Com o aumento da população, temas como habitação, mobilidade e inclusão social ganham relevância nas discussões sobre um futuro sustentável. No Congresso Brasileiro de Arquitetura – Região Sul, promovido pelo Instituto de Arquitetos do Brasil de Santa Catarina (IAB-SC) no campus Centro da UniSul, em Florianópolis, o professor e teórico espanhol Josep Maria Montaner destacou a necessidade de transformar a abordagem sobre cidades e construções, considerando a diversidade das populações. Ex-vereador e secretário de Habitação, o professor da Escola Técnica Superior de Arquitetura de Barcelona enfatiza a importância de um planejamento urbano que inclua questões sociais.
Comparando realidades de cidades como Barcelona e Florianópolis, onde o aumento populacional ocorre ao lado do turismo, o arquiteto propõe que se pense as cidades com base nas características e necessidades de cada população, contemplando a diversidade cultural e as mudanças para assegurar qualidade de vida. Para Montaner, a arquitetura deve ser inclusiva e voltada às populações menos favorecidas. Habitações sociais, por exemplo, precisam ser planejadas de modo a garantir conforto e mobilidade. Ele observa que arquitetura é também uma questão de saúde pública, dado que habitações devem assegurar boa circulação de ar e condições que previnam mofo e umidade.
“... o aumento de 8% nos aluguéis e de 15% nos preços de venda ocorrido nos últimos anos na cidade espanhola. “Isso torna as cidades inabitáveis para os próprios moradores. É um problema global que atinge cidades costeiras e turísticas, mas também localidades menores afetadas pelo aumento dos aluguéis e pela gentrificação.”
O desafio, aponta Montaner, é a pressão que o turismo provoca sobre cidades como Barcelona e Florianópolis. Ele cita o impacto do aumento de 8% nos aluguéis e de 15% nos preços de venda ocorrido nos últimos anos na cidade espanhola. “Isso torna as cidades inabitáveis para os próprios moradores. É um problema global que atinge cidades costeiras e turísticas, mas também localidades menores afetadas pelo aumento dos aluguéis e pela gentrificação. Em Florianópolis, a infraestrutura é orientada para o tráfego de carros, o que contribui para enchentes em algumas áreas. A cidade enfrenta ainda desafios quanto à preservação da memória e do patrimônio, frequentemente desconsiderados na urbanização”, completa.
Como possível solução, o professor menciona exemplos de habitações coletivas no formato de cooperativas, ou co-habitações, implementadas em Barcelona. Esses espaços, viabilizados com apoio público, promovem autonomia da população e oferecem melhores condições de moradia. “Devemos aprender com boas práticas ao redor do mundo – cooperativas, participação popular e projetos públicos eficientes. O setor público tem um papel fundamental no apoio à sociedade, o que representa um desafio para a arquitetura. Esse compromisso precisa ser transmitido às novas gerações de estudantes e professores”, afirma Montaner.
O professor defende ainda que os espaços públicos sejam acolhedores, acessíveis e democráticos. No Brasil, ele destaca as unidades do Sesc em São Paulo como modelo: prédios anteriormente ocupados por empresas foram adaptados para atividades culturais e de formação, criando ambientes de integração. Segundo ele, a formação dos arquitetos deve incluir essas questões.
Além da sala de aula
O professor Marcelo Nogueira, coordenador do curso de Arquitetura da UniSul, concorda com Montaner, apontando que os estudantes precisam ir além da sala de aula. Ele defende que os projetos de extensão e os escritórios modelos são fundamentais para essa formação. Professores e estudantes dos cursos de Arquitetura e Urbanismo e Engenharia Civil da UniSul, integrante do ecossistema Ânima, desenvolvem projetos que incluem a reconstrução de casas em situação de risco na comunidade do Monte Serrat, em Florianópolis, e a reforma de um centro comunitário no bairro. A iniciativa conta com o apoio da comunidade com participação ativa dos moradores, do Conselho Comunitário do Monte Serrat, Instituto Vilson Groh, coletivo Arquitetura Sem Muros, Banco de Materiais de Florianópolis e o projeto Gente UniSul.
Outros projetos estão em andamento, como no Monte Cristo, onde há duas iniciativas no Centro de Educação e Evangelização Popular (CEDEP): um ateliê de cerâmica e um projeto de uso qualificado das áreas públicas com os moradores, incentivando a ocupação e o uso das ruas e calçadas do bairro e reforçando o sentimento de pertencimento da população ao território.
Fonte: assessoria de imprensa