Quem foi Meyer Filho? Quais foram suas lutas, suas derrotas e teimosias? O homem que se autoproclamou embaixador de Marte na Terra, desenhou e pintou um planeta imaginário repleto de jardins. Abriu a mente de florianopolitanos para a crença de um pedaço de solo distante, florido, bonito onde não existia guerra, luta, nem disputa por poder. Os causos fabulados também viraram temas de suas crônicas publicadas no extinto Jornal O Estado.
Toda essa vasta e intensa produção de 50 anos, que ele chamava de Arquivos Implacáveis, está sendo pesquisada e selecionada para integrar exposição de mesmo nome que irá acontecer em 2022, no Museu de Arte de Santa Catarina (Masc), em Florianópolis – a celebração foi transferida por conta da pandemia.
Por meio de uma iniciativa do Instituto Meyer Filho, presidido por sua filha, a artista e educadora Sandra Meyer, em parceria com o Masc, o centenário será reavivado na memória coletiva. O projeto “Arquivos Implacáveis de Meyer Filho” já está acontecendo e faz jus à vida e legado do grande artista catarinense Ernesto Meyer Filho.
CURSO MEYER FILHO, TERRA EM FUGA
“Celebrar o centenário é um marco histórico para reconhecer e dar mais visibilidade a uma trajetória complexa e que envolve resistência, persistência, luta pelo lugar da arte e cultura na cidade e Estado, afirmação de linguagem, etc. O arquivo dele é ainda pouco conhecido e estudado, tem muitos aspectos além das pinturas já conhecidas, que o celebrizaram, como os galos”, diz Sandra.
Centenário e Arquivos
No período de 1940 a 1980 encontra-se um amplo acervo de documentos, imagens e obras pertencentes ao artista. Material que está sendo desdobrado em outras mídias com a intenção de democratizar o acesso à história e deve chegar longe, segundo a vontade da idealizadora do programa. Tem ainda a publicação de um livro, a realização de um seminário com três encontros, cursos, a produção de um vídeo documental e uma plataforma que irá concentrar todo o conteúdo.
A preservação da memória irá passar pelo processo de digitalização, conservação e catalogação. A coordenação geral é de Sandra Meyer, presidente do Instituto Meyer Filho, e a equipe curatorial do projeto é composta por Kamilla Nunes, curadora geral, Gabi Bresola, curadora adjunta, e Aline Natureza, curadora assistente.
“Ele lutou obstinadamente para provar o seu valor e o da arte catarinense. Meyer era um homem engajado, comprometido com seu trabalho, família, e absolutamente com a missão que acabou pegando para si. A percepção que sua arte poderia alcançar lugares distantes, por isso que ele lutou, enfrentou tempos difíceis, pessoas incrédulas, falta de apoio. Também construiu alianças que perduram até hoje”, pontua Sandra.
Quem conhece Meyer Filho?
O artista catarinense nascido em Itajaí, em 1919, veio para Florianópolis com a família quando tinha apenas 3 anos de idade. Na Capital Catarinense fincou suas raízes, construiu a família, a carreira no Banco do Brasil que garantiu o sustento da esposa e dos filhos. O trabalho também ajudou a realizar seu desejo de criar possibilitando a aquisição de material de desenho.
Engana-se quem pensa que conhece Meyer a fundo. O irreverente homem comum que labutava no banco todo santo dia, entre cálculos, cédulas e charges. Das performances que quebraram a rigidez da conduta social da época, da relação artística inusitada que travava com os meios de comunicação. O pai zeloso, o amigo da hora da cerveja no boteco. Foi um dos fundadores do Grupo de Artistas Plásticos de Florianópolis (GAPF) e organizador dos dois primeiros Salões de Arte Moderna de Santa Catarina, entre 1958 e 1959.
“Arrombastes, Floripa!”, exclamava em voz fina, forte, em caixa alta em pleno centro da cidade. A frase ganhou um outdoor que ele próprio encomendou como resposta indignada aos moradores da Capital sobre a menção que só pintava galos!
O projeto “Arquivos implacáveis de Meyer Filho” tem patrocínio da KREDILIG, ORSITEC e CASSOL Centerlar, viabilizado pela Lei de Incentivo à Cultura, com a realização do Instituto Meyer Filho, Museu de arte de Santa Catarina, Fundação Catarinense de Cultura, Governo do Estado de Santa Catarina. A programação será divulgada em breve.
Fonte: com assessoria de imprensa.