O 11º Múltipla Dança – Festival Internacional de Dança Contemporânea agora, numa versão inteiramente on-line, começa hoje dia 24 e se estende até 30 de maio com todas as ações mediadas por tecnologias digitais. O evento envolve cinco países, oito Estados brasileiros, oito cidades catarinenses, 35 convidados, sete espetáculos, um curso de formação para professores de arte, quatro oficinas, dois diálogos, sete intervenções digitais, duas conferências dançadas, um lançamento de livro, uma homenagem e duas mostras, uma de apresentação de resultados de uma das oficinas e uma mostra de videodança que se desdobra em três programas e 26 obras. Legitimado pelo Prêmio Elisabete Anderle de Apoio à Cultura 2020, o festival é considerado o mais importante nesta área do Sul do Brasil.
O festival começa hoje, às 20 horas, no Youtube, com o espetáculo “Normal” que faz uma abordagem sobre os obstáculos da vida e a capacidade de resiliência humana. A obra concebida pela Alias, companhia de dança contemporânea suíça, tem como diretor o coreógrafo brasileiro Guilherme Botelho. Os espetáculos e as conferências dançadas estarão disponíveis somente no dia/horário marcado para exibição.
Os espetáculos voltados aos adultos ganham relevância no programa pois representam uma rara oportunidade para conhecer obras criadas no exterior. Neste caso, duas companhias e trajetórias que têm brasileiros como idealizadores e intérpretes. Além de “Normal”, que aproxima de Gilherme Botelho, há também Volmir Cordeiro, nascido em Concórdia e morador de Paris (França). Ele mostra “Trottoir” (Calçada), no dia 26, às 21 horas. A Alemanha vem com “Vis Motrix”, atração da CocoonDance no dia 27 de maio, às 20 horas. A dança brasileira destaca-se nos dias 25, às 21 horas, e 27 de maio, às 19 horas, com “Desvios Tático-estratégicos para Sobreviver à Vida Urbana”, do Grupo Três em Cena (GO).
As abordagens coreográficas dos quatro espetáculos adultos abarcam os dilemas da existência humana, a instável estrutura da vida, os obstáculos e a resiliência humana, e também as atmosferas urbanas, quer na gênese conceitual da obra ou na apropriação do espaço público como um palco derradeiro, como é o caso do Grupo Três em Cena (GO) que alicerça seu trabalho num viés arquitetônico, tendo escadarias como fonte inspiradora. O bailarino catarinense Volmir Cordeiro, pela primeira vez no Múltipla Dança, pesquisa nas ruas para criar “Trottoir” (Calçada), o seu primeiro trabalho realizado de modo coletivo.
Coreógrafo, bailarino e pesquisador, Volmir se apresenta pelo mundo com investigações coreográficas sobre maneiras de dançar, lugares e as figuras contraditórias que deles emergem. Criou “Inês”, “Céu”, “Rua” e “Trottoir” (Calçada). No Múltipla Dança, mostra “Trottoir”, uma metáfora sobre a diversidade humana em que compartilha a cena pela primeira vez com cinco intérpretes. Na obra, valoriza a calçada “como um espaço de circulação de mundos, capaz de abrigar o múltiplo, o heterogêneo, e colocar em questão a transmutação de papéis sociais que a gente está o tempo inteiro pondo em prática”, diz ele.
Pelo Youtube, “Desvios Tático-estratégicos para Sobreviver à Vida Urbana”, nos dá a oportnidade de conhecer o Grupo Três em Cena, composto pelos artistas Rafael Guarato, o diretor, e o coreógrafos-intérpretes Johnathans Paiva (b.boy Black), Taynnã Oliveira e o próprio Rafael, todos advindos da dança urbana de Goiânia. O Três em Cena surge em 2014 do encontro entre artistas que desenvolviam estudos coreográficos solos ou em parceria. A base conceitual consiste no suporte técnico das danças urbanas e o interesse investigativo em possibilidades de criação para cena contemporânea. Ao mesmo tempo, o formato do grupo põe como limite três pessoas em cena com o propósito de potencializar obras com qualidade, facilitar orçamentos e a circulação. Uma poética que funde o corpo ao espaço público com deslizamentos, encaixes e um gestual específico.
A Alemanha, representada no Múltipla Dança com “Vis Motrix”, da CocoonDance no dia 27 de maio. Seres bizarros, bailarinos híbridos – mistura de ser humano e máquina. Na sua pesquisa do corpo “impensado”: o transumanismo como uma dança de roda traumática que não deixa intacta a inconsciência. A obra brota de uma pesquisa independente sobre as técnicas (dominadas por homens) de breaking e krumping para transformar esses estilos de dança de rua, levando em consideração as energias e os impulsos híbridos e pós-humanos.
CocoonDance foi fundado pela coreógrafa Rafaële Giovanola e o dramaturgo Rainald Endraß em 2000. Giovanola, nascida na Suíça, dançava como solista em Turim antes de ser levada ao Ballett de Frankfurt por William Forsythe, onde permaneceu por oito anos. Desde 2000, CocoonDance tem produzido e atuado num teatro independente em Bonn, Alemanha; desde a temporada 2004/05 a companhia também faz a curadoria do programa de dança e é responsável pela organização e financiamento do teatro. Já produziu cerca de 40 produções e percorreu cinco continentes.
Lúdico e imaginativo – dança para as crianças
A dança para as crianças sempre compõe os conceitos curatoriais do Múltipla Dança. O programa de 2021 inclui três espetáculos infantis da Cia Druw (SP): “Por Ti Portinari”, “Dalí, Daqui ou De Lá?” e “Poetas da Cor”. Os três trabalhos aproximam as artes visuais e a dança contemporânea, tem uma hora de duração e serão apresentados duas vezes, em dias distintos, entre 16 e 17 horas, sempre pelo YouTube.
“Por Ti Portinari” abre a série e ganha apresentações nos dias 25 e 28. O trabalho reverencia Cândido Portinari (1903-1962), importante nome na história da arte brasileira, célebre pela obra “Guerra e Paz”, criada para a sede da Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Os dois painéis produzidos entre 1952 e 1956 – de 14 metros de altura, endossam um grito pela paz, contra toda e qualquer forma de violência. “Fizemos um mergulho profundo nas obras de Portinari, nos textos, poemas, nos encontros com o João Cândido, filho do artista. Percebemos no mural que a dor e a paz universal estão retratadas ali, há um diálogo entre o trágico e o lírico, a fúria e a ternura, o drama e a poesia. Durante a coreografia dialogamos com as referências desses e de outros quadros”, diz Miriam Druwe, diretora da Cia. Druw.
“Dalí, Daqui ou De lá?”, atração do dia 26 e 29 de maio, hibridiza as artes visuais e a dança para percorrer as criações surreais do pintor espanhol Salvador Dalí (1904-1989) e trazer referências, também dos artistas René Magritte (1898-1967) e Frida Kahlo (1907-1954). A obra inspira-se nos procedimentos do movimento surrealista como sobreposição de objetos desconexos, imagens poéticas, o humor, o sonho e a imaginação para criação de uma composição lúdica e imaginativa.
No 27 e 30 de maio, às 16 horas, no YouTube, é a vez de “Poetas da Cor” que mergulha em cromatismos para proporcionar uma experiência lúdica criada a partir de partituras imaginárias e poéticas na dinâmica deletéria do gesto. As cores estão em tudo, dentro e fora das coisas, na luz, no pigmento, entre o céu e a terra, na física e na química. Com efeitos surpreendentes, produzem combinações e múltiplas tonalidades que potencializam a composição em cena. Para a Cia. Druw, “Poetas da Cor” são seres, energias que acionam e resgatam a essência do poder criativo espontâneo.
Múltipla Dança em números
Países: Alemanha, África do Sul, Brasil, França, Suíça
Estados: BA, CE, GO, MG, RJ, SC, SP, PE
Cidades de SC: Balneário Camboriú, Blumenau, Criciúma, Florianópolis, Garopaba, Gaspar, Joinville e Pinhalzinho
Homenageado: Marco Aurelio da Cruz Souza (SC)
Espetáculos: Adulto: “Normal”, Cia. Alias (Suíça); “Desvios Tático-estratégicos para Sobreviver à Vida Urbana”, Grupo Três em Cena (GO) e “Vis Motrix”, CocoonDance (Alemanha) e “Trottoir” (Calçada), Volmir Cordeiro. Infantil: “Por Ti Portinari”, Cia. Druw; “Dalí, Daqui ou De lá?”, Cia. Druw e “Poetas da Cor”, Cia. Druw (SP)
Convidados: Adriana Banana, Aline Blasius, Alejandro Ahmed, Ana Francisca Ponzio, Arnaldo Alvarenga, Beatriz Cerbino, Cristina Castro, Bruno Miranda, Denise Namura, Ederson Lopes, Elton Gomes, Ernesto Gadelha, Deivid Velho, Guilherme Botelho, Larissa Kremer, Karin Serafin, Lilian Vilela, Marco Aurelio da Cruz Souza, Maxwell Sandeer Flor, Michael Bugdahn, Miriam Druwe, Mirtes Calheiros, Néri Pedroso, Orum Santana, Paola Zonta, Paulo Soares, Rafael Guarato, Rafaële Giovanola, Regina Advento, Rodrigo Andrade, Sandra Meyer, Taís Matos, Volmir Cordeiro, Vitoria Correia e Waldir Coral
Formação para Professores de Artes: “Recursos e Percursos no Processo criativo: Um Olhar Artístico sobre o Pedagógico”, Miriam Druwe (SP)
Conferência Dançada: “Artistas Transpostos – Intervenção em Espaços Abertos”, Regina Advento (Alemanha) e “Dramaturgia Cinética e Dança”, Alejandro Ahmed (SC) e Aline Blasius (SC)
Intervenção digital (vídeo + live): Bruno Miranda (Joinville), Larissa Kremer (Gaspar), Deivid Velho (Florianópolis) em colaboração com Paulo Soares, Waldir Coral (Balneário Camboriú), Tais Matos (Garopaba), Rodrigo Andrade (Blumenau) e Vitoria Correia (Joinville)
Lançamento de livro: “Historiografia da Dança: Teorias e Métodos”, Rafael Guarato (Org.), Ed. Annablume, 2018. Conversa com autores: Rafael Guarato (GO), Beatriz Cerbino (RJ) e Arnaldo Alvarenga (MG)
Oficinas: “Sankofa – a Dança como Presente”, Orun Santana (PE), “Múltiplas Críticas”, Néri Pedroso (SC), “Dançar Nossas Histórias” – Cie. À Fleur de Peau Denise Namura e Michael Bugdahn (França) e “Dança em Palavras: Experiências com Audiodescrição”, Lilian Vilela (SP)
Diálogos: “Representatividade e Fortalecimento das Setoriais de Dança em Santa Catarina” com Maxwell Sandeer Flor (mediador), Elton Gomes, Karin Serafin e Paola Zonta. “Processos de Internacionalização: Trajetórias e Abordagens de Festivais brasileiros” com Marta Cesar (mediadora), Adriana Banana (MG), Cristina Castro (BA), Ernesto Gadelha (CE), Ederson Lopes (SP) e Mirtes Calheiros (SP)
Mostras: Mostra de Processo Criativo: resultado da oficina “Dançar Nossas Histórias”, ministrada pela Cie. À Fleur de Peau e Mostra de Videodança (três programas, 26 vídeos). Programa 1: “I.M.P.E.R.M.A.N.E.N.C.E”, “Oh Boy!”, “Scioglilíngua”, “Displaced”, “Source”, “Different Directions”, “4”, “Antitempo”, “Reverb” e “Hands Talk”. Programa 2: “Floors Falls”, “Breath”, “Tábula Rasa”, “Monochrome Trilogy / Black”, “Tormetango”, “The Other Side”, “Mami Origami”, “Back”, “VDO1.6”, “Todos os Pontos da Curva” e “Flow”. Programa 3: “Falling”, “Pilgrimage, “Salt Water”, “Please Yes: Étude Aux Appuis” e “In London”
Equipe técnica
Direção, coordenação de programação e curadoria: Jussara Xavier e Marta Cesar
Produção executiva: Gisele Martins
Design gráfico e mídia eletrônica: Paula Albuquerque
Assessoria de imprensa: Néri Pedroso
Fotografia e vídeo: Cristiano Prim
Operação de streaming: Casarinha
Tradução e interpretação em Libras: Danielle Sousa e José Ednilson Gomes de Souza Júnior
Articuladoras: Jussara Xavier, Marta Cesar, Néri Pedroso e Paula Albuquerque
Ilustração: Fabio Dudas, sobre fotografia de Arnaldo J. G. Torres (Miriam Druwe – Cia. Druw).
Agradecimentos: Ana Francisca Ponzio, Elke Siedler, Regina Levy e Sandra Meyer
Realização: Governo do Estado de Santa Catarina, por meio da Fundação Catarinense de Cultural (FCC), com recursos do Prêmio Elisabete Anderle de Apoio à Cultura ∕ Artes – Edição 2020
Serviço
O quê: 11º Múltipla Dança – Festival Internacional de Dança Contemporânea
Quando: 24 a 30.5.2021, diariamente
Onde: Zoom, Meet, YouTube, Instagram, Facebook
Quanto: gratuito (todas as ações)
Classificação: livre para todos os públicos
Fonte: com assessoria de imprensa.