Os saberes e fazeres manuais têm tido um crescente reconhecimento e muito tem se valorizado peças artesanais, embora ainda falte informação e conhecimento, muitas vezes, sobre o modo de produção artesanal, um valioso patrimônio. Nesta seleção nos ambientes de CASACOR/SC edição Florianópolis, exploramos objetos que conferem possibilidades poéticas aos espaços. Fique atento aos detalhes!
Achego
A leveza da “Casa Brisa” se manifesta em todos os detalhes. Chamamos a atenção nesta foto para o Banco Achego, do designer Tiago Braga, da Oiamo – a peça foi apresentada na Paris Design Week 2023. Desenvolvida em parceria com o coletivo de artesãs da Associação Ladrilã para o Projeto Raiz, Achego atualiza o saber-fazer da lã artesanal gaúcha. Vale dizer que a Oiamo Design é um ateliê localizado no Rio Grande do Sul, cujo foco é mapear e contribuir para a revitalização da memória das comunidades originárias do extremo sul brasileiro, estimulando a cadeia produtiva e impulsionando a economia local. Como resultado desse trabalho, a marca foi oficialmente nomeada pelo comitê Global Sustainable Association (GSA) para o Kyoto Global Design Awards 2023, na categoria “Best 100”, além de conquistar o Prêmio de Design Bornancini de Design 2022 na categoria Impacto Econômico e Cultural.
Imperfeição
O manifesto dos arquitetos Carolina Pellenz e Rafael Kreusch, da RCK Integradas, é pela beleza que existe na imperfeição. “A arquitetura mostra que marcas do tempo são belas, assim como as histórias calejadas que em nossos corpos vivem. Então entra, te aceita, te conforta”. A tradução desse desejo está na escolha de peças do mineiro Domingos Tótora, que utiliza papelão descartado misturado com água e cola resultando em um outro material que resistência próxima da madeira. As peças são feitas à mão por artesãos locais, sob a criação e direção de Tótora. Na foto, os Vasos Casca são exemplos de iniciativa que promove artesanato para gerar renda para as populações carentes.
Poesia visual
Na estante do ambiente “Que seja Casa”, de Bruna Tuon Sposito, as cerâmicas promovem uma poesia visual. O vaso e a escultura da coleção Rupa (à direita) são do estúdio de design Frida Não Late, em Florianópolis, que tem direção criativa de Andrei Detoni. Cada exemplar é cuidadosamente elaborado sem a intervenção de moldes convencionais, sendo os contornos e texturas impressos pela mão do artista. A produção é artesanal, empregando a técnica tradicional do acordelado.
À esquerda, ao centro, produção da dentista Michelle Furlani, que passa a encarar a cerâmica de forma artística e profissional. As peças piloto fazem parte da coleção Fluir e Ar. “Escolhi colocar obras que trouxessem movimento e ao mesmo tempo leveza para o espaço”, comenta Bruna.
Ancestral
Da Amazônia vem a escolha do pote cerâmico com pintura em grafismo, feito por etnias do Xingu. Escolha do Studio Guilherme Garcia para o ambiente “Origens”, que valoriza a produção nacional em diversas escalas.
Cosmos
A cerâmica surgiu como um elemento de conexão e meditação para a artista Mitushi, que mora em Florianópolis. “A meditação e observação me possibilitam estar atenta as pequenas belezas do cotidiano, da natureza, das formas, e a partir daí deixar a criatividade falar por si”, comenta. No ambiente “Origens”, do Studio Guilherme Garcia, a ceramista levou a sua série Cosmos de peças queimadas em alta temperatura, arredondadas e com texturas, cuja instalação resulta em movimentos orgânicos e sem padrão definido.
Tapeçaria
Designer de moda formada pela Santa Marcelina (SP), a paulistana Luiza Caldari, que mora em Itajaí (SC), tem uma relação antiga com os trabalhos manuais. Na área da moda, já contribuiu com criações para marcas brasileiras como Carlos Miele, Cris Barros e Colcci. No entanto, foi a tapeçaria que a fisgou de forma intensa e prazerosa, sendo a forma que ela encontrou para se comunicar com o mundo. Seu trabalho está exposto no espaço Waves Art Gallery de Leonardo Palma, Leonardo Vieira, Iuri Meinhardt, Rafael Santos e Luciano Rother.
São três séries que a artista têxtil apresenta na CASACOR/SANTA CATARINA edição Florianópolis:
- Série Demi, na técnica tapeçaria em tear manual (fios 100% lã), dimensões 47 x 100cm, títulos: Demi Cosmopolitan / Demi Gin / Demi Spritz / Demi Pink Lemonade / Demi Merlot
- Tapeçarias Patch (Parede ou chão), na técnica Tufting pneumático, dimensões 110 x 140cm, títulos: Patch Neutro / Patch Colorido
- Tapeçaria Persona, collab com o estúdio de design T44, peça única da série tecida a mão em tear manual. Dimensões: altura 160 cm, largura 108 cm, profundidade 5 cm. A haste foi desenvolvida e produzida pelo T44 Studio.
Meu Borboletário
A procura de uma peça escultórica para o ambiente “Mergulho Sensorial”, Betina Chede e Talita Coral encontraram no instagram as tapeçarias de Glauber Ramos, do Meu Borboletário. “Os trabalhos são um dos maiores destaques do nosso espaço”, diz Betina. A obra Mariposa-lua-de-Madagascar, da Série Argema, feita na técnica “fiber emballage” em fios de algodão reciclado, algodão egípcio, veludo, viscose, chenile e seda, nas dimensões 200cm de largura por 250cm de altura. Glauber parte do próprio inseto para compor a obra. Esta mariposa, segundo ele, é considerada uma das mariposas mais bonitas do mundo, com envergadura que pode ser superior a 22cm. “O inseto se destaca pela coloração amarelada e a presença de 4 ócelos, um em cada asa. Outra característica marcante presente nos machos da espécie é a longa cauda que pode atingir até 15cm de comprimento”, explica o artista.
“Vó Manuela”
No banheiro da “Vó Manuela”, ambiente proposto pela arquiteta Giovanna Ghisleni, a obra da artista Bela ocupa paredes e teto do espaço, dando origem a instalação da Série Monochrome, feita com base de vinil e tinta serigráfica. O trabalho é resultado da investigação da artista após a pandemia, substituindo radicalmente a cor, pela qual ficou conhecida, pela suavidade do branco.
Herança Cultural
Os tapetes orientais contam histórias sobre seu povo por meio das cores, desenho, fios, por exemplo. No ambiente Oásis, de Sumar Arquitetura e Patricia Furukawa Arquitetura e Design, essa herança cultural manifestada pela arte têxtil já anuncia sua potência pelo aroma impregnado no ambiente dedicado exclusivamente a produção feita à mão na Índia, Paquistão, Tibet, Irã e Nepal. Vale conferir!
Escultórica
Uma base feita de tronco de árvore transforma a mesa de jantar numa peça escultórica e revela o talento do artesão Juliano Guidi. Idealizada pela arquiteta Mariana Maisonave, a peça é resultado da collab dela com o artesão de Itajaí, que também faz outras peças para o espaço C[ALMA], ambiente de Mariana que mudou radicalmente a antiga casa do caseiro do Hotel Maria do Mar. A Casa C[ALMA], através da escolha de texturas naturais e integração com o meio externo, traz a identidade da arquiteta, em um ambiente de 160 metros quadrados. Destaque para o tampo em madeira com acabamento em resina branca que trouxe uma característica singular à peça. Sobre a mesa, cerâmica modelada delicadamente, com espessura e bordas sinuosas, por Ellis Monteiro.