A mostra [ gaveta(s)] é um dos desdobramentos da disciplina “Ação Educativa em Espaços Culturais”, oferecida no Centro de Artes da UDESC, na graduação e na pós-graduação.
Defende-se a ideia de que a mediação não deve ser a única atribuição afeta aos educadores desses espaços e reivindica que eles participem de todas as etapas de cada exposição, desde a ideia inicial das mostras até sua divulgação. Para mostrar que isto é possível, concebeu-se e realiza-se esta mostra, intitulada [ gaveta(s) ].
Trata-se de uma coletiva: várias autorias com liberdade propositiva que, além de levar em conta o conceito polissêmico de gaveta, escolhida pelo grupo, tiveram como fundamentos a concepção pedagógica de trabalho de arte e as ideias dos autores estudados na disciplina da pós-graduação.
“Gaveta[s] compartilhadas” é o título que Josy Souza deu ao conjunto de desenhos, ilustrações que dialogam entre si, compartilhando diversos sentidos em torno da ideia de trocas de memórias, inter-relações mediadas por matéria simbólica.
Luciano Buchmann, intitula seu trabalho de “memória subterrânea”, retoma sua trajetória, na qual registrava e dava sentido a “dores, amores, rancores, sabores”. Ele desenha aspirações. que contém a angústia dele e de milhares de brasileiros impotentes diante de forças dominantes.
Ana Sabiá apresenta um conjunto de três trabalhos, cada qual com três versões, trípticos contemporâneos sob a temática “Bela, recatada e do lar, 2016” (I, II e III), uma alusão ao momento político vivenciado no país, perspectiva específica de questionamento feminista, seu objeto de estudo permanente.
Airton Jordani apresenta seu trabalho intitulado “Fundo da gaveta, fundo da memória”, fotografias antigas de família, reconfiguradas pela técnica criada por Aloísio Magalhães, a partir de colagens de múltiplos cartões postais, denominada cartema.
“Lembrar é Existir” é o título dado por Tatiana Cobucci ao produto da sua ideia; apõe a ele outra opção, após essa designação, acrescenta “ou”, e “Como viver verdadeiramente se o aqui não o é mais e se tudo é agora?”, o que já diz muito sobre seu trabalho.
Neusa Duarte intitulou seu trabalho de “Por dentro de mim”, dizendo que é a criadora e conservadora das suas memórias, que contam sua história, traduzida em gavetas que escondem lembranças às vezes empoeiradas.
“Corpo-Encontro-Acontecimento-Conhecimento ou somente um ensaio sobre o corpo” é o título do trabalho de Fábio Wosniak, que nos desafia a “aprender a arte de mal-aprender, de saber que aprender é pensar e pensar é se divertir, pensar sozinho. Ninguém se perde por não entender.”
Maressa Macedo, em “Fique a vontade, só não mexa em nada”, questiona: o que determina a memória é o nível de consciência no momento da experiência? Existem níveis diferentes de consciência? Quais as memórias que guardo da infância? Se eu não visse nenhuma foto, lembraria do que elas mostram?
Mayra Flaminio foi buscar sentidos em cartas encontradas no fundo de uma gaveta, afirmando que sua vontade é a de trazer à tona e contar, de outro modo, aquilo que aconteceu no passado, ou que deixou de acontecer, histórias não vividas, potência sufocada: “vida que [não] aconteceu”.
Denilson Antonio quer despertar o olhar para dentro da ideia “De cabeça em cabeça”, vasculhando os arquivos da memória e vislumbrando sempre a ação educativa, prioridade sua, por ser ele um educador de museu.
A memória olfativa, gustativa e visual dos indefectíveis coquetéis de vernissage também é colocada em xeque, dada a invisibilidade do incompatível entre uma sala de exposição e o empapuço de petiscos gordurosos e calóricos – tema tantas vezes abordado pelo cinema – , salvo se os próprios alimentos fossem a matéria da poética objeto da mostra.
O que se pode observar é que se trata de um grupo formado por pessoas com passado, trajetórias e intencionalidades distintas, o que redunda em conceitos diferentes de memória, além dos diversos modos de abordar a temática. É o que o (S) do plural de gaveta bem o anuncia.
Resulta uma mostra multifacetada, mas não diluída, pois a potência dos trabalhos se concentra em um único foco, qual seja, tema memória e sua metáfora, [ gaveta(s) ], assim como no interesse de todos pela arte e pela interação dos seres humanos com ela.
Continente de memórias de gerações de educadores, o Museu da Escola Catarinense (MESC), também metaforicamente, consiste em uma gaveta no traçado urbano de Florianópolis, cheia de histórias e lembranças. Portanto, é muito oportuno que abrigue esta mostra.
Professora da disciplina Ação Educativa em Espaços Culturais
Sandra Ramalho e Oliveira
Serviço:
O quê: Exposição [ g a v e t a (S) ]
Abertura: 24 de agosto de 2016, às 19h
Visitação: de 25 de agosto a 8 de setembro de 2016. De terça a sexta-feira, das 10h às 18h; sábados, domingos e feriados, das 10h às 16h.
Onde: Sala Martinho de Haro – Museu Histórico de Santa Catarina
Localizado no Palácio Cruz e Sousa – Praça XV de novembro – Centro – Florianópolis (SC)
Entrada gratuita
Informações: (48) 3665-6363