Trecho extraído do texto da curadora Adélia Borges para o catálogo da exposição EntreMeadas, leia sobre a mostra aqui.
Vários países instituíram mecanismos de Estado para valorizar os saberes e fazeres de seus artesãos. O Japão foi o pioneiro ao aprovar, em 1950, uma lei para a proteção das propriedades culturais, de promoção da salvaguarda do patrimônio cultural imaterial. Muitos artesãos passaram a ser reconhecidos juridicamente como “Tesouros Humanos Vivos”, recebendo subvenções do Estado e uma série de incentivos para que pudessem difundir suas práticas e ter uma vida digna. Outras nações se sucederam no estabelecimento de legislações.
Na década de 1990, a Unesco elaborou um modelo de “Tesouros Humanos Vivos”, oferecendo subsídios para que os países-membros implementassem programas de valorização de mestres de diferentes ofícios. “Leis de Patrimônio Vivo” e “Leis de Mestres” foram algumas das denominações adotadas por várias nações.
O Brasil instituiu, em 2000, a figura do registro de Patrimônio Imaterial, que engloba “conhecimentos e modos de fazer enraizados no cotidiano das comunidades, rituais e festas que marcam a vivência coletiva do trabalho, da religiosidade, do entretenimento e de outras práticas da vida social”. O primeiro bem registrado foi o Ofício das Paneleiras de Goiabeiras – artesanato feminino que é um dos maiores símbolos da identidade cultural do Espírito Santo. Até 2018, foram registrados 47 bens imateriais pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan). O único ligado ao saber têxtil – tema desta exposição – é o Modo de Fazer Renda Irlandesa, praticado por cerca de uma centena de artesãs em Divina Pastora, interior de Sergipe, registrado em 2009 no Livro de registro dos saberes.
Nos âmbitos estaduais, alguns poucos estados – até onde conseguimos apurar, apenas Alagoas, Bahia, Ceará, Pernambuco e Rio Grande do Norte – desenvolveram políticas de reconhecimento e valorização dos mestres. A palavra, aliás, é sempre usada no masculino. Mestra soa até estranho aos ouvidos, mesmo que, estima-se, 85% dos artesãos brasileiros sejam mulheres.