Ele agita, há 11 anos, seu próprio evento no setor de design e se consolida em um mercado que ainda está em expansão. Beto Cocenza é o nome à frente do projeto BOOM SPDesign, uma plataforma de conexão entre arquitetura, design e mercado. A próxima edição, a 11ª, acontece dias 27, 28 e 29 de agosto no Lounge da Bienal, no Parque do Ibirapuera, em São Paulo – inscrições gratuitas, acesse www.boomspdesign.com.br/cadastrese – O evento é paralelo a realização do Design Weekend.
Um dos destaques para 2018 da semana de design paulista é a homenagem Designer do Ano que a BOOMSP design fará ao atelier oï, no dia 27 de agosto, segunda-feira, às 16h45, no Lounge Bienal – Parque Ibirapuera. Os suíços também abrem a exposição “Indústria Artesanal – atelier oï”, dia 25 de agosto, sábado, no Museu da Casa Brasileira. Esta mostra já passou por Tóquio, Japão, e Zurique, Suíça e recebeu apoio do Beto Cocenza. Com curadoria assinada por Albrecht Bangert, especializado em exposições de design e arquitetura, a mostra apresenta o trabalho do escritório suíço atelier oï e reúne multidisciplinaridades dos campos da arquitetura, do design de produtos e da cenografia.
Outro destaque, segundo Cocenza, serão as 15 instalações realizadas entre estúdios de design e empresas como a desenvolvida por Guilherme Torres para o Projeto Alumínio. “São nessas instalações que as marcas mostram seus conceitos e conteúdos, utilizando seus produtos de maneira diferente de uma feira comum”, afirma.
TRAJETÓRIA
Formado em Hotelaria e Pós-Graduado em Marketing pela ESPM, Cocenza é de uma família de industriais do setor de iluminação e seu envolvimento com o setor direcionou o foco, a partir de 1989, para a criação, promoção e execução de projetos culturais e promocionais.
Entre os eventos e palestrantes que trouxe ao Brasil, está Karim Rashid (2008) e Revista Visionare/ Goyard (2010), ambas no Instituto Tomie Ohtake; Todd Bracher, no Museu da Casa Brasileira (2012); edições trimestrais do Projeto Balanço – MCB + BOOMSPDesign (2013-2017), com artistas, designers e arquitetos tais como Hugo França, Ruy Ohtake, Rodrigo Ambrósio e Sergio Matos.
Leia a entrevista exclusiva de Beto Cocenza para o ArqSC.
Nesses 11 anos, qual sua leitura do mercado nacional de design sob o ponto de vista da inovação, originalidade e expansão?
Quando nós começamos a promover design no Brasil, nós tínhamos – e ainda temos – muitos designers voltados à produção em madeira. Hoje, em função da evolução da tecnologia e do manuseio do ferro e plástico, você vê a fusão dessas matérias-primas, e nesse sentido, alguns dos materiais básicos que têm aqui no Brasil estão sendo utilizados. Porém, tecnologias mais avançadas, como são usadas na Holanda, Bélgica e até na Itália, ainda vejo pouca utilização pelos designers brasileiros.
O Brasil ainda é visto como um país que faz cópias, assunto polêmico que recentemente foi pauta nas redes sociais. Qual sua visão sobre o assunto?
Nós não concordamos com cópias, é um assunto que está absolutamente fora de cogitação dentro dos nossos conteúdos. É polêmico porque ninguém quer que sua peça seja copiada, sem royalties ou por qualquer outra razão. Se ela é feita com autorização do designer por uma empresa capaz de produzir em quantidade não tem problema nenhum. Porém, o que entendemos como cópia é uma reprodução sem autorização e está absolutamente errado no Brasil ou no mundo.
Li Edelkoort, a holandesa que é referência como pesquisadora de design, sugere que olhemos para as nossas raízes, ela defende a ‘emancipação do hemisfério sul’. Ou seja, ainda estamos olhando para fora e carregamos o que cunhou Nelson Rodrigues ‘sobre ‘síndrome de vira-latas’?
Ela é referência no mundo, pois olha para as produções locais e as valoriza, fazendo com que as peças se tornem conhecimento mundial. E é obvio que ela olha para empresas que ela dá consultoria, para que esses produtos sejam produzidos em alta escala. É um trabalho maravilhoso e importantíssimo. E acho que isso de olhar para nossas raízes é o que está acontecendo com designers como Sergio Matos e Rodrigo Ambrósio, que estão olhando de forma profunda para produção nacional, principalmente para o nordeste e Amazônia, e tirando proveito disso, levando os conceitos produtivos para as comunidades, que tendem a se tornar autossustentáveis ao produzir a matéria-prima para eles. Eu acho que a gente olha mais para o exterior, não tem jeito, somos um país jovem. O design italiano teve uma grande impulsão após a segunda guerra mundial, o que foi bastante positivo. No Brasil, começamos a falar de design nos anos 60, com pouca força, mas com nomes de peso, como Sérgio Rodrigues, Zanini e Niemeyer, porém não tínhamos um movimento para isso. Apenas nos anos 90 foi ganhando força. E nos anos 2000 senti que tínhamos um movimento suficiente para implantar meu projeto. Nós temos uma superqualidade produtiva, indústrias que chegam a 600 funcionários produzindo peças incríveis, é só uma questão de adequação e apesar de tudo, estamos caminhando muito bem.
Quais designers o BOOMSPDesign já ajudou a reverberar? E qual estratégia utiliza para valorizar o mercado nacional de design?
Eu não poderia dar apenas um nome que ajudamos a reverberar. Temos um projeto que chama Designer do Ano, em que os profissionais são homenageados. Nele já nomeamos Zanine di Zanine, Ruy Ohtake, Luis Pons, Dror Benshetrit. No Design 2×2, a nossa incubadora em que temos designers que desejam despontar no mercado, anualmente temos de 10 a 15 expositores que apresentam peças autorais ou de tiragem limitada, e é aí que estamos com a moçada, temos o Estevam Toledo, Rapha Black, Enzo Sobocinski. Nesses 11 anos tivemos mais de 200 palestrantes e pelo menos cem expositores mostrando um pouco do seu conteúdo.
O BOOMSPDesign reúne todo esse conteúdo, e apresenta para a nossa comunidade de arquitetos, designers de interiores, colecionadores e fundações, e eles percebem tudo isso da forma mais adequada para eles. O ano passado vendemos para uma fundação no Paraguai uma poltrona do Enzo Sobocinski, tivemos lojistas da Gabriel colocando em suas curadorias produtos de designers que estavam no BOOMSPDesign, aconteceram muitas coisas interessantes.
O BOOMSPDesign acontece uma vez ao ano, durante o Design Weekend, como manter a conexão entre os campos da arquitetura, do design e da arte, e garantir a interação entre profissionais durante o restante do ano?
Nós mantemos a conexão com o mercado durante o ano todo por meio das nossas redes sociais, usamos o Instagram e o Facebook, e dessa forma estamos em contato com o público o ano inteiro. Também utilizamos o e-mail marketing para atualizar a nossa base. Outra maneira que está dando certo são os encontros em espaços, como lojas e estúdios. Em parceria com o CLUB&CASA Design fizemos esse ano 20 encontros, no Estúdio do Paulo Alves, com Rapha Preto, Estevam Toledo, Lufe Gomes, Enzo Sobocinski, entre outros grandes nomes, em que reuníamos uma média de 40 a 50 pessoas para ouvir mais sobre o conceito de design, arquitetura e processos criativos.
Durante o evento, recebemos mais de 2 mil arquitetos e designers de interiores e acredito que, por meio das conexões que trazemos, seja uma forma de divulgar esse trabalho.
Quais destaques do fórum?
Um dos grandes destaques do evento esse ano são as instalações. A principal foi desenvolvida pelo SuperLimão Studio para a Knauf, de Dry Wall. Temos também uma instalação de Guilherme Torres, para o Projeto Alumínio. Ao todo são 15 instalações. São nessas instalações que as marcas mostram seus conceitos e conteúdos, utilizando seus produtos de maneira diferente de uma feira comum.
Temos também o espaço de exposição Design 2×2, que apresentamos nomes de destaque como o Studio Alfaia e a Renata Jatobá, que vem de Recife, Rapha Preto e Estevam Toledo, um deles trabalha muito com madeira e o outro com metal, e uniram forças num projeto superbacana e o Enzo Sobocinski, que criou uma nova poltrona que pretende vender para alguma fundação.
Como palestrantes, trouxemos o atelier oï, que desenha muito para Louis Vuitton projeto Objets Nomades, e que estará com uma exposição no Museu da Casa Brasileira a partir do dia 25 de agosto. Nino Bauti, espanhol que já desenhou para Giorgio Armani, Alexander McQueen e Givenchy, que hoje tem sua própria marca e vai apresentar sua coleção para a prataria St. James. Luis Pons, que já foi Designer do Ano em 2012 e volta esse ano apresentando uma linha de mobiliário com três peças para a Vermeil. Temos palestrantes do Rio de Janeiro, João Pessoa e de outras áreas do Brasil, o que é muito importante.