A artista visual Letícia Cardoso abre “Rodar o Deserto” no dia 10 de outubro, às 19h30h, na sala Edi Balod – Espaço de Exposições e Laboratório de Artes Visuais, na Unesc (Universidade do Extremo Sul Catarinense). O trabalho, contemplado pelo Edital Elisabete Anderle 2017 na categoria Artes Visuais, da Fundação Catarinense de Cultura, compreende exposição e publicação.
“Rodar o Deserto” é um desdobramento do vídeo “Austin ⇔ Paris: um ruído entre Jane e Travis (2009-2010)”, gravado por Letícia nos Estados Unidos a partir da bolsa de residência para artistas Fundação Iberê Camargo/ Blanton Museum of Arts/ University of Texas/Austin 2009-2010. Na realidade, o novo trabalho nasce a partir da perda do material original.
Entre outubro e dezembro de 2009, na residência artística, Letícia percorreu de ônibus a extensão de deserto nos Estados Unidos entre Austin e a cidade de Paris, no Texas, cenário do longa-metragem “Paris, Texas”, de Wim Wenders, captando o trajeto com uma câmera de celular e estabelecendo diálogos com o filme do cineasta. Em 2010, finalizou o primeiro corte e montagem do vídeo, que se apropria também de imagens do longa de Wenders. O vídeo foi exibido no 32º Panorama da Arte Brasileira do MAM, “Itinerários e Itinerâncias” e na mostra “Convivências – dez anos de bolsa Iberê Camargo”, que ocorreu Museu Iberê Camargo em Porto Alegre (RS).
Porém, em 2015, a artista perdeu o HD externo com as 15 horas filmadas e todas as fotografias. Restaram os registros que estavam disponíveis na rede: no Google Art Project, via Vimeo, e em fragmentos de textos e imagens que ficaram preservados em e-mails trocados com amigos e artistas.
Em “Rodar o Deserto”, Letícia elabora essa perda do vídeo original, entregando uma série com prints screens do material, com imagens da travessia feitas a partir da perspectiva do ônibus pelo deserto. “Eu imaginei estas imagens como um horizonte no espaço expositivo, uma linha, ou seja, aquilo que pode ser um chão árido, também pode ser uma saída”, explica.
A exposição será realizada como um grande panorama formado por 42 imagens no formato de 14 x 60 cada, e uma publicação no formato bloco, que o espectador pode ter como um livro de artista ou destacar e fixar na parede tipo lambe-lambe. Letícia também inclui alguns cartões postais feitos com as fotos que ela captou durante as paradas de ônibus e que trazem diálogos do filme de Wenders.
A ideia da artista não é recuperar o trabalho perdido, mas elaborar os buracos da perda. Por isso, as imagens ganharam um filtro que alterou a cor e assume-se a baixa resolução como recurso – o low tech, a pobreza, o resto que sobra, é o que a interessa em “Rodar o Deserto”.
“Trabalhar o vazio, não significa preenchê-lo, mas olhar para ele, trabalhar a impotência neste caso, pois não posso recuperá-lo, mas posso ressignificar ou reler a perda, algo que se aproxima de um processo de terapia. Às vezes somos formados mais por nossos atos falhos, lapsos, erros, do que pelo que aparentemente acertamos. Como diz o Francis Allys “às vezes fazer algo, é não fazer nada””, enfatiza a artista. A exposição também ocorrerá em Florianópolis, ainda sem data definida, também dentro do prêmio do Edital Elisabete Anderle.
Uma promessa de ‘reimaginar o futuro”
O texto de apresentação da exposição/publicação é da curadora Cristiana Tejo, que entre importantes exposições, assinou com Cauê Alves o 32º Panorama do MAM-SP, de 2011, no qual o trabalho “Austin ⇔ Paris: um ruído entre Jane e Travis (2009-2010)” foi selecionado. Tendo acompanhado o trabalho de Letícia Cardoso em várias exposições desde 2001, Cristiana Tejo entra na proposta de “Rodar o Deserto” e apresenta o novo trabalho como uma carta que escreve à artista.
“O deserto tanto remete ao terreno desértico emocional que o filme de Wenders evoca quanto a extinção das imagens que estavam guardadas em seu HD… Algo que foi filmado e armazenado digitalmente é recriado num suporte analógico formando um novo percurso e circuito para as imagens. Os frames do vídeo transformam-se em publicação impressa e em postais, formas de comunicação características do século XX, época em que ‘Paris, Texas’ foi feito e em que a distância geográfica era concreta e brutal, antes dos tais amores líquidos, conceituados por Zygmunt Bauman, e das redes sociais que têm centralidade tanto na vida privada quanto na pública. Pegar nos objetos livro e postal e usufrui-los no tempo atual é uma tentativa de reinventar o querer. Não como uma ode ao passado, mas como promessa de reimaginação de futuro. Parir algo a partir do desaparecimento é pura pulsão de vida.”, discorre Cristiana Tejo. O design gráfico da publicação é de Vanessa Schultz.
Sobre a artista:
Letícia Cardoso é natural de Criciúma, graduada em Artes Plásticas na UDESC, mestre em Poéticas Visuais no Programa de Pós-graduação do Instituto de Artes da UFRGS e doutoranda no Programa de Pós-Graduação em Artes Visuais, da UDESC, onde é atualmente professora colaboradora de pintura. É também professora de pintura afastada da UNESC, para realizar o doutorado. Recebeu em 2009 a Bolsa Iberê Camargo de intercâmbio para artistas, em Austin, Texas; participou do Programa Rumos Itaú Cultural em (2001/2003) e do Programa Faxinal das Artes, residência de Artistas Plásticos Contemporâneos na vila de Faxinal do Céu, Pinhão, Paraná, (2002). Fundou e coordenou o Arquipélago, espaço de arte contemporânea em Florianópolis, que funcionou entre 2008 e 2010. Trabalhou no Museu Victor Meirelles/IBRAM de 2013 a 2015. (com assessoria de imprensa)
Serviço:
O quê: Abertura da exposição e lançamento de publicação “Rodar o Deserto”
Quando: 10/10, 19h30 (abertura), visitação até 31/10, segunda a sexta-feira, das 14h às 18h
Onde: Sala Edi Balod, UNESC, av. Universitária, 1105, Bairro Universitário, Criciúma-SC, tel. (48) 3431 4547
Quanto: Gratuito