Em tupi-guarani, Mairarê significa ‘o amanhã’ e com este título a arquiteta Gabriela Kratz aglutina seus desejos na ressignificação da difícil e intensa relação entre o homem e o meio ambiente em seu trabalho de conclusão do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade do Vale do Itajaí (Univali). “O projeto arquitetônico de um instituto de recuperação da fauna e da flora pós queimadas do Pantanal buscou reconstituir a simbiose brasileira, calcado na sabedoria de nossos povos originários”, diz a arquiteta que venceu, com o projeto, a 9ª edição do Prêmio Saint Gobain AsBEA de Arquitetura, na Categoria Acadêmica, Projeto Acadêmico.
O orientador foi o professor Eduardo Baptista Lopes, do Núcleo de Concursos de Projeto (NCPro) da Univali. Antes desta premiação, o projeto levou o 2º lugar na terceira edição do Prêmio Jovem Talento da Arquitetura (JTA), concurso organizado pela empresa Minimum, que fomenta a criatividade e o desenvolvimento acadêmico e profissional dos estudantes e recém-formados.
O projeto arquitetônico na cidade de Corumbá, no Mato Grosso do Sul, contempla áreas de hospedagem, hospital veterinário e um instituto de cultura e tradições indígenas. “É um projeto que vem como contraponto da realidade que o Brasil se encontra, buscando novas formas de se apropriar do patrimônio cultural e natural, vindo como respostas para as queimadas e desmatamento ocorridos em 2020/2021”, argumenta Gabriela.
OUTROS PROJETOS CATARINENSES PREMIADOS
Texto escrito pela arquiteta
O instituto foi proposto no Pantanal por ser tratar do menor bioma do país e o mais afetado pelas queimadas no ano de 2020 e 2021, tendo uma grande perda das suas espécies endêmicas, além de estar alinhado com a Agenda 2030, da ONU, através dos 17 ODS, amplamente aplicados em diversas escalas com foco no desenvolvimento sustentável da vida na água e vida na terra.
O projeto deu ênfase na vida da água e vida terrestre, na geração de empregos, educação, produção de alimentos sem agrotóxicos, tratamento da água da chuva, na promoção da igualdade, recuperação e preservação do patrimônio natural, redução do aquecimento global, limpeza dos rios e justiça inclusiva de todos, dando suporte para preservar o grande objetivo que é a fauna e flora do país.
O Instituto Mairarê foi proposto em um terreno de 50.000 hectares degradado pelas queimadas de 2020, permitindo a recuperação da mata e a soltura dos animais tratados em meio a natureza. A área de intervenção construída é dividida em 6 setores, hierarquicamente propostos, iniciando em áreas abertas para a população onde possuem incentivo econômico e educacional e culminando em áreas restritas aos animais. O projeto busca oferecer um apoio econômico, social, ambiental, cultural e educacional para a comunidade local por meio do ensino, turismo ecológico, tratamento e acolhimento dos animais, e recuperação da natureza, envolvendo e valorizando a população, para assim trazer uma verdadeira recuperação.
O projeto foi pensado de forma sustentável e integração com o entorno, com matérias naturais como argila, madeira, palha e bambu. Construções sobre palafitas, permitindo em épocas de cheia a circulação livre da fauna, com coberturas inclinadas para melhor aproveitamento do sol.