atualizada em 29/03/2023 – O Sobrado na Ladeira está finalizado como airbnb na parte superior, e o térreo é um local para pequenos eventos na área cultural. Especializada em arquitetura de patrimônio, Maria Isabel Kanan conheceu o arquiteto Marcelo Ferraz na época em que ela trabalhava no Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional). Quando foi construir sua casa, em Florianópolis, chamou o escritório Brasil Arquitetura, de Marcelo e Francisco Fanucci para fazer o projeto. Além da casa, o arquiteto também está recuperando o sobrado de arquitetura luso brasileira tradicional do início do século XIX que fica em frente, de propriedade de Isabel. Ali funcionou o bar Degrau e depois o Coletivo de Arte e Comunicação. O local ainda está em processo de finalização e adequação de uso, com muitas potencialidades de encontros e trocas. Nós conhecemos o local e tivemos a oportunidade de visitar a obra da nova casa da Isabel, que teve o projeto executado pelo arquiteto João Edmundo Bohn Neto.
A proposta do projeto é estabelecer um diálogo entre as duas edificações, a nova e a antiga. A casa foi encaixada no terreno existente e a arquitetura traz a herança da escola paulista com as lajes de concreto, numa conversa entre a tecnologia contemporânea e a tradição antiga que vem das construções de cal, com uso de pedras simples e materiais despojados. “Aquilo que você vê, é…”, afirma o arquiteto. A coautoria do projeto é de Cícero Ferraz Cruz. Equipe de Projeto: Anne Dieterich, Gabriel Mendonça, Julio Tarragó, Laura Ferraz, Luciana Dornellas, Pedro Renault, Roberto Brotero, William Campos
O texto a seguir que explica o projeto é de autoria do escritório Brasil Arquitetura.
Num pequeno lote de esquina conformado por três patamares em acentuado declive, em frente ao casarão branco – mais antigo remanescente da região da Lagoa da Conceição –, projetamos uma pequena construção, misto de casa com ateliê, que procura dialogar com o “nobre vizinho” e a paisagem da lagoa ao fundo.
A casa se assenta, como que encaixada entre os muros de arrimo de pedra, nos patamares existentes, sem alterar o terreno. Pelo contrário, o projeto tira partido dos desníveis para a implantação de dois volumes de dois pavimentos, afastados entre si por um pátio interno e conectados por uma passarela.
Como materiais básicos utilizamos o concreto aparente nas lajes e no muro de sustentação ao longo de todo o terreno, paredes brancas caiadas, piso de pedra branca “goiás” e caixilhos de madeira. A utilização de vidro continuamente e em sequência em todos os caixilhos, desde a rua frontal até o fundo do lote, criam uma transparência intencional em busca da vista da paisagem verde das montanhas e azul da lagoa ao longe.
Pequenos detalhes importam muito neste projeto. Um deles que vale mencionar é a pintura de três panos cegos de madeira nos caixilhos da sala e de um dos quartos ao fundo. São os mesmos tons de vermelho e azul utilizados nas pequenas embarcações tradicionais de todo litoral brasileiro e presença marcante na ilha de Santa Catarina.