Matéria publicada originalmente no site Archtrends da Portobello.
Antes de comentar especialmente sobre a CASACOR SC/Florianópolis 2019, é preciso fazer uma reflexão sobre a participação e visibilidade dos catarinenses no circuito nacional da mostra de decoração. Dois pontos merecem registro: a representatividade do Estado na edição paulista e o modelo de negócio realizado na Capital, que teve reverberação além-fronteiras.
Santa Catarina teve excepcional participação na mostra paulista 2019, superada, naturalmente por São Paulo, e o mesmo número de profissionais expositores do Rio de Janeiro. Do Sul do país, foi o único estado com arquitetos presentes na 33ª edição da CASACOR SP. Estávamos muito bem representados pelo Studio Casa Design, de Moacir Schimitt Jr. e Salvio Moraes Jr., que há três anos integram o time da mostra; pelos arquitetos Juliana Pippi e Marcelo Salum, há dois; e o estreante, Tufi Mousse.
Não é pouca coisa! A participação deles foi destaque em mídias nacionais, na capa do anuário do evento, em palestras nas mostras brasileiras, e com premiações – Salum ficou em segundo lugar no Prêmio Casa, do suplemento Casa, do Estadão, com o Loft “Alguma Coisa Acontece no Meu Coração” (2018) e a cozinha do Loft “Árvore da Vida” (2019), cujo critério são os espaços mais relevantes do ponto de vista conceitual e construtivo.
A significativa participação dos quatro escritórios catarinenses em nível nacional se dá em um contexto de realização da CASACORem 15 estados: São Paulo, Bahia, Brasília, Ceará, Espírito Santo, Goiás, Rio de Janeiro, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraíba, Paraná, Pernambuco, Rio Grande do Sul, Santa Catarina (Florianópolis e Balneário Camboriú) e Ribeirão Preto, além da Bolívia, Estados Unidos, Paraguai e Peru. Vale lembrar, ainda, que o estado é o único no país a manter duas mostras anuais desde 2017.
E em Santa Catarina?
Modelo arrojado na CASACOR SC em 2019
Em Florianópolis, a parceria entre a CASACOR e empreendimento Cidade Milano foi uma decisão assertiva que ampliou a percepção de valor da própria mostra. Para isso, dois fatores foram determinantes: a oportunidade de incluir no percurso de visitação o palacete construído em 1848, tombado como Patrimônio Histórico pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), e onde morou o ex-governador Hercílio Luz (1860-1924). Foram quase duas décadas de abandono até a Milano Incorporadora assumir a obra de restauro, com projeto do escritório Prospectiva Arquitetura. Após a mostra, a casa estará disponível para visitação gratuita mediante agendamento prévio e servirá para abrigar eventos diversos ao integrar um complexo com essa finalidade dentro do empreendimento Cidade Milano.
Outro motivo decisivo foram as 10 operações gastronômicas do food mall, tornando a CASACOR mais atrativa como destino de lazer e coerente com o próprio tema – Planeta Casa – já que toda ala de cozinha irá permanecer após a mostra. E isso também veio ao encontro do conceito do empreendimento de se apresentar como ambiente de uso misto, com moradia, trabalho e lazer. Com esse perfil, a mostra em Florianópolis ganhou repercussão na gestão nacional da CASACOR exatamente pelo seu modelo arrojado.
As duas escolhas acima são, sem dúvida, os maiores destaques da edição na Capital, que este ano traz 40 ambientes assinados por 70 profissionais do Estado, que interpretam o conceito Planeta Casa com base em três pilares: sustentabilidade, tecnologia e afeto. A ideia é partir do indivíduo e sua relação com o mundo para estabelecer pontes com os temas urgentes da contemporaneidade.
Minha única ressalva diz respeito ao percurso de visitação, que poderia ter iniciado pelo palacete, passando pelo segundo pavimento da mostra e sendo finalizado no Pátio Milano, com as opções de gastronomia. Da maneira como foi pensado, comprometeu o entendimento coerente e linear da exposição como um todo, fragmentando a percepção do visitante.
Comportamento, tecnologia e arte
Observando os ambientes, percebe-se de forma mais evidente em alguns espaços o olhar abrangente do profissional sobre o habitar como reflexo social, aliando comportamento, função e estética. O próprio palacete reflete o conceito de restauro contemporâneo e tem uso adequando ao momento atual; o Pátio Milano traduz a tendência do compartilhamento do espaço coletivo; e no geral as operações gastronômicas mostram como a arquitetura e o design são fortes ferramentas de inovação e diferencial no varejo.
Antes de falar sobre o que está em voga, as ditas tendências, importante reforçar que mostras são oportunidades para expor o pensamento do profissional, seu repertório, bagagem técnica, cultural em um momento de total liberdade criativa, ampliando a visibilidade do profissional. O momento é de propor ao visitante experiências sensoriais baseadas em conceitos bem fundamentados e representados.
No plano das boas ideias e usos recorrentes, destaco os materiais naturais espalhados pelos ambientes, e o contraponto dos elementos industriais aparentes; o uso de mobiliário em ferro e madeira, principalmente clara; as texturas nos revestimentos, tapetes e objetos. A tecnologia óbvia pode ser observada nos smart speakers, ou caixas de som inteligentes, por exemplo, mas está em todos os ambientes a partir dos produtos lançados pela indústria, cada vez mais sofisticados no que tange aos processos de fabricação, materiais, eficiência e alta performances. De todos, os que mais chamam a atenção são os acabamentos incontáveis dos porcelanatos, os pisos de madeira e as pedras, tanto sintéticas como naturais.
Para finalizar, é preciso falar sobre o campo das artes visuais na CASACOR Santa Catarina, uma conexão necessária entre o artista, sua obra e o público final. A edição de Florianópolis consolida um longo caminho na formação do olhar do profissional para obras de qualidade artística indiscutível. Tivemos boas surpresas em vários ambientes e, ainda, dois espaços especialmente dedicados às obras como a Galeria no casarão Hercílio Luz, com projeto da arquiteta Eduarda Tonietto e curadoria de arte contemporânea da pesquisadora e Juliana Crispe, e a Galeria 3A, projeto do arquiteto Rico Mendonça que valoriza a produção de Pita Camargo e outros artistas.
#ficaadica – Visite com calma para observar cada detalhe e aproveitar as boas ideias, as soluções, deixar se encantar com um objeto ou com o conjunto do projeto do arquiteto ou designer de interiores. Boa visita!
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