Texto do Kuya’buka Restaurante enviado pelo escritório. O projeto é assinado pelo 3P Studio, das arquitetas Aline Pires e Natália Prates e da engenheira Julia Prado, e a DG Arquitetura, da arquiteta Lavínia Duzzo.
O KUYA’BUKA é um projeto de 200m², que atende a operação do Restaurante Cumbuca durante a CASACOR/SC Florianópolis. O projeto investiga a fusão entre leveza e brutalidade, realizando um mergulho no passado para recriar o presente e instigar questionamentos sobre o futuro. Foi concebido em três tempos: o início representa a dualidade dos materiais; o centro, o acolhimento, onde linhas marcantes do chão ao teto emolduram a paisagem; e, por fim, o contato direto com a natureza por meio de grandes aberturas que proporcionam o contato com a natureza.
Ao entrar no restaurante, a paleta de cores que nos envolve desempenha um papel fundamental na construção da atmosfera e na experiência sensorial que vivenciamos. Além de sua função estética, as cores quentes da terra também têm um profundo significado cultural. Elas refletem as raízes das tradições culinárias e a diversidade dos ingredientes, conectando as pessoas às origens dos pratos que estão prestes a degustar. Estas cores, que remetem à essência da natureza, trazem à mente imagens de terras férteis, especiarias vibrantes e alimentos frescos. O uso de tons como o terracota e o ocre nas paredes e nos móveis cria um ambiente acolhedor, convidando os clientes a relaxar e a desfrutar de cada momento. Essas cores são conhecidas por estimular o apetite e a convivialidade, fazendo com que as refeições se tornem uma celebração do sabor e da conexão humana.
Parede de reboco rústico
A técnica de revestimento com reboco rústico de argila é uma solução sustentável e de baixo impacto ambiental, valorizando os materiais naturais e locais. A utilização da terra extraída do próprio terreno da CASACOR é um exemplo de economia circular, pois reduz a necessidade de transporte e remoção de novos recursos. A adição de fibras como o sisal proporciona maior resistência ao reboco, garantindo durabilidade.
Além de ser uma técnica acessível, é uma alternativa que contribui para a sustentabilidade por ser biodegradável e não tóxica, promovendo um ambiente saudável. O reboco de argila também tem propriedades térmicas, auxiliando na regulação da temperatura dos ambientes, o que pode reduzir o consumo de energia.
Entulho reutilizado
A parede de entrada do restaurante e as bases das mesas construídas com resíduos de construção, provenientes tanto das obras realizadas na CASACOR quanto de obras da região, representam uma abordagem inovadora e sustentável que desafia a cultura do desperdício na construção civil. Envolta por uma tela metálica, essa estrutura não apenas utiliza materiais que seriam descartados, mas também serve como um poderoso símbolo de reflexão sobre a quantidade excessiva de lixo gerado pelo setor.
Esse método construtivo destaca a importância de repensar nossos hábitos e práticas na construção, mostrando que é possível transformar o que é considerado resíduo em um elemento funcional e estético. A parede não só promove a reutilização, mas também gera um diálogo sobre a responsabilidade ambiental, incentivando uma mudança de pensamento que valoriza a economia circular.
Além de sua contribuição para a sustentabilidade, essa obra provoca uma crítica contundente ao desperdício e nos faz pensar em buscar soluções criativas e responsáveis. Assim, a parede se torna não apenas um elemento arquitetônico, mas também uma declaração de compromisso com um futuro mais consciente e sustentável.
A diversidade de assentos
A escolha de diferentes tipos de assentos — bancos coletivos, poltronas, cadeiras e sofás — reflete um compromisso com a criação de um espaço acolhedor e convidativo. Essa diversidade permite que os visitantes encontrem o lugar perfeito para cada ocasião, seja uma refeição descontraída com amigos ou um jantar mais íntimo em família.
Cada tipo de assento traz consigo uma atmosfera única, incentivando a interação e o convívio. Os bancos coletivos promovem a sociabilidade, enquanto as poltronas e sofás oferecem conforto para momentos de relaxamento. Essa variedade não apenas enriquece a experiência, mas também proporciona um espaço onde todos se sentem bem-vindos. Ao integrar diferentes opções de assento, estamos criando um ambiente que valoriza a convivência, fazendo com que cada visitante se sinta em casa.
Reaproveitamento de pedra e tecidos
As mesas feitas de sobras de pedras que iram para descarte são uma afirmação de sustentabilidade e criatividade. Ao transformar o que poderia ser descartado em peças únicas e funcionais não apenas enriquece os espaços, mas também inspira uma nova forma de pensar sobre o design e o consumo.
As sobras de pedras, muitas vezes consideradas lixo, carregam em si a beleza da natureza e a história de sua formação. Cada mesa é uma obra de arte com texturas e padrões variados e representa um compromisso com a sustentabilidade.
A indústria de marmoraria gera uma quantidade significativa de resíduos, que muitas vezes acaba em aterros sanitários. Ao reutilizar essas sobras, contribuímos para a redução do desperdício, economizando recursos naturais e minimizando o impacto ambiental associado à extração e processamento de novas pedras.
A proposta de assentos feitos de retalhos de tecidos não apenas desafia o convencional, mas também traz um novo significado à noção de design, unindo estética, conforto e responsabilidade ambiental. O uso de retalhos transforma o que poderia ser desperdício em uma oportunidade de expressão artística.
A fluidez das curvas
A presença de curvas traz uma sensação de dinamismo e fluidez ao restaurante que transforma completamente a experiência do ambiente. As linhas sinuosas, em contraste com ângulos rígidos, evocam um movimento natural que guia o olhar e o corpo, promovendo uma atmosfera de leveza e harmonia.
A iluminação colabora para a percepção do ambiente, realçando as texturas dos materiais e as cores das superfícies. Fazendo o percurso de entrada, utilizamos um perfil linear que convida para adentrar o espaço, já no teto usamos pendentes em forma de globo propondo uma brincadeira entre os tecidos decorativos. A luz focal já cumpre o papel de iluminar as obras de arte.
Artes
As cerâmicas decorativas selecionadas são uma manifestação artística que celebra a matéria-prima da natureza. Algumas das obras são feitas com resíduos como as de Marcelo Baptista e seus pássaros, e as de Jair Renato Farias e suas colagens com fibras naturais.
Revestimento Chukum
No restaurante foi utilizado um material não muito conhecido no Brasil para revestir o chão e os bancos. O revestimento Chukum é um material artesanal natural e mineral, inspirado nas tradições da cultura Maia, que utiliza componentes da resina de uma árvore nativa da região de Yucatán, no México. O Chukum utiliza matérias-primas naturais locais, provenientes de fontes comerciais responsáveis. Além de ser resistente à umidade e ao desgaste, é um material que cria um efeito de frescor natural nos espaços, o que o torna ideal para regiões de clima quente. Sua textura e aparência artesanal dão um toque autêntico e acolhedor aos ambientes, valorizando o uso de materiais tradicionais
O uso do Chukum também reflete um compromisso com a sustentabilidade, pois é um recurso natural e renovável, cujo processo de produção envolve baixa emissão de carbono. Incorporar esse material no projeto permitiu uma fusão entre técnicas ancestrais e design modernos.
SERVIÇO
O quê: CASACOR / SANTA CATARINA – Florianópolis
Quando: de 29 de setembro a 24 de novembro
Horários: De terça a sábado, das 13h às 21h. Nos domingos e feriados, das 13h às 19h.
Onde: D/Season Residence Club, bairro João Paulo (Antigo Hotel Maria do Mar) Rodovia
João Paulo, 2285 – Florianópolis – SC, 88030-415.