividades presenciais, a exposição deve ocorrer neste semestre na Fundação Badesc. Estamos ansiosas, é uma mostra instigante.
A exposição da Carol aconteceu também a partir de um encontro feliz. A Carol me procurou para melhorar seu portfólio, e eu fiquei encantada. Ela tinha vontade de realizar a primeira individual especificamente na Fundação Badesc, então começamos a pensar juntas o projeto. Pude acompanhar o trabalho ativamente pois orientei a Carol na Residência Artística do Coletivo Nacasa no verão de 2020 em que ela participou, e tivemos troca e contato diário por dez dias. Quando saiu o resultado da seleção da Fundação ficamos felizes, a Carol tem um trabalho lindo, rico em pesquisa, muito potente e inspirador, foi merecido.
Sobre o Prêmio Aliança Francesa, fui finalista em 2019 e 2020, e foi uma surpresa estar ali no segundo ano pois mostrei portfólios diferentes nas seleções. Em 2019, apresentei uma produção em desenho na qual investigo o campo expandido da linha no espaço. E em 2020 apresentei quase toda a produção que fiz ao longo da pandemia e em diferentes suportes. Sou uma jovem artista com apenas dez anos de atuação e com uma filha pequena que me acompanha na trajetória. Esses dias comentei em um grupo de artistas que sou uma “artista-entre”: entre as atividades cotidianas de mãe solo eu produzo, penso um trabalho, escrevo um texto, desenho uma expografia. Penso que esses resultados são decorrentes de um trabalho diário em ateliê e uma insistência em seguir produzindo como artista, e tenho sorte em poder atuar colaborativamente com outros artistas, como professora, como cogestora do coletivo ou como curadora.
Meg Roussenq é uma artista com carreira consolidada, com mais de três décadas de atuação. Carol Krügel é uma desenhista que faz sua primeira exposição individual. No arco temporal entre as duas atuações, o que é possível depreender sobre o seu pensamento de curadora?
Anna – Aprendi muito com as duas exposições. Se por um lado a Meg me instiga a pensar em como manter ativa essa trajetória de três décadas de produção, a Carol me faz pensar em como um trabalho de uma jovem artista bem realizado e bem formulado é bem recebido pelo público e deve seguir alçando voo.
Na produção da Meg, nos debruçamos sobre muitos trabalhos, sobre questões do passado que retornam e persistem na atualidade de forma madura, e os desdobramentos que surgiram nesse tempo. Não só as obras mas também os registros: a adaptação do analógico para o digital, as produções que incorporam técnicas tradicionais e de tecnologia, além de resultados muito consistentes conceitualmente. A Meg tem um vasto caminho, conhecimento e bibliografia muito atualizados, estudou muitas técnicas, leu muito e tem uma mente e energia muito ativas, é uma sorte poder trabalhar com ela, eu aprendo muito.
Na exposição da Carol a consistência e insistência também estão presentes. Para criar seus personagens, ela pesquisa na história da arte, nas fotografias e costumes antigos, nos registros da época. É um trabalho bem consistente. Embora uma jovem artista, ela vem pesquisando, desenhando e produzindo há alguns anos. Eu aprecio uma pesquisa artística que vai adentrando em camadas de produção, de tentativas, de decisões e desvios e de muita investigação.
Suas curadorias são marcadas por uma delicadeza, uma simplicidade na montagem e até mesmo no modo aparentemente despretensioso das linguagens artísticas abarcadas. Simples, porém sofisticado – até mesmo pelo frescor da produção. Estou certa?
Anna – Eu prezo pela simplicidade na apresentação, na montagem, nas linguagens, nos procedimentos e até nos materiais que utilizo. Mas é uma simplicidade que vem de muita reflexão, escuta e escolhas. Os trabalhos curatoriais que realizei e participei até o momento surgiram de aproximações com os artistas a partir de diálogo e observação. É sempre uma troca. Eu me interesso pelo desenho, tanto em minha prática pessoal como na produção de outros artistas, e gosto desse caráter despretensioso que ele apresenta. Mas por ser despretensioso, gosto de olhar para a potência que ele carrega. Cada artista com quem trabalhei me instigou a pensar e a olhar de uma forma para cada produção, e é algo que faço com cuidado, pois para mim isso é adentrar em um terreno íntimo e pessoal. Eu tento escutar cada processo, escrever a partir dessa escuta e sempre estar em diálogo aberto com o artista para opinar também no trabalho que estou realizando. Por isso é sempre uma troca. E quando este diálogo é aberto e franco, a apresentação se torna simples, porém sofisticada, como você coloca.
O que deplora no circuito artístico de Santa Catarina e o que enaltece? O que é mais difícil neste universo?
Anna – Conversando com alguns artistas espalhados pelo Estado, e participando de discussões em outros Estados de forma remota desde o começo da pandemia, vejo que o que poderia ser considerado negativo aqui acaba ocorrendo em todo o Brasil. É uma queixa meio geral. Os pontos negativos são os mesmos: como artistas e trabalhadores da cultura, sentimos falta talvez de mais incentivo e apoio, de políticas públicas efetivas que deem conta de oportunidades de trabalhos artísticos e culturais para mais artistas, esbarramos com o excesso de burocracia para viabilização de projetos e às vezes até negligência nos trâmites e orientações por parte de instituições, fundações e secretarias. A pandemia evidenciou mais ainda que a nossa área vem sofrendo um desmonte assustador e sem muita perspectiva de melhora. Por outro lado, como ponto positivo, vejo que o Estado tem artistas, trabalhadores de cultura, projetos, coletivos e setoriais incríveis espalhados por todo o território, que trabalham com dedicação e com propostas e iniciativas muito boas, muitas vezes sem apoio e sem remuneração adequada. Nós somos o circuito também, não é? Me parece que seguir produzindo e atuando nessa área já é o desafio, o mais difícil nessa área, mas é uma forma de resistência. E mais, não é fácil viver de arte quando isso está vinculado à fonte de renda, e depois desse ano de 2020 nos sentimos muito desamparados com tudo.
Como as pautas emergentes, novas plataformas discursivas, a revitalização nos movimentos femininos e decoloniais operam na sua atuação?
Anna – Atuando no circuito artístico em Santa Catarina, sendo mulher e principalmente mãe, às vezes sinto que seguimos batendo em algumas teclas em 2021 para conquistarmos um espaço, sermos notadas ou termos o trabalho avaliado sem que essas definições não sobreponham nossa produção. No meu trabalho artístico tenho me dedicado a uma pesquisa exclusivamente focada em questões, desejos e interesses que me afetam e me tocam, e no trabalho de outros artistas é tudo isso que me interessa também. Mas foi só recentemente que comecei a estudar sobre movimentos feministas nas artes visuais e estudos e práticas decoloniais, e que tem me feito olhar com mais cuidado para o contexto que estamos inseridos, um contexto excludente e violento para artistas periféricos, artistas mulheres, artistas mães. Isso tem me feito refletir com responsabilidade e reconhecer até que ponto ocupo um lugar de privilégio e até que ponto preciso seguir insistindo para minimamente ocupar alguns lugares dentro de um sistema e criar aberturas para que outros ocupem também. É bem complexo, mas essas pautas são urgentes e elas partem desse reconhecimento de onde estamos inseridos para começo de reflexão e ação.
No seu novo livro – “O que Vem Depois da Farsa?”, o crítico Hal Foster escreve que se incomoda com a disseminação da palavra curadoria, “um item assíduo das listas anuais das piores palavras”. Ele menciona uma “nova estirpe de organizadores de exposições contemporâneas”. Lamenta de certo modo o panorama em que alguns artistas atuam como curadores e curadores que se comportam como artistas e considera deprimente curadorias com pouca relação com a erudição, a crítica e a ausência da noção de serviço público. Há algo a contrapor?
Anna – Eu não li esse livro ainda para poder fazer uma reflexão mais elaborada. Mas quanto ao panorama das curadorias que ele cita imagino que esteja analisando um contexto norte-americano e europeu que é inegável que ressoe aqui, só penso até que ponto a falta de erudição que ele lamenta seria estratégia para atingir um público mais amplo, desprovido da erudição que ele coloca, ou se realmente a arte vem sendo orientada a preencher demandas de uma indústria cultural que trabalha apenas motivada por um mercado de consumo, de espetáculo. Eu estou começando a estudar curadoria e práticas curatoriais, isso ainda é recente para mim. Ainda assim, eu me interesso por práticas artísticas e curatoriais que elaboram uma pesquisa aprofundada de processos e conceitos, que incitam a desvelar camadas e adentrar em questões e entendimentos que não ficam só na superfície do trabalho ou da produção apresentada. Nos textos curatoriais que escrevi, sempre tive como critério que fossem textos acessíveis, independente do trabalho ou do artista com quem trabalhei. Esse critério tem como objetivo alcançar pessoas que não frequentam museus e galerias, eu gostaria que elas pudessem se aproximar e se sentir à vontade e não constrangidas por “não entender de arte”. E por sorte tive retornos incríveis, tanto de alunos de escola rural no interior do Estado como na galeria do vão do Mercado Público em Florianópolis. Então imagino que o Hal Foster esteja falando de um outro panorama que talvez eu não tenha acesso ainda, eu não entendo de grandes cenas ou mercados internacionais de arte, mas estou na universidade cursando um doutorado onde se faz pesquisa de qualidade e relevante, e espero que a erudição na arte não seja apenas elitista, mas que incite reflexão em quem também não está nesse circuito.
Como situa o Nacasa Coletivo Artístico, que funciona em Florianópolis (SC), numa perspectiva de construção de uma história das exposições em Santa Catarina. Envolvida na gestão e curadoria da Galeria Nacasa, como funciona o espaço, quem exatamente assegura a sua funcionalidade?
Anna – O Nacasa é um espaço de ateliês de artistas que sempre ofereceu cursos e oficinas na área de artes e ilustração, além de receber integrantes de outras áreas ao longo dos anos, fazendo desse espaço um lugar de trocas e aprendizados. O coletivo foi formado em 2010 e sempre teve um espaço destinado à galeria, onde os artistas da casa e convidados realizaram exposições quase que mensalmente, abrindo a casa ao público e mantendo uma agenda ativa constante. Eu entrei no coletivo em 2015, e no ano seguinte comecei a atuar na galeria junto do Diego de los Campos, e foi uma experiência incrível, tanto para minha produção artística quanto em poder conhecer diferentes artistas e suas produções. O coletivo é um espaço independente e sem financiamento externo, e, por ser assim, sempre tivemos liberdade em atuar ativamente no circuito artístico e propor ações, exposições e eventos. Atualmente participam do coletivo Diego de los Campos, Meg Tomio Roussenq, Leandro Lopes e eu, e tivemos que nos adaptar ao ano de 2020, passando a propor atividades de forma virtual e repensando nosso espaço expositivo e atuação. Foi importante poder contar com cada um deles nesse último ano. Decidimos seguir atuando juntos como um coletivo e no meio de tudo o que vem acontecendo conseguimos realizar uma residência artística virtual gratuita para 20 jovens artistas do Estado, contemplado pelo prêmio Elisabete Anderle no eixo pesquisa/formação. Estamos inaugurando um novo espaço expositivo chamado Jardim Remoto e seguimos produzindo em nossos ateliês. Acredito que o Nacasa seguirá atuando no circuito de Santa Catarina por bastante tempo ainda.
Néri Pedroso – Jornalista, integrante da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA).