Um dos mais atuantes artistas de Santa Catarina, Sérgio Adriano H, que vive e atua entre Joinville (SC) e São Paulo (SP), celebra os 20 anos de carreira com o projeto “Ser Negro”, exposição com curadoria de Juliana Crispe que no dia 10 de março, às 20h, abre na Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, em Joinville. Antes, às 19h, no auditória da Casa da Cultura, o artista faz a palestra “Ser Negro – Um Corpo Sem Direitos”. Ao mesmo tempo, até 4 de abril, o artista expõe “Não Consigo Respirar”, na Sala Sete do Museu Fábrica de Arte Marcos Amaro (Fama), localizado em Itu, interior de São Paulo que reúne expressivo acervo do colecionador que lhe empresta o nome. A curadoria no prestigiado espaço de arte contemporânea é de Claudinei Roberto da Silva.
Com uma arte de engajamento e luta contra a invisibilidade da produção afro-brasileira no circuito de arte contemporânea, as duas exposições concentram trabalhos bastante provocadores sobre a questão do racismo estrutural brasileiro. Uma instalação em especial estabelece uma conexão entre os dois projetos expositivos: De 2021, montada pela primeira vez em Itu, “Não Consigo Respirar”, se constitui de duas frases recortadas em placa de acrílico: “Nasceu Preto, Viado e Pobre” e “Deve Ter Feito Algo Muito Grave na Outra Vida” estão montadas em Joinville.
Não à toa, a instalação se apropria das últimas palavras de George Floyd, homem negro norte-americano que em 2020, nos Estados Unidos, foi algemado, jogado ao chão e sufocado até a morte por um policial branco. O drama dos rejeitados e excluídos, quer pela cor da pele, da sexualidade ou das condições sociais, o racismo, a homofobia e as injustiças constituem o pensamento deste artista negro. Por meio de luz solar e um recurso simples, o artista projeta as duas frases da instalação. Fora a gravidade do que se populariza em dizeres recorrentes, a fatura dessas obras convida a estabelecer conexões com a história da arte de Joinville e na produção específica de Luiz Henrique Schwanke (1941-1992) que, no fim da vida, criou trabalhos sobre a questão do claro-escuro. De modo distinto, Sérgio incorpora a luz, tanto na impressão de um de seus carimbos quanto nas paredes numa projeção efêmera que depende da posição solar dentro do espaço expositivo. Embora com definições formais muito diferentes, os dois artistas buscam revelar a existência do invisível, do inefável; no caso de Sérgio ele captura algo crucial da própria experiência no enfrentamento do preconceito racial.
Ser Negro
Em 2022, depois de Joinville, o itinerário da mostra “Ser Negro” contempla o Museu de Arte de Santa Catariana (Masc), em Florianópolis (SC) e prevê intervenções na rua em frente ao Museu de Arte de Blumenau (MAB), em Blumenau (SC) e na praça Coronel Bertaso, em Chapecó (SC). Por fim, ocorre nas calçadas em frente às galerias Choque Cultural, em São Paulo (SP) e no Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), no Rio de Janeiro (RJ).
Na noite de abertura também está prevista na galeria, uma sessão de autógrafos do livro “Apontamentos da Arte Africana e Afro-Brasileira Contemporânea” (Editora Invisíveis Produções), da pesquisadora Célia Maria Antonacci. Trata-se de um trabalho fundamental que amplia a compreensão da arte brasileira sob uma nova ótica. Sérgio Adriano é um dos artistas incluídos na seleção da autora, ao lado de outros nomes da arte afro-brasileira, como Walter Firmo, Rosana Paulino e Bispo do Rosário. Entre diferentes temas, ela reflete sobre o significado dos novos tempos na arte e na sociedade, o devir-negro no Brasil e o protagonismo político poético afro-brasileiro.
Tempo de conquistas
O livro e as palavras são estruturantes na exposição “Ser Negro”, que propõe uma reflexão sobre os 20 anos de trajetória de Sérgio Adriano H. Pela primeira vez, ele faz uma individual na Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, espaço localizado na Casa da Cultura que também abriga a Escola de Arte Fritz Alt, ponto inaugural no currículo do artista em 2001.
Para celebrar as conquistas alcançadas em duas décadas de intensa atuação, Sérgio convida a pesquisadora e curadora Juliana Crispe, hoje um dos nomes mais sólidos do circuito de arte de Santa Catarina pela amplitude de suas conexões, pensamento e sensibilidade descolonial. A seleção curatorial enfatiza o livro e resulta de certo modo numa síntese em torno de uma produção que discute vida e morte, o tempo e o espaço, a paisagem e a arquitetura tendo como dispositivo o próprio corpo do artista, a palavra e a história. As investigações de boa parte destas obras passam pelas enciclopédias, dicionários, livros de arte e revistas em que ele rasura, pinta, recorta, imprime e sulca.
O artista constrói suas imagens a partir de fotos, vídeos, instalações e objetos com os quais questiona o sistema simbólico chamado “verdade”, um conceito nem sempre contemplado nos livros da história do Brasil, cujos textos apostam no apagamento social dos negros, negam a identidade racial e violentam aqueles que são hoje, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o maior contingente populacional do país. A invisibilidade e os seus efeitos se afirmam por meio de um discurso de cordialidade, da negação do racismo estrutural e pela violência com números estarrecedores de homicídios, nos quais jovens e negros aparecem sempre no patamar das vítimas.
Fora do âmbito da mostra, pertinente olhar a lista de pessoas e cidades envolvidas neste projeto. As ressonâncias alcançadas pelo pensamento e produção de Sérgio Adriano H ganham cada vez mais aderência e interesse. Neste momento, ele envolve nove profissionais, seis de Santa Catarina (de Joinville e Florianópolis), um do Rio Grande do Sul e dois de São Paulo.
O certo é que a individual “Ser Negro”, que abre a agenda de 2022 da Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew e que em breve estará em Florianópolis, no Museu de Arte de Santa Catarina, assume grandeza pelos trabalhos e sua proposição reflexiva, urgente e necessária, sobre arte e engajamento anticolonialista.
Sobre Sérgio Adriano H
Nasce em 1975, em Joinville (SC). Artista visual, performer e pesquisador. Vive e produz entre Santa Catarina e São Paulo. Formado em artes visuais e mestre em filosofia. Tem trabalhos em acervos públicos e particulares. Incluído em 2014 no livro “Construtores das Artes Visuais: Cinco Séculos de Artes em Santa Catarina” como um dos 30 artistas mais influentes do Estado, já integrou mais de 120 exposições individuais, coletivas e salões. Conquistou, entre outras premiações, o Reconhecimento por Trajetória Cultural Aldir Blanc SC (2020) e a Medalha Victor Meirelles – Personalidade Artes Visuais (2018), concedida pela Academia Catarinense de Letras e Artes (Acla). Com objetos, fotografias, vídeos e instalações, sua produção se situa na clave arte e engajamento. O corpo, a palavra e a história são ferramentas discursivas que incorporam a cidade, o percurso e o diálogo com o público. Seus trabalhos problematizam noções sobre o tempo e espaço, a arte e a filosofia, faz pensar a partir do que pode ser convencionado como uma poética da dúvida. Sérgio Adriano H luta contra a invisibilidade da produção afro-brasileira no circuito de arte contemporânea.
FICHA TÉCNICA
Sérgio Adriano H | artista
Juliana Crispe | curadora
Jan M.O. | design
Cyntia Werner | assessoria educacional
Baixo Ribeiro, Igor Simões, Rodrigo Domingos, Sheyla Ayo e Simone Henrique | palestrantes
Priscila dos Anjos | workshops
Néri Pedroso | imprensa e revisão
Exposição
O quê: Exposição “Ser Negro”
Quando: 10.3.2022, 20h (abertura). Até 10.4.2022. Seg. a sex., 10h às 16h
Onde: Casa da Cultura Fausto Rocha Junior, Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, rua Dona Francisca, 800, bairro Saguaçu, Joinville, tel.: (47) 3433-2557
Quanto: Gratuito
Palestra
O quê: “Ser Negro – Um Corpo Sem Direitos”, do artista Sérgio Adriano H
Quando: 10.3.2022, 19h
Onde: Auditório da Casa da Cultura Fausto Rocha Junior, Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, Dona Francisca, 800, bairro Saguaçu, Joinville, tel.: (47) tel.: (47) 3433-2557
Quanto: Gratuito
Sessão de autógrafos
O quê: Sessão de autógrafos do livro “Apontamentos da Arte Africana e Afro-Brasileira Contemporânea” (Ed. Invisíveis Produções), de Célia Maria Antonacci
Quando: 10.3.2022
Onde: Casa da Cultura Fausto Rocha Junior, Galeria Municipal de Arte Victor Kursancew, rua Dona Francisca, 800, bairro Saguaçu, Joinville, tel.: (47) 3433-2557
Quanto: R$ 70,00
REALIZAÇÃO
Edital Elisabete Anderle de Estímulo à Cultura – Artes – 2021, Fundação Catarinense de Cultura (FCC), Governo do Estado de Santa Catarina
APOIO CULTURAL
Secretaria de Cultura e Turismo (Secult), Prefeitura de Joinville,
Museu de Arte de Blumenau (MAB), Galeria Choque Cultural (SP) e Instituto de Pesquisa e Memória Pretos Novos (IPN), Rio de Janeiro (RJ)
Fonte: com assessoria de imprensa