Realizado em Porto Alegre, entre os dias 9 e 12 de outubro, o 21º Congresso Brasileiro de Arquitetos – CBA, contou com a participação de quase 3 mil arquitetos e urbanistas de todo país. Além deles, muitos foram os participantes avulsos que, ao passar pela Praça da Alfândega (foto 1), pela Rua dos Andradas, pela UGRGS, ou por qualquer um dos 13 espaços onde foram realizadas atividades do congresso, foram atraídos pelas ações promovidas pelo 21º CBA. Esta distribuição das atividades pela cidade já indica o perfil do Congresso, de apropriação e valorização da cidade, permitindo também a reflexão em relação ao tema proposto, Espaço e Democracia. No caso de Porto Alegre, cidade com riquíssimo patrimônio cultural e arquitetônico, a realização do Congresso nestes locais nos permitiu contemplar espaços singulares, que muitas vezes acabam esquecidos e subutilizados na dinâmica urbana. Ver e sentir Porto Alegre viva e de perto já foi em si, uma experiência especial (foto 2).
Entre palestras, mesas de debates, ações culturais, apresentações de trabalhos acadêmicos e de projetos arquitetônicos e urbanísticos, o CBA se mostrou bastante plural, procurou contemplar as inúmeras atividades profissionais que os arquitetos podem desenvolver. Na noite de abertura, a palestra foi com Ermínia Maricato, uma das mais influentes e importantes pensadoras da condição urbana brasileira. Em sua fala, um alerta aos arquitetos sobre a importância de atuarmos em prol de cidades humanas e inclusivas.
Destacamos também a concorrida palestra do arquiteto Isay Weinfeld, que, na sua arquitetura (Foto 3), foca na importância da simplicidade e ‘daquilo que tem dentro’ dos prédios, busca fugir de modismos em sua prática. Polemiza também em relação ao papel do automóvel nas cidades, defende que o futuro das cidades deva focar no transporte público ou a pé.
Arquitetura social
Os dias, intensos e cheios de atividades paralelas, foram encerrados no Salão de Atos da UFRGS, com palestras que convergiram para a urgência da atuação social dos arquitetos e urbanistas, sobretudo no âmbito da habitação social. O tema da habitação foi, de fato, bastante tratado no Congresso, com várias apresentações de experiências exitosas, tais como o projeto para a comunidade da Cerâmica Anita, na cidade de São Leopoldo e da ‘AH! Arquitetura Humana’, em projetos para movimentos de moradia – 20 de novembro e 2 de junho. Bete França apresentou projetos realizados em São Paulo (foto 4), como o Cantinho do Céu, na zona sul de São Paulo, projeto do arquiteto Marcos Boldarini. As experiências da CODHAB, no Distrito Federal, também tiveram bastante repercussão, com apresentações de Gilson Paranhos, grande mentor do programa de assistência técnica que se tornou referência na atuação do poder público no âmbito da habitação social, e de Luiz Sarmento, um dos arquitetos que atuou na companhia desenvolvido entre os anos de 2015 e 2018.
Empreendedorismo na habitação
Experiências de empreendedorismo em habitação tiveram destaque, como o caso do Programa Vivenda (foto 5), de São Paulo, que promove reformas nas áreas pobres das cidades, um campo profissional que poucos arquitetos têm atuado, mas que representa mais de 50% da população. Ainda nesta temática, um dos pontos altos foram as participações internacionais, com apresentações da Sandra Bargas e Ramon Fratti, da FUCVAM (foto 6), sobre o modelo de cooperativas habitacionais uruguaias, Emilio Becerra, da UKAMAU, com atividades de habitação social no Chile e da Juliana Simionato, da TETO, com atuação em 19 países da América Latina, sendo o Brasil um deles. Dada a importância do tema e a potência das discussões realizadas, a pauta da habitação social aparece com força na carta da cidade de Porto Alegre (ver anexo), resultado concreto dos debates realizados.
BIM e concursos públicos
Em relação à produção arquitetônica contemporânea, foram realizadas apresentações do Estúdio 41(PR), MAPA (RS/Uruguay), Andrade Morettin (SP), Arquitetura Nacional (RS), Arquitetos Associados (MG), Studio Prudêncio (RS), Metro arquitetos (SP), Brasil Arquitetura (SP). Além de projetos e obras, os escritórios trataram também da consolidação do uso de ferramentas BIM (building information modeling) no desenvolvimento de seus trabalhos e muitos apresentaram suas experiências em concursos públicos de projetos de arquitetura e urbanismo, debate que contou com uma mesa específica, inclusive por se tratar de uma das principais pautas do IAB, organizador do CBA.
Mulheres Arquitetas
Outro tema bastante debatido foi o espaço das mulheres na profissão e sua inclusão na cidade (foto 7). A começar pela principal homenageada do 21º CBA, uma mulher. A Arquiteta e Urbanista Briane Bicca ficou conhecida como um dos principais nomes da luta pela preservação do Patrimônio Histórico e Cultural brasileiro. Entre os grupos e coletivos de mulheres participantes, estiveram as Arquitetas Invisíveis (DF), as Arquitetas Negras (MG), Mulher em Construção (RS) e do Grupo de Trabalho de Mulheres do Fórum dos Presidentes dos CAU/UF e da Comissão Temporária de Equidade de Gênero do CAU/BR. Um debate importante e que se consolida como ação afirmativa do Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Brasil em prol da equidade tanto na profissão quanto no espaço urbano.
No âmbito do planejamento urbano também tivemos conteúdos potentes, como a apresentação da metodologia e das estratégias do Plano Diretor de São Paulo (foto 8), reconhecido pela ONU como uma prática urbana municipal inovadora. Foram abordados também assuntos como a economia circular – apresentado pelos catarinenses Alexandre Gobbo (foto 9) e Edson Cattoni –, um convite para a reflexão em relação ao resíduo da construção civil e a importância de se projetar espaços e cidades com materiais renováveis. Nesta mesma linha, uma das últimas apresentações realizadas tratou da Nova Agenda Urbana e dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável propostos pela ONU (foto 10), foram apresentadas práticas relacionadas ao tema e em especial, apresentada a iniciativa do METRODS – Observatório Metropolitano dos ODS, que contribui com dados para a medição das metas para a agenda da ONU na gestão pública.
Por fim, ainda faltou comentar sobre muitos assuntos dentre todos tratados no Congresso, o que reforça a pluralidade do evento. Ao final, foi feito um convite para o Congresso Mundial de Arquitetos e Urbanistas, que será realizado pela primeira vez no Brasil entre 19 e 23 de julho de 2020, na cidade do Rio de Janeiro. O evento é organizado pela União Internacional de Arquitetos – UIA e no Brasil o responsável é o IAB.