Infiltrar-se.
Condição daquilo que se introduz aos poucos ou que se espalha devagar. Despercebido até se tornar to-tal-men-te visível.
Infiltrar-se.
A potência daquilo que começa imperceptível e depois se torna indispensável.
Infiltrar-se.
Como o tempo, como as dúvidas, como a arte.
Aliás, vamos nos infiltrar ou somos nós que já estamos infiltrados?
Após sua primeira edição em Laguna, a exposição Infiltração chega agora ao centro histórico de Florianópolis em sua segunda edição, reunindo doze artistas em uma ocupação coletiva e efêmera no espaço urbano. Com curadoria de Kamilla Nunes, Infiltração propõe uma série de instalações e performances, operando como portais para imaginar outros modos de ver, habitar e sentir o mundo.
Como uma água subterrânea, que reaparece longe da nascente, Infiltração é uma instalação artística que se inicia como um percurso coletivo e se espalha em vários pontos pelo centro histórico de Floripa. Mas, se em Laguna a exposição revelou o patrimônio como palimpsesto e disputa, em Florianópolis, os trabalhos se inserem em uma cidade marcada pela tensão entre a imagem que quer mostrar e a imagem que está sendo apagada.
Nesse cenário de uma cidade marcada por contradições entre o histórico e o turístico, entre o apagamento e a permanência, Infiltração não quer disputar território com slogans ou criar mais espaços de consumo. A exposição artística parte de um impulso comum: a arte como forma de entender as camadas de uma cidade. Alguns artistas dialogam diretamente com a história do lugar; outros propõem desvios oníricos, experiências sensoriais ou narrativas íntimas. Em comum, os trabalhos desta exposição infiltram-se no tecido do centro histórico como sinais, discretos ou radicais, de que outros mundos são possíveis. A arte, aqui, não se apresenta como solução. Mas como campo. Campo de perguntas. Campo de trocas. Campo de invenção. Infiltração quer abrir espaço, abrir tempo, abrir possibilidades. Cada trabalho é um microuniverso novo por onde o mundo pode ser revisto. Ou reinventado.
Vamos então deixar a arte nos infiltrar?
No dia 26 de julho, às 9h30, Infiltração se espalhará em ruas, calçadas, praças e construções históricas da capital catarinense, convocando o público a experimentar a cidade com outros olhos. Porque no fundo, a arte não serve apenas para ser vista. Ela serve para fazer ver. E se tudo está em disputa, o patrimônio, a memória, a rua, o tempo, então que a arte se infiltre. Que suba pelas paredes e para nossas cabeças. Que a arte revele. E que assim, a arte sustente aquilo que não pode desmoronar.
Exposição Infiltração
Centro Florianópolis
Saída 9h30 na Praça Pereira Oliveira
Artistas:
Ana Carolina Lima
Anamaria Brüggemann
Camila Saavedra
Diane S.
Gianella Riephoff
Katia Véras
Laïs Krücken
Leticia Villafañe
Luciana Florenzano
Pedro de Miranda Lisboa
Rau
Sara Ramos