Santa Catarina é um estado em que a história da colonização se confunde com o desenvolvimento industrial. Pode-se dizer que a indústria catarinense atravessou o oceano a bordo do conhecimento e experiência dos imigrantes que aqui chegaram a partir de 1860, oriundos de diferentes países da Europa central.
A interação apropriada entre produção agrícola e fomento pré-industrial, gerou um desenvolvimento precoce, que serviu para estabelecer raízes para o desenvolvimento social e a economia sólida que vieram a representar o estado.
A palavra engenho descreve bem o tipo de conhecimento curioso e ativo que dominava a atividade produtiva, atendendo à absoluta necessidade de geração de bens e alimentos que se impunha à população, também manifestando uma paixão pelo fazer, que não se esconde, e que se expressa, ainda hoje, no modo de fazer local.
Muitos dos que aqui chegaram, eram urbanos, e entre estes, muitos operários, trabalhadores da indústria européia que contabilizava 100 anos de história naquele então.
O padrão de minifúndios, associado à indústria trouxe um resultado efetivo em desenvolvimento e melhoria do estado de vida das populações. A constante relação que continuou existindo entre os colonos e seus países de origem, permitiu e inspirou melhorias contínuas, criando ritmado impacto tecnológico nos modos de fazer que se desenvolveram.
Por outro lado, foram incorporadas maneiras de fazer e materiais locais, respondendo às necessidades de adaptações climáticas e culturais, o que se percebe em processos e também em resultados estéticos.
Associadas habilidades, talentos, conhecimentos, e materiais, com a necessidade constante de suprir de bens variados os grupos crescentes de imigrantes, que chegavam com necessidades de tudo, e deviam no mais das vezes, obtê-lo aqui mesmo, os negócios prosperaram, se multiplicaram e desdobraram em muitos, permitindo a multiplicidade do panorama industrial, até à diversidade atual.
Grupo de Calçados de Segurança produzidos pela Viposa de Caçador
Com uma grande costa de praias banhadas pelo atlântico – muitas delas destruídas pela exploração imobiliária inconsequente, que só percebe valores imediatos, desconsiderando o longo prazo! – em toda borda leste, enquanto o oeste, muito mais estreito, se estende na profundidade das planícies que comparte com Argentina e Paraguai. No sentido longitudinal, um desnível de mil metros entre a planície praieira e o primeiro planalto, criam cenários difíceis de transpor mas que garantem espetáculos geológicos que abrigam diversidade de flora e fauna. O estado é atravessado à oeste pelo Rio Uruguai, que já por esta altura se vai agigantando para virar o Mar da Prata no sul do continente.
A convivência de diversos ecossistemas num espaço físico relativamente pequeno, 95.000 Km quadrados, faz de SC um lugar de geografia heterogênea, de paisagens contrastantes, no mais das vezes, lindas, características que também favorece o surgimento de um sistema produtivo sofisticado, e diverso.
A produção industrial está presente no estado todo com características próprias de cada microrregião, determinadas pela geografia, por estes antecedentes históricos e culturais que continuam a marcar profundamente o jeito de fazer.
Cerâmica Ceraflame, São Bento do Sul.
Florescem no estado arranjos produtivos e ambientes empresariais que funcionam também como sementeiras de empresas que se integram e complementam resultando em ambientes produtivos complexos. A convivência de diferentes formatos, tamanhos, propostas e realidades produtivas, contribuiu para uma diversidade empresarial e industrial saudável, configurando-se assim uma marca do estado.
Atualmente o panorama produtivo é amplo e vai de botões à aviões atendendo às necessidades e desejos de públicos cada vez mais diversos.
Santa Catarina se posiciona atualmente entre os ambientes produtivos mais expressivos do pais, e do mundo. A proximidade entre setores produtivos afins é um dos aspectos a destacar, especialmente na medida em que o conceito de design é introduzido e traz uma capacidade de circulação de informação e conhecimento que permeia processos e produtos, mas também por valores e comportamentos.
Se há mais de cem anos nosso entorno econômico se conduz a partir de raciocínios industriais compatíveis com o mundo, falta-nos no entanto, uma percepção identitária que valorize a condição produtiva que construímos ao longo destes mais de cem anos de história.
Colar em feltro bordado, realizado pela Vêneto Acessórios Têxteis para Estúdio Orbitato – Foto Pedro Caetano
Também parece ter chegado o momento em que é necessário mais do que produzir, pensar sobre o que se produz, como, por que e para quem. Usar bem cada recurso disponível e aproveitar a “vizinhança” fazendo valer a força do conjunto que criamos. Esta é uma hora mais do que oportuna para um olhar-se, reconhecer-se e avançar de maneira coletiva. É o momento em que a palavra “engenho” vem a ser requerida, desta vez para compreender o agora e decidir caminhos. Já não há mais uma necessidade imperativa de bens, não temos mais hordas de pessoas necessitando de produtos.
Estampa rotativa – Estaria Cores e Tons – Foto Willian Bucholtz
Há um estado lindo que se enfeia. Há uma malha hídrica suja e desprezada. Há uma falta de inteligência coletiva, que se expressa em poucos espaços de diálogo. Há uma malha rodoviária deficitária….
Por outro lado, há desejo de poder se aproveitar melhor os recursos que temos, tanto os naturais quanto culturais e produtivos. Há oportunidades para novas e diferentes formas de fazer. Há espaço para produtos de qualidade, que atendam necessidades específicas, através de identidade e diferenciação ou de capacidades funcionais. Há espaço e desejo para soluções coletivas, criativas e quem sabe mais alegres. Um novo mundo por descobrir, ou para inventar! Que este novo canal seja um canal de dialogo!