Falar sobre floresta é um ato político neste momento histórico de destruição que estamos passando. Olhar para este tema e representá-lo é uma prática que acompanha a produção artística de Juliana Hoffmann há tempo e esta semana ela nos brinda com a exposição “Sobre Viventes”, onde expressa de forma potente a vida e a morte da floresta, provocando uma reflexão sobre esses tempos sombrios. A mostra abre dia 10, terça-feira, às 19h na Helena Fretta Galeria de Arte.
O tema floresta inquieta a artista, que é sensível as questões da natureza e traz para a cena artística caixas de luz, pinturas com tinta acrílica sobre tela, fotografias impressas em caixas de luz, múltiplos com impressões em fine art e sobre acrílico.
Publicamos com exclusividade texto da curadora da exposição, professora doutora da UDESC, Rosângela Cherem.
“Juliana Hoffmann (Concórdia, SC- 1965, vive e trabalha em Florianópolis) apresenta trabalhos concebidos para o ambiente expositivo, estabelecendo uma interlocução com o espaço como um site specific. Mas eles também estão relacionados a um modo de pensar a natureza e a devastação ambiental, sendo que a ausência humana serve menos para assinalar um lugar intocado e mais como uma dimensão orgânica que sobrevive sob ameaça e risco de extinção. Conseguirão estas formas de vida se recuperar antes de seus destruidores? Ou serão estes que acabarão primeiro, enquanto aquelas irão se refazer?
A composição de luz e sombra oferece uma espécie de desafio pictórico, produzindo jogos de aproximação e distância, profundidade e superfície, opacidade e transparência. Cada obra dá a ver o gesto refeito de quem borda e desenha. Através de pontilhados e perfurações, linhas e traçados surge a figuração de florestas noturnas, cujos troncos e galhos compõem estranhas torções. Árvores que respiram pelos poros, marcadas por pequenos pontinhos, compõem um cenário por onde deslindamos perigos. Luzes misteriosas vindas de um fundo trazem tons de amarelo, azul, laranja, verde e rosados.
Trata-se de três grandes blocos: pinturas com tinta acrílica sobre tela, fotografias impressas em caixas de luz, múltiplos com impressões em fine art e sobre acrílico. Em todos esses casos, persiste o paradoxo de encarar o peso de um tema e a leveza de suas soluções, reconhecíveis também no vídeo projetado na parede externa da galeria e na mesa destinada ao uso interativo dos espectadores.
Para a artista, o cerne deste conjunto, o coração a partir do qual todos os trabalhos se ramificam consiste numa caixa de luz que mostra a página de um livro e guarda o segredo de uma fatura em derivação. Primeiro uma árvore é fotografada, depois essa imagem é impressa em pequeno tamanho, por fim a superfície é envernizada, perfurada, costurada. A imagem, da imagem, da imagem, eis como comparece a forma deslocada, a metamorfose e a sobrevida”.
A mostra fica aberta a visitação até 28 de setembro.