Sexto artigo da arquiteta Maria Pilar Arantes, que atualmente mora na Espanha onde cursa História da Arte. Pilar é colaboradora do portal ArqSC para o qual escreve apontando seu olhar para o país. Pós-graduada em Arquitetura e História das Cidades pela Universidade Federal de Santa Catarina e fundadora e diretora do Centro de Artes e Design (ww.centrodeartesedesign.com), um centro de pesquisa, formação e difusão do design de interiores e das artes, em cujos cursos já se formaram, desde 1999, mais de 5 mil pessoas. É escritora e registra suas viagens por meio de fotografias.
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O Renascimento é o período histórico que sucede a Idade Média. Se considera que a fase de sua definição até concreção se dá entre os séculos XVI e XVII, porém, como acontece com as artes em geral, seus precedentes se encontram nos séculos XV e até no XIV. A arquitetura renascentista na Espanha teve suas peculiaridades e seguiu um rumo próprio em sua fase de afirmação, determinando nomes para cada fase de seu desenvolvimento de acordo com suas características estéticas e construtivas.
Em sua primeira fase, a arquitetura renascentista na Espanha aparece com o denominado estilo Reis Católicos, que tem características do gótico em sua estrutura, porém começa a revestir-se de elementos decorativos profusos e detalhados. O estilo Reis Católicos recebeu outras duas denominações válidas na história da arte espanhola (mas também motivo de discórdia entre os historiadores): o Gótico Isabelino e o estilo Plateresco. O Gótico Isabelino, ou simplesmente Isabelino, foi a denominação dada pela própria Rainha Isabel, que governou entre 1474 a 1504. Este estilo era muito rebuscado, recebendo adornos que lembravam os trabalhos feitos em prata repuxada, por isso também recebeu o nome de estilo Plateresco. É considerado um período de transição entre o Gótico espanhol e o Renascimento espanhol.
A chave da mudança que ocorre no período denominado Renascimento está no desenvolvimento de uma nova visão holística. As ciências, impulsionadas pela revalorização da antiguidade greco-romana (seus filósofos e suas artes) avançam de tal maneira que atingem todas as demais áreas da vida humana.
O uso de novas máquinas impulsiona o desenvolvimento econômico. As novas tecnologias permitem viagens em barco e descoberta de terras, cujo confronto com costumes e populações no novo mundo corrobora para o questionamento de dogmas religiosos. Inicia-se uma forte crise no seio da Igreja Católica, que culmina na Reforma Protestante e na Contrarreforma, alterando definitivamente a expressão artística na arquitetura e nas artes —o gosto pela estética clássica vindo de Itália, também conhecido como Classicismo, também permite que apareça a figura do mecenas, o patrocinador, que financia as artes independente da Igreja —surge o artista autônomo.
Espanha ainda tem mais uma peculiaridade. Sendo um período de descobertas de terras e conquista de novas colônias no ultramar, aumenta a necessidade de defesa de sua costa; é impulsionada pelo emprego da artilharia, levando à construção de fortes de defesa com características em sua arquitetura que passariam também aos palácios, às muralhas das cidades e às edificações que fossem construídas no perímetro da muralha —surgem as “Ciudadelas”, ou “Baluartes” —recinto fortificado dentro ou fora de uma cidade com a função de defesa ou refúgio. O elemento arquitetônico mais marcante é a construção dos muros inclinados e a colocação de “bastiões” —duas faces que sobressaem da muralha em forma angular, desde a qual se usava de local de disparo da artilharia.
A segunda fase da arquitetura renascentista espanhola desenvolve-se na segunda metade do século XVI e é conhecido como purismo. É caracterizada por uma maior austeridade decorativa, limitada a alguns elementos concretos, geralmente de inspiração clássica. Há um certo cansaço da exuberância decorativa. Além disso, a arquitetura italiana e as formas clássicas são agora mais conhecidas. O purismo é liberado das convenções góticas, para entrar no Renascimento pleno. Os arcos-plenos decoram as fachadas, e a decoração é reduzida às portas e janelas. Os edifícios adquirem uma aparência mais serena, harmoniosa e equilibrada.
A terceira fase da arquitetura renascentista espanhola foi também conhecida por “estilo Herreriano” devido ao sobrenome do arquiteto Juan de Herrera, responsável por levar a cabo a construção do Palácio El Escorial (de 1563 a 1584), construído para ser a residência oficial dos reis, e que influenciou a arquitetura nobre espanhola a partir da segunda metade do século XVI. O estilo do Paláio El Escorial é caracterizado pela predominância de elementos construtivos, ausência decorativa, linhas retas e volumes cúbicos. Formas geométricas simples, pirâmides, cubos e esferas dominam a planta. E a horizontalidade predomina, quebrada apenas pelas torres de esquina e cúpulas da basílica. Os telhados são cobertos com ardósia. A planta se assemelha a uma grade, embora na realidade consista em vários retângulos.
O estilo Herreriano foi especialmente ativo até meados do século XVII, embora coexistisse — como sempre com todas as tendências artísticas — com as formas mais coloridas do classicismo renascentista, e com as primeiras manifestações barrocas. E junto com o Plateresco, o estilo Herreriano foram as manifestações artísticas do Renascimento tipicamente espanholas.
O seguinte período da história das artes na Espanha anunciava a arte Barroca, impulsionada pela Contrarreforma da Igreja Católica, que também teria suas próprias características distintas de outros lugares da Europa, numa Espanha ainda muito religiosa. Mas isso é tema para a próxima postagem…
Fonte das imagens
Imagens: 1, 2, 3, 4, 6, 7, 8, 9 – Maria Pilar Arantes
Imagens: 5, 10, 11, 12, 13 – ©Wikipédia.