O arquiteto Laurent Troost é um dos destaques na abertura do III Congresso de Arquitetura e Urbanismo de Santa Catarina promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo (CAU/SC), que acontecerá em Florianópolis nos dias 17 e 18 de novembro. Ele fará a palestra de abertura antes da premiação acadêmica 2022.
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O arquiteto belga que mora em Manaus foi recentemente vencedor na Categoria de Melhor Projeto da Edição do 9º Prêmio Saint Gobain AsBEA de Arquitetura, um dos principais concurso nacionais focados em sustentabilidade. O projeto premiado é do Casarão da Inovação Cassina, local para fomentar o coworking e o encontro de fazedores da economia digital, com espaços multifuncionais, salas de reuniões, laboratórios, salas de formação e um restaurante no último piso com vistas privilegiadas sobre o centro da cidade.
Chama a nossa atenção neste projeto justamente a intenção da reflexão e o conceito da beleza da imperfeição, de deixar à vista as camadas do tempo, e tornar esse critério o partido do projeto. “A preservação do estado de ruína tornou a intervenção um manifesto por ser também a última fachada com argamassa pigmentada com pó de arenito vermelho. Para tornar visível esta especificidade e paralisar a sua degradação, foram realizados minuciosos trabalhos de restauro”, escreve o arquiteto sobre o projeto.
abaixo texto do escritório Laurent troost Architetectures
Fotos Joana França
Construída em 1896 e em ruínas desde 1960, as fachadas degradadas assumidas pela vegetação geraram uma imagem poderosa e importante de tratar. A beleza da imperfeição da ruína suscita interesse, questionamentos e convida à reflexão sobre o passado e a ação do tempo e do homem na cidade e sobre o patrimônio construído de uma forma geral. Não é atoa que a imagética da ruína, com suas potencialidades poéticas e plásticas, foi explorada por inúmeros artistas e arquitetos: Piranesi, Gordon Matta-Clark, Robert Smithson, Lúcio Costa (Museu das Missões), Paulo Mendes da Rocha (Pinacoteca de São Paulo e Capela Brennand) e Ernani Freire (Parque das Ruínas), para citar apenas alguns.
No caso do Cassina, a preservação do estado de ruína tornou a intervenção um manifesto por ser também a última fachada com argamassa pigmentada com pó de arenito vermelho. Para tornar visível esta especificidade e paralisar a sua degradação, foram realizados minuciosos trabalhos de restauro.
Ainda relacionado ao imaginário das ruínas, o Cassina abriga um exuberante jardim atrás da fachada principal. Quem acessa o prédio pela passarela que atravessa o vazio sobre o jardim lembra a razão intrínseca de Manaus: a floresta amazônica. Este exuberante jardim tropical, associado a vidros, transparências e reflexos, mistura a História da ruína de Cassina com o Futuro da Casa da Inovação em um espaço associado à tecnologia, virtualidade e contemporaneidade.
Em termos de sustentabilidade passiva, além da ventilação cruzada em todos os andares devido à largura reduzida do edifício com a inserção do jardim, o Cassina apresenta um vão ventilado entre a laje e o teto do restaurante, além de amplos beirais em todas as direções , garantindo um ambiente termicamente confortável. A fachada leste, atingida pelo sol nascente, recebeu molduras contemporâneas com aletas de vidro temperado para criar uma fachada ventilada de dupla face, mantendo o calor do lado de fora.
Por meio da inserção de uma floresta tropical e de uma estrutura de aço industrial nas ruínas de uma casa histórica, o Cassina é a síntese dos ciclos econômicos de Manaus: a era da borracha, seu declínio, a era do Distrito Industrial e a era da nova economia digital.