Pesquisa realizada pelo CAU/BR em 2016 demonstra que 85% dos lares e das cidades brasileiras são construídas sem supervisão ou auxílio de um profissional arquiteto-urbanista ou engenheiro. As causas deste triste cenário são muitas, como a baixa capacidade de financiamento das famílias, a burocratização das instâncias de regulação urbanística e edilícia, o alto custo relativo da terra, da matéria prima e dos profissionais, entre outros.
Destas diferentes explicações, uma no entanto, nos toca mais diretamente. Não é de hoje que movimentos sociais, estudantes e profissionais progressistas, apontam outra barreira: o percurso de formação dos arquitetos e urbanistas dificilmente contempla um vínculo concreto entre os conteúdos transmitidos em sala de aula e a realidade precária da maior parte dos lares brasileiros. Evidenciam-se as fragilidades na capacitação profissional para o enfrentamento da irregularidade fundiária, da precariedade habitacional, da informalidade edilícia, da ausência ou baixa qualidade da infraestrutura urbana básica, entre outros. Situações que longe de serem exceções, perfazem a maior parte do espaço urbano produzido no país nas últimas décadas.
A dura realidade urbana brasileira impõe às Escolas de AU a criação de formas renovadas de ensino-aprendizagem capazes de valorizar a extensão universitária, o ensino e a produção do conhecimento para a transformação da realidade, pautada em princípios tais como: a relação indissociável entre a teoria e a prática; a abordagem crítica da arquitetura e urbanismo; e a participação ativa junto às comunidades e movimentos sociais, sem deixar de lado a preocupação de fomentar uma formação técnica, científica, ética e humanista consistente.
Quais tipos de vivências, de práticas e de trabalhos são necessários para forjar um outro arquiteto-urbanista, consciente, crítico e apto a enfrentar as principais mazelas que tocam nossa sociedade?
Da procura por mudanças nos modos tradicionais do ensino e práticas em AU surgiram as experiências pioneiras, como aquela realizada pela Universidade Federal da Bahia (UFBA) que lançou em 2013 a primeira Residência em AU e Engenharia no país, com enfoque em ATHIS e Direito à Cidade. Destacamos também a Residência voltada para o Planejamento e Gestão Urbana desenvolvida pela FAU-USP entre os anos 2015 e 2016. Outras iniciativas, mais recentes, também podem ser citadas: UnB, UFPB, UFPel, PUC-Campinas, entre outros.
Estas Residências em AU têm demonstrado uma capacidade de transformar não somente o percurso de formação dos profissionais, mas também o modo de funcionamento e organização das próprias instituições de ensino, que absorvem assim um dispositivo de educação e formação permanente, não somente para seus estudantes, mas também para o corpo docente e suas práticas pedagógicas e acadêmicas.
Mas caberia uma Residência em AU na UFSC?
É na procura por responder esta questão que várias instâncias representativas do Curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC estão organizando o Seminário de Residência em Arquitetura e Urbanismo, que acontecerá nos dias 9 e 10 de março.
Este evento surge em um contexto de reformulação do curso de Arquitetura e Urbanismo da UFSC, que passa por um processo de revisão de seu currículo, que em 2020 completa 24 anos de vigência. Tais mudanças estão lastreadas na crítica a estrutura curricular atual, compreendida como o resultado de uma fragmentação de conteúdos, da sobreposição desarticulada e pouco orgânica das disciplinas, do isolamento das problemáticas enfrentadas em face das demandas concretas e urgentes de nossa sociedade, entre outros.
Consideramos que é um momento propício para discutir as possibilidades da Residência em AU na UFSC e as estratégias para a sua implementação a partir da troca de experiências em Residência e ATHIS existentes no país.
O Seminário é uma realização fruto da parceria entre o Departamento de Arquitetura e Urbanismo da UFSC e o IAB/SC, com o patrocínio do CAU/SC e o apoio de entidades locais. O evento tem por objetivo fomentar a discussão da Residência em Arquitetura e Urbanismo por meio de oficina e palestras com diversos expoentes que tratam sobre o tema Residência Acadêmica e a Função Social da Arquitetura no cenário nacional.
Para mais informações, acesse aqui.
Fonte: Grupo PET/Arquitetura UFSC
Programa de Educação Tutorial (PET)
O PET realiza atividades de ensino, pesquisa e extensão com o objetivo de aprimorar o curso de graduação em que se insere. Entre os objetivos destaca-se a formação ampla dos alunos de graduação envolvidos direta ou indiretamente, estimulando a fixação de valores que reforcem a cidadania e a consciência social. O PET foi criado em 1979 e atualmente está vinculado à Secretaria de Educação Superior (SESu) do Ministério da Educação (MEC).
O Grupo PET/Arquitetura da UFSC é um PET de grande renome no Brasil e um dos mais antigos da universidade. Foi criado em 1992 e já envolveu diversos petianos ao longo da sua história. Atualmente o grupo conta com 12 petianos bolsistas e 2 não bolsistas, além de diversos graduandos voluntários. É coordenado por um tutor, o Professor Samuel Steiner dos Santos, e possui 7 professores orientadores, de diversas áreas do conhecimento.