Casa Cor SC edição Florianópolis encerra no domingo, dia 27 de outubro, e nós publicamos os highlihts da mostra olhando para conceito, repertório, exercício criativo, soluções, uso criativo dos materiais, adequação do projeto ao contexto, limpeza do traço, por exemplo. Reforçando que a mostra foi pauta da série de podcast em 4 episódios (ouça aqui), onde falamos sobre temas difíceis de abordar, de maneira mais densa, com a presença de convidados para debater sobre exercício criativo, restauro contemporâneo, futuros possíveis e arte no contexto das mostras de design de interiores. (acesse aqui para ouvir).
Também publicamos o artigo da editora Simone Bobsin sobre a importância da Casa Cor SC no cenário nacional (leia aqui), onde a jornalista discorre sobre os fatores que ajudaram a repercutir a mostra em nível nacional, e, ainda, sobre as razões que tornaram arrojada a edição de Florianópolis.
Highlihts da Casa Cor SC/Florianópolis 2019:
- Casa do ex-governador Hercílio Luz – Projeto de Eduarda Tonietto, com caráter museológico, onde em cada cômodo é contada um pouco da história do local na voz do ator Renato Turnes. A oportuna parceria entre a Casa Cor e a Incorporadora Cidade Milano ampliou a percepção de valor da própria mostra, incluindo no percurso de visitação o palacete construído em 1848, tombado como Patrimônio Histórico pela Fundação Catarinense de Cultura (FCC), completamente restaurado, com projeto do escritório Prospectiva Arquitetura. O destaque é a Galeria da casa, com uma mostra de arte contemporânea curada por Juliana Crispe.
- Pátio Milano – Projeto do escritório MarchettiBonetti +, o espaço com 560 m² tem layout fluído e possibilidades variadas de uso com lounges, mesas coletivas e convencionais. O conceito de food mall, com 10 operações gastronômicas, conferiu um perfil arrojado à Casa Cor Florianópolis, com repercussão nacional – além de mais atrativo, o local conseguiu fugir do modelo de café e/ou restaurante. Além disso, foi assertiva a decisão de inaugurar o Pátio durante a mostra e manter todos os projetos e as operações abertas ao público após o final do evento. O conceito do Pátio Milano reforça a ideia da incorporadora de se apresentar como ambiente de uso misto, com moradia, trabalho e lazer.
- Loft Pra Perto do mar – Segura de sua própria história, Juliana Pippi escolheu o mar como foco da narrativa do seu ambiente para a mostra. O loft “Pra Perto do Mar”, com 135m², explora os tons claros da areia, combinando texturas e elementos naturais com a tecnologia nos materiais. Arrisco a dizer que é unanimidade a sensação de leveza e bem-estar que a suavidade da sobreposição de tons gera nas pessoas. Não à toa, a arquiteta levou para casa 3 dos 6 prêmios da Casa Cor – categoria Prêmio Planeta Casa – Melhor adequação ao tema Afetividade, Ambiente Original Residencial, e Destaque eleito pelos escritórios participantes da mostra. As escolhas revelam a origem praiana da arquiteta, que nasceu na ilha de Santa Catarina e tem na praia seu refúgio para recarregar as energias. O ambiente integrado marca cozinha e sala de banho com uma moldura revestida por tijolos off-white. Juliana apresenta na mostra catarinense o mesmo material usado na grande mesa na mostra paulista, o Frame em granilite, de sua autoria. É dela ainda a assinatura do All White que reveste a bancada.
- Cloud Nine – O ambiente de Gabriel Bordin provoca o visitante ao se revelar aos poucos a partir da circulação da entrada, com paredes revestidas de molas de colchão ensacadas, mesmo material que cobre uma das paredes do quarto numa referência ao conceito proposto que é ‘estar nas nuvens’. Aliás, a cama batizada de Nuvem é uma criação do arquiteto em parceria com a Reveev, empresa de colchões patrocinadora do ambiente e que já participou de outras mostras, mas certamente este ano a marca tem muito mais chance de ficar na memória por conta do projeto de interiores que trocou o critério comercial óbvio pelo conceitual. O uso inusitado das molas, a paleta clara e o pórtico amadeirado que emoldura a janela formam um conjunto que reforça o conceito do ambiente. Vale ressaltar ainda as soluções que consideraram a tal sustentabilidade como o desenho do armário aéreo com modulação para ser adaptado em outros projetos, as molas que serão reutilizadas (cerca de 75%), e o teto que permaneceu em sua forma original. Cloud Nine merecia um prêmio em 2019.
- Porão Unilux – Restauro contemporâneo fala sobre respeito e inovação. O projeto do Porão materializa esse conceito ao propor uma intervenção que valoriza a memória do lugar ao mesmo tempo que imprime uma identidade atual ao espaço. Mérito dos jovens arquitetos com trajetória solo que se uniram para desenvolver o projeto: Beatriz Zeglin, Mariana Maisonnave e Desterro Arquitetos, que estreiam levando o prêmio de Melhor Ambiente Comercial e de Uso Público. Ponto alto para o sofá modular que permeia os ambientes, o uso de espelhos que ampliam o espaço, inclusive um deles com inclinação que segue o nível do terreno original, e a composição das cores azul do sofá, cinza do concreto e terracota dos tijolos dos arcos. O forro escuro reforça a atmosfera de porão, que tem na luminotécnica um dos destaques, principalmente no ambiente instagramável com a proposta “abra sua visão”, com um jogo de luzes de LED e espelhos. Preste atenção à instalação Casa de Luz, de Ingrid Zandomeneco, onde estão gravados os nomes das duas esposas, nove filhas e dez filhos de Hercílio. “Essa é a Casa de Hercílio, Etelvina Cesarina, Corália dos Reis, Alda, Bernardete, Carmem Maria, Célia, Conceição Maria, Cora Esperança, Climene Julieta, Hercília Catharina, Maria de Lourdes, Abelardo Venceslau, Aldo Firmino, Aldo José, Alfredo Filipe, Amadeu Felipe, Antônio, Arnoldo, Artur Agripino, Hercílio Pedro e José da Luz”, diz a artista.
- Cozy Office – Para um espaço que traduz um home office fluido e multifuncional, as profissionais do 3P Studio apostaram numa sutil setorização com mobiliário, cores expressivas como rosa e verde, e muitos detalhes, além de soluções como pórticos para janela e portas, criando outro ponto de interesse. O jardim com ervas e árvores frutíferas complementa a ideia de um ambiente que une trabalho e relaxamento, e ainda aponta para uma solução de iluminação artificial feita com uma cobertura de vidro, simulando a luz natural. Destaque para o revestimento da lareira, na parede e piso do jardim, produzidos a partir de resíduos de obras até embalagens de vidro de cervejas e refrigerantes. É delas também o projeto do Burger Dream, que atendeu ao pedido do cliente por um ambiente com aparência tecnológica. Destaque para o gradil na fachada e o grande balcão instalado na diagonal para criar movimento.
- Quarto Unplugged – Para além da narrativa da arquiteta Ana Luiza Tomasi sobre o espaço – que reforça a beleza do imperfeito – o quarto tem uma composição detalhadamente pensada desde o desenho setentinha do teto, aos tons neutros da paleta dos beges, ao layout e a distribuição correta dos objetos. O simples e essencial carrega um repertório sofisticado no ambiente de estreia da jovem arquiteta.
- Quarto dos Irmãos – Candidato a fofurice e a menção honrosa (se tivesse), o ambiente das arquiteta Talita Abraham e Tici Tieppo mexe com a memória e resgata valores óbvios e importantes como o brincar com brinquedos – vamos repetir conscientemente a palavra – educativos, de madeira e diversos. Independente do gênero, os objetos estão ali para servir ao brincar. Pontos de destaque: ambiente compartilhado, mobília solta e flexível que acompanha o crescimento da criança, e escolhas por tecidos de algodão e revestimentos produzidos a partir de resíduos de obras até embalagens de vidro de cervejas e refrigerantes.
- La Vie em Fleur – A marca de fragrâncias participa há vários anos da Casa Cor, mas foi a primeira vez que o projeto marcou forte presença na mostra, assumindo um protagonismo como ambiente comercial, indo além do próprio produto. As profissionais Cris Araújo e Linda Martins foram muito assertivas em explorar as duas vitrines voltadas para o pátio central, chamando a atenção para a loja. Os tons de rosa e as flores compondo cada detalhe do espaço carimbou o projeto na memória desta edição da Casa Cor. Merecia um prêmio.
- Espaço do Jornalista – Lucas Vitorino e Chara Yene Kokowise são jovens arquitetos estreantes na Casa Cor que se destacaram, no nosso ponto de vista, pelo traço firme no layout do espaço, que procura fazer um contraponto entre as linhas racionais e o mobiliário de formas arredondadas. O ponto alto do projeto não poderia ser outro se não a estante discreta de um lado e abusada do outro. Ao caminhar pelo ambiente, a peça vai se apresentando ao visitante iluminada, com livros e objetos que ocupam as prateleiras feitas em acrílico transparente. A iluminação é feita de tubo LED que fica oculto por tecido e valoriza a volumetria da estante de aletas.
- Caffè D`Oro – As histórias contadas pela família sobre o bisavó da dupla Cristiana Bez Delpizzo e Giovani Bez Delpizzo foram o partido para a concepção do ambiente sofisticado cuja intenção foi atualizar o modo de vida do seu Antonio Delpizzo, que era padeiro em Tubarão no início do século passado. Tudo começou quando Giovani encontrou uma pintura do bisavô paterno feita pelo artista Willy Zumblick em um papel de pão. A partir daí, eles trouxeram as raízes italianas e o gosto pela cozinha, pelo café e os pães. O ponto alto do ambiente planejado com cuidado e esmero é justamente o cantinho onde tem a tela e as poltronas, numa intenção de representar a cena do passado. Aliá, as duas peças são protagonistas no espaço, que tem como destaque ainda o requinte do desenho da cozinha feito pelo escritório incluindo as estantes soltas de Jader Almeida.
Operações gastronômicas
No geral, as operações gastronômicas atenderam de forma criativa e adequada o cliente real, considerando que todas as operações do Pátio Milano irão permanecer depois da mostra. Fique de olho aos detalhes, soluções e aproveite para experimentar as opções culinárias, o sorvete, o café, as cervejas e vinhos.
Destaque para a Pizza para todos, com projeto do trio Sandra Coral, Julia Zanette e Rodrigo Martins Gheller, que explorou a ideia da transparência, com design que facilita o acompanhamento do processo de produção da pizza. A estrutura original do prédio permaneceu exposta com destaque para o muro de gabião na parede preenchido com madeira reaproveitada de escoras de obras. A Boutique de Carnes, de Tauan Zanetta, tem layout bem definido, de fácil acesso e entendimento e uso de poucos materiais como madeira, tijolo e cimento queimado. Destaque para as grelhas metálicas e vidros canelados.
O projeto das operações da Frutaria e Tigela Roxa coloca lado a lado dois produtos distintos, com soluções criativas, aglutinados sob o mesmo teto, uma estrutura em metal com ripado de madeira que faz a união dos boxes e suaviza a iluminação com o rebaixo. Um expositor de metal divide a Frutaria da Tigela Roxa, que depois da mostra recebe o nome de Cumbuca, segundo o arquiteto autor do projeto, Guilherme Garcia. Cada operação traz uma identidade própria: a Frutaria é cheia de cores e sabores em expositores de madeira e bancadas feitas a partir de composto produzido com rejeitos da industria da tecnologia, e a Tigela Roxa, minimalista, em metal e pedra. Detalhes bem sacados: uso de chapas de metal, quadro instagramável e pequenas mesas para apoio.
Para prestar atenção: