Cruzamento interdisciplinar, diálogo entre arte e ciência, matéria-prima inusitada, como os resíduos de um ninho de marimbondos que representam um mapa mundi, são alguns dos elementos que podem surpreender os visitantes da mostra Intraduzível, que abre nesta quinta, dia 2 de agosto, às 19h, no MIS (Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina), em Florianópolis.
Com carreira artística iniciada nos anos 1990, Silvana Macêdo amplia a visibilidade de suas pesquisas que, em diferentes linguagens, faz abordagens colaborativas, ambientais e sociais. A conquista do Prêmio Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura 2017 viabiliza o projeto Intraduzível, que se constitui de uma exposição, uma conversa de artista, uma oficina, uma mediação e uma palestra.
Ao reunir trabalhos realizados com outros colaboradores ao longo de sua trajetória, a artista propõe um estudo da sua obra em períodos distintos, de 1997 até 2017. A mostra Intraduzível, com curadoria de Juliana Crispe, traz trabalhos inéditos no Brasil criados em colaboração com a artista finlandesa Henna Asikainen, o compositor Frederico Macêdo e o astrofísico iraniano Reza Tavakol. A abertura prevê, às 20h, uma conversa com as artistas Henna Asikainen e Silvana Macêdo e a curadora Juliana Crispe. A produção executiva do projeto é da Lugar Específico, de Francine Goudel, e conta com o apoio da Arts Council England.
Henna está no Brasil, porque a exposição celebra os 20 anos de parceria artística com Silvana. No resultado formal de suas pesquisas, ambas misturam biografias e paisagens de países muito distintos, a Finlândia e o Brasil. Nessa constelação de motivos, a mostra assume um caráter retrospectivo.
Até o dia 9 de setembro, a exposição permite conhecer trabalhos realizados no Reino Unido, onde Silvana Macêdo estudou na Northumbria University, Newcastle. Voltada aos multimeios, ela investiga a complexa relação entre arte, ciência e natureza. Nascida em Goiânia em 1966, moradora de Florianópolis desde 2004, onde atua como professora do Departamento de Artes Visuais da Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina), ela pinta, grava e transita em pesquisa telepresença, tecnologias novas e antigas.
Os trabalhos que compõem a mostra são uma série de fotografias e quatro instalações, as videoinstalações lab (2017), ar (2001-3), lua (2005-7), a videoinstalação sonora cooperari (2007) e a instalação trabalho de campo (2017). Um dos elementos centrais destas obras, explica Silvana Macêdo, é a noção de tradução, compreendida mais como uma dinâmica ao invés de uma influência, pois tradução está na base mas não é o tema. “Nessa prática estamos conscientes do processo tradutório, ou mais precisamente, da transformação que ela acarreta. Os trabalhos podem ser entendidos como envolvidos num processo tradutório, pois a representação da natureza pela arte e ciência pode ser compreendida como uma tentativa de traduzir a natureza através da linguagem artística e científica”, diz ela.
Arte & e ciências biológicas
As videoinstalações – lab, ar, lua e cooperari – estão interligadas ao trabalho “tradutório” de cientistas e artistas. ar foi realizado a partir de duas residências artísticas na Finlândia, no Parque Nacional de Koli, na Finlândia, e no Brasil, na Reserva Ducke, estação de pesquisa do INPA (Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas), em diálogo com investigações de pesquisadores de mudança climática nos hemisférios Norte e Sul. A experiência nas residências está refletida na instalação ar etrabalho de campo.
Já lua originou do encontro com o cosmólogo Reza Tavakol em 2004. As pesquisas de Tavakol cobrem um amplo espectro, da astrofísica à dinâmica não-linear, mas seu interesse nos aspectos estéticos da ciência é que encontraram ressonância na prática artística que explora a interface entre arte, ciência e natureza. lua reflete os modos como a humanidade se relaciona com a natureza, ora se volta para contemplação estética, romantiza sua relação com o mundo, ao mesmo tempo que atua constantemente como agente poluidor do ambiente.
Se as questões centrais de ar e lua refletem sobre o impacto humano nas florestas, no ar e na água, cooperari evidencia a dinâmica (dialética) entre a cultura e a natureza em outros níveis. Construído em colaboração com o compositor Frederico Macêdo, foca em insetos sociais e oferece um rico campo para se estudar como contextos culturais interferem na maneira como interpretamos o comportamento animal.
“Com outros artistas e cientistas, na prática artística insistimos em tentar traduzir o intraduzível mistério do mundo natural, sem nunca realmente consegui-lo. ‘A coisa mais bonita que podemos experienciar é o mistério. É a fonte de toda arte e ciência’, disse Albert Einstein. Significativamente, nunca poderemos ‘conhecer um mistério desvendando-o ou analisando-o até matá-lo, mas apenas de maneira a preservar o mistério como mistério’.”
Encontro e aprendizagem
A exposição agrega ações que apostam na aprendizagem, na troca de experiências, no encontro e em discussões. Paralelo à mostra, ocorrerão atividades gratuitas para que jovens e adultos possam vivenciar a proposta artística de forma mais ampla. Além de visita mediada, o projeto Intraduzível prevê uma fala, na abertura da exposição, no dia 2 de agosto, com artistas e curadora; no dia 29 de agosto, em parceria com o PPGAV/Udesc, um evento-palestra com Ana Ferreira Maio, artista, doutora e professora do Departamento de Artes Visuais da Furg (Universidade Federal do Rio Grande). A palestra Conversa Intraduzível abordará temas pesquisados por Ana Maio e buscará evidenciar a imagem como lugar da experiência por meio de uma conversa sobre situações cinema, videoinstalações, videoprojeções e outras tendências das imagens em movimento na contemporaneidade.
Nos dias 31 de agosto e 1º de setembro ocorrerá sob a supervisão de Silvana Macêdo o Festival de Vídeo 24h Arte & Meio Ambiente, que consiste de um encontro de três horas com apresentação de conteúdo teórico sobre a interlocução entre arte, ciência e natureza, seguido de parte prática para orientação coletiva de projetos em vídeo sobre o tema arte e meio ambiente, a serem desenvolvidos individualmente ou de modo colaborativo. O segundo encontro, 24 horas depois, servirá para apresentação dos vídeos criados pelos participantes, com exibição dos mesmos no MIS na última semana da exposição. Essas atividades, todas gratuitas, são abertas, voltadas sobretudo a estudantes de cinema, artes visuais, design ou áreas afins. No caso da oficina, requer conhecimento básico de edição de vídeo.
Cidadania, difusão, memória
O projeto Intraduzível está fundamentado na pesquisa de Silvana Macêdo e se relaciona diretamente com as atividades de ensino que ela desenvolve no Departamento de Artes Visuais do Centro de Artes da Udesc. A intenção é ampliar o acesso da população à cultura, as oportunidades de criação, a distribuição e fruição dos bens culturais e possibilitar a construção permanente de cidadania que incorpore a memória e a diversidade social. Nessa perspectiva, se busca contemplar a valorização da produção artística de Santa Catarina, difundir a multiplicidade de tendências e linguagens, fomentar atividades que interligam artistas de diferentes culturas, inclusive no panorama internacional; apoiar ações de caráter inovador ou experimental, além de impulsionar a preparação e o aperfeiçoamento de recursos humanos para a produção e a difusão cultural. (com assessoria de imprensa)
Equipe técnica
Artistas: Silvana Macêdo, Henna Asikainen, Frederico Macêdo e Reza Tavakol
Curadora: Juliana Crispe
Produção executiva: Francine Goudel – Lugar Específico
Ação educativa: Silvana Macêdo
Montagem: Flávio Brunetto
Fotografia: Endrigo Righeto
Designer digital: Alecxandro Nascimento
Assessoria de imprensa: Néri Pedroso
Serviço da Mostra
O quê: Mostra Intraduzível
Quando: 2.8.2018, 19h (abertura). 20h, conversa com as artistas Silvana Macêdo e Henna Asikainen e a curadora Juliana Crispe. Até 9.9.2018, terça a domingo, 10h às 21h
Onde: Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina, av. Gov. Irineu Bornhausen, 5.600, bairro Agronômica, Florianópolis, tel.: 3664-2555
Quanto: Gratuito
Serviço da visita mediada
O quê: Visita mediada com Silvana Macêdo
Quando: 22.8.2018, 19h
Onde: Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina, av. Gov. Irineu Bornhausen, 5.600, bairro Agronômica, Florianópolis, tel.: 3664-2555
Quanto: Gratuito
Perfil do público: evento aberto, voltado a estudantes dos cursos de graduação e pós-graduação em artes visuais, cinema, música, além de artistas e pesquisadores dessas áreas; grupos comunitários interessados na relação da arte com a ecologia e defesa do meio ambiente, biólogos e ambientalistas
Serviço da palestra
O quê: Palestra Conversa Intraduzível com Ana Ferreira Maio
Quando: 29.8.2018, 19h
Onde: Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina, av. Gov. Irineu Bornhausen, 5.600, bairro Agronômica, Florianópolis, tel.: 3664-2555
Quanto: Gratuito
Perfil do público: aberto, estudantes de cinema, artes visuais, design ou áreas afins
Serviço da oficina
O quê: Festival de Vídeo 24h Arte & Meio Ambiente, com Silvana Macêdo
Quando: 31.8 a 1.9.2018
Onde: Museu da Imagem e do Som de Santa Catarina, av. Gov. Irineu Bornhausen, 5.600, bairro Agronômica, Florianópolis, tel.: 3664-2555
Quanto: Gratuito
Realização: MIS (Museu da Imagem e do Som, PPGAV (Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais), Ceart (Centro de Artes), Udesc (Universidade do Estado de Santa Catarina)
Apoio: Arts Council England
Produção: Lugar Específico