Localizado no coração do chamado Distrito Criativo de Porto Alegre, o complexo Vila Flores é uma das mais bem-sucedidas iniciativas brasileiras de restauração de um patrimônio arquitetônico associada à adequação de usos – executada de forma coletiva e colaborativa. A experiência será apresentada, em Florianópolis, no dia 11 de abril, pelo arquiteto e urbanista João Wallig, autor do projeto e idealizador do Vila Flores, no evento realizado pelo Movimento Traços Urbanos com apoio da revista ÁREA, que traz matéria sobre o complexo na última edição. A palestra “Vila Flores: Ressignificação e Coletividade” será ministrada a partir das 19h, no a aditório do Museu da Escola Catarinense (MESC), com entrada franca. As inscrições são limitadas e devem ser feitas pela fanpage www.facebook.com/movimentotracosurbanos
O Vila Flores é um complexo de cultura, educação e negócios que reúne, atualmente, 32 residentes das mais diversas áreas de atuação. O processo de construção, de forma coletiva e colaborativa, a partir da restauração de um conjunto arquitetônico de grande importância cultural, e a forma de gestão do empreendimento são os grandes diferenciais e têm atraído reconhecimento. “Queremos conhecer melhor o processo de criação e de gestão do Vila Flores e, também, em relação ao envolvimento e mobilização dos atores locais. O Vila Flores é uma referência e tem muitos pontos em comum com a nossa iniciativa de colaborar para a requalificação dos espaços públicos de Florianópolis”, afirma o arquiteto e urbanista Giovani Bonetti, um dos idealizadores do Movimento Traços Urbanos.
O Vila Flores foi um dos 15 projetos brasileiros selecionados pelo curador brasileiro Washington Fajardo para a mostra “Juntos” realizada na 15ª Bienal de Veneza, em 2016. No ano passado, conquistou o prêmio Brasil Criativo, realizado pelo Governo de São Paulo, na categoria Criações Culturais e Funcionais. “É um projeto que vem experimentando novas práticas e relações sociais em prol de uma sociedade mais justa, democrática, inclusiva e sustentável”, afirma João Wallig.
Ele foi idealizado a partir da restauração do conjunto arquitetônico projetado entre os anos 1925 e 1928 pelo engenheiro-arquiteto alemão José Franz Seraph Lutzenberger, localizado no bairro Floresta, região Norte da cidade. São três edificações, totalizando 2.332m2, e um pátio de 1.415m2. “O conjunto é uma herança familiar. Ele foi concebido como um empreendimento residencial para uma região da cidade que vivia o seu auge econômico, denominada 40 Distrito, concentrando as principais indústrias do estado e também uma grande diversidade de atividades. A região sofreu um gradativo esvaziamento decorrente da migração das indústrias a outras partes e a falta de planejamento e acompanhamento do poder público na transição do território industrial para urbano”, conta João Wallig.
O projeto arquitetônico de restauro e de adequação começou a ser desenhado de maneira coletiva e colaborativa em 2010, após a divisão de bens do espólio da família. “Quando herdamos os prédios, eles estavam em estado muito avançado de degradação, insalubre e com algumas estruturas em risco iminente de ruir. Começamos, aos poucos, a entender o potencial das edificações e da região. Graças à participação e as sugestões de diversos agentes da sociedade civil, compreendemos a importância que esse projeto tem nos âmbitos urbanísticos, arquitetônico, social e cultural”, explica. A partir do levantamento arquitetônico, laudo estrutural e muita conversa com moradores e com a vizinhança, surgiu a ideia de transformar o local em um espaço multifuncional: cultural, comercial e residencial. O projeto foi desenvolvido pelo arquiteto João Wallig e por seus colegas do escritório paulistano Goma Oficina, atualmente com filial no Vila Flores.
Gestão compartilhada
Os residentes são profissionais e empresas de diversas áreas. “São artistas produtores culturais e empreendedores que buscam colaborar com a mudança de paradigmas sociais e econômicos”, diz João. Cada um com sua sala, eles compartilham o “Miolo”, espaço educativo; o “Pátio”, lugar de encontro ao ar livre; e o “Galpão”, espaço multiuso onde são realizadas exposições, apresentações e outros eventos. A gestão é feita pela Associação Cultural Vila Flores, instituição sem fins lucrativos criada em 2014 pelos próprios inquilinos do complexo para promover espaço de discussão, aprendizado e interação com a comunidade do entorno em eventos, oficinas e espaços de trabalho.
“Com as atividades que acontecem no Vila Flores e a partir dele procuramos mostrar para as pessoas que é possível viver, conviver, produzir, consumir e trabalhar de uma maneira diferente do que o sistema dominante nos impõe. Vejo o projeto, no futuro, como uma referência pioneira de uma iniciativa que mostrou que é viável levar uma vida mais sustentável em todas as dimensões: cultural, social, ambiental e econômica”, ressalta João Wallig.
A região do antigo 40 Distrito vem sendo revitalizada nos últimos cinco anos, consolidada como polo de economia criativa em Porto Alegre. Abrangendo uma área de 250 hectares, é conhecida, atualmente, como Distrito Criativo e reúne em torno de 90 artistas e empreendedores, entre ateliês, galerias de arte, escritórios de arquitetura, agências de design, restaurantes, hotel, escolas de música, entre outros, que estão dando novos usos aos imóveis existentes e dinamizando a região.
Sobre o Movimento Traços Urbanos
Planejar ações que contribuam para a requalificação dos espaços públicos e de uso coletivo de Florianópolis. Essa é a meta do movimento Traços Urbanos, formado por um grupo transdisciplinar com pessoas de diferentes competências e áreas de atuação. Em comum, elas compartilham o interesse de transformar a cultura urbana a partir da revitalização de diversas regiões da cidade, de forma voluntária. Iniciado em agosto de 2016, idealizado pelos arquitetos e urbanistas Giovani Bonetti e Silvia Lenzi, a partir de uma conversa informal entre amigos, o movimento foi sendo ampliado e hoje reúne cerca de 200 pessoas, entre arquitetos, engenheiros, designers, jornalistas, artistas plásticos, guias de turismo, fotógrafos e educadores, atuantes nos setores privados e públicos. Os membros mantêm contato permanente pelas redes sociais e aplicativos de conversas e reúnem-se periodicamente na sede do Museu da Escola Catarinense (MESC), no coração da área que chamam de Distrito Criativo, ao leste da Praça XV de Novembro. Essa é a região-alvo das primeiras ações desenvolvidas pelo Movimento Traços Urbanos.