“Exaptações” é um conceito evolutivo. “É um tipo de adaptação que não evoluiu por pressão seletiva, mas pela capacidade de assumir nova função”, explica Juliana Hoffmann. “Exaptações” é o nome da exposição da artista, que compila trabalhos inéditos de séries que a artista pesquisa desde meados de 2000, quando encontrou os primeiros livros destruídos por cupins. A primeira mostra da série foi em 2017, no mesmo local onde a artista retorna para ocupar toda casa e o jardim. A abertura será dia 27 de junho, a partir das 19h.
“A Fundação Cultural Badesc é um dos mais importantes espaços de exposições contemporâneas em SC, e pra mim é uma honra apresentar minha segunda exposição individual neste espaço, e desta vez ocupando a casa toda”, afirma a artista que nos últimos meses se dedicou cem por cento a este grande projeto.
Com curadoria de Raul Antelo, que tem uma pesquisa de longa data sobre o tema Ruínas, inclusive com livros publicados sobre o assunto, e de Rosângela Cherem e de Bianca Tomaselli, as mais de 40 obras são compostas por livros e madeiras ‘danificadas’ por insetos, cupins e traças. Em alguns trabalhos a artista faz uma apropriação como um readymade, ou seja, desloca uma situação não artística para o contexto de arte.
“ ‘EXAPTAÇÕES’ é uma proposta de exposição individual da artista Juliana Hoffmann, mas também colaborativa, na medida em que convida para o diálogo um conjunto de mulheres artistas atuantes no cenário contemporâneo das artes visuais, nacional e internacional, e que, assim como ela, se interessam pela relação entre os seres vivos e o meio ambiente, bem como pela natureza das coisas”, conta Rosângela.
Exaptações – CASA e JARDIM
“Exaptações – CASA”, apresenta maioria de trabalhos inéditos em todos os cômodos da Fundação Cultural Badesc. Já “Exaptações – JARDIM”, reúne 13 obras que dialogam com as obras da artista em diversos materiais como cerâmica, arame, plantas, madeira, ninhos, galhos e metal. As artistas convidadas são Clara Fernandes, Ilca Barcellos, Jea Voss, Laís Krücken, Lena Peixer, Meg Roussenq, Rosana Bortolin, Sara Ramos e Yara Guasque.
“Na casa, a maioria das obras são inéditas. Venho coletando, encontrando e ganhando material desta série “A Construção do Mundo Moderno – Ruínas” faz tempo, desde de 2000/2005”, conta Juliana. No jardim, o processo foi fazer visitas aos ateliês das artistas convidadas e escolher obras prontas que dialogassem com o conceito do projeto. Algumas artistas criaram novas obras exclusivamente para a exposição.
A mostra é composta também por impressões fine art com imagens de paredes trabalhadas pela umidade e mofo, que ao serem perfuradas criam poros na superfície e ainda por placas com vestígios dos recortes feitos por máquinas sobre madeiras e MDF, os quais, segundo Juliana, se constituem como um tipo de ruína contemporânea. “Alguns destes MDFs são apenas apropriações, ou um readymade, enquanto outros são trabalhados com pintura”, destaca.
A equipe curatorial dos trabalhos na área externa é formada pelos jovens artistas, estudantes e pesquisadores Eduarda Andrade, Estela Camillo, Gustavo Scheidt, Rainara Sofia, Ligia Czesnat e Victória Beatriz.
Modo de in-existir
O projeto integral consiste da exposição com ocupação da casa e do jardim, além do curso preparatório “Modos de in-existir”, com os curadores Raul Antelo, Rosângela Cherem e Bianca Tomaselli, totalizando sete encontros na forma de palestras.
O cronograma ainda inclui mais duas aulas a partir do tema: CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SERES SIMBIONTES
6º encontro: dia 26/06 – Bianca Tomaselli / JH: totemismo, ready-made e persona II
7º encontro: 03/07 – Raul Antelo / Os objetos contingentes
“… estamos às voltas com os mesmíssimos problemas com que vimo-nos confrontando há 30, 50, 80 anos, ou seja, que o grande paradoxo da cultura contemporânea é que, não é pela consciência que alteramos a realidade, que temos uma autêntica experiência. A experiência independe da consciência, depende de outros recursos, de outras potencialidades que não a consciência, que não a razão. Por isto que vários pensadores passam a prestar maior atenção à peste, aos cupins, aos movimentos das abelhas, à expansão rizomática ou interestelar. Podemos dar vários exemplos de vários artistas que estão trabalhando nessa linha, todo caso, em todos eles o que se verifica é um questionamento desse antropocentrismo, dessa ideia de um humanismo racional, universal, igual para todos…..”
Raul Antelo, fala extraída do curso preparatório ”Modo de in-existir”
Serviço: Abertura “Exaptações, a obra de Juliana Hoffmann”
Data: 27 de junho – quinta-feira, às 19h
Local: Fundação Cultural BADESC (Rua Visconde de Ouro Preto, 216 – Centro, Florianópoli/SC)
Visitação até 14 de agosto de 2024
Entrada Gratuita
Sobre os curadores
Raul Antelo (curador) – nasceu em Buenos Aires, em 1950, é professor de literatura na Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Foi Guggenheim Fellow e professor visitante nas Universidades de Yale, Duke, Texas at Austin, Maryland e Leiden, na Holanda. Presidiu a Associação Brasileira de Literatura Comparada (ABRALIC) e recebeu o doutorado honoris causa pela Universidad Nacional de Cuyo. É autor de vários livros, dentre eles, Crítica acéfala; Ausências; Maria com Marcel. Duchamp nos trópicos; Alfred Métraux: antropofagia y cultura; Archifilologías latinoamericanas e A ruinologia. Colaborou em várias obras coletivas, tais como Literary Cultures of Latin America. A Comparative History; Arte e política no Brasil: modernidades; Comunidades sem fim; Imágenes y realismos en América Latina e Il comune e/o l´estraneo. Editou A alma encantadora das ruas de João do Rio; Ronda das Américas de Jorge Amado; Antonio Candido y los estudios latino- -americanos, bem como a Obra Completa de Oliverio Girondo.
Rosângela Cherem (idealizadora, organizadora e curadora) – é Doutora em História pela Universidade de São Paulo (USP) e Doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Profa. aposentada como Titular de História e Teoria da Arte no Curso Artes Visuais e Programa de Pós-graduação em Artes Visuais no CEART da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC), possui orientações, pesquisas e publicações sobre História das Sensibilidades e Percepções Modernas e Contemporâneas. Atualmente desenvolve pesquisa sobre Gestos e Arquivos Artísticos em Santa Catarina.
Bianca Tomaselli (curadora) – é Doutora em Literatura pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com estágio de pesquisa na Universidad de Granada, Espanha, financiado pela Fundación Carolina, mestre em Artes Visuais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e graduada em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) e Artes Plásticas pela Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Foi professora colaboradora na graduação de Artes Visuais da UDESC e Arquitetura da União Nacional das Instituições de Ensino Superior Privadas (UNIESP) Barddal e da pós-graduação em Artes Visuais da Universidade do Extremo Sul Catarinense (UNESC). É pesquisadora do programa de pós-graduação em Teoria Literária da Universidade da Coruña, Espanha, para o qual tem realizado estágios de pesquisa na Université Sorbonne Nouvelle – Paris 3. Atualmente realiza estágio pós-doutoral no Departamento de Literatura da UFSC com bolsa CNPq. Tem publicado e atuado como consultora Ad hoc em importantes revistas no Brasil e no exterior, como Colindancias, Revista de la red de hispanistas de Europa Central, Cuadernos del CILHA da Universidad Nacional de Cuyo e Artes & Ensaios da Universidade Federal do Rio de Janeiro, além de textos críticos de exposições de arte moderna e contemporânea em livros e catálogos. Possui obras em importantes instituições públicas do país, como o Museu de Arte Contemporânea de Niterói e Museu Nacional Victor Meirelles e executou diversos projetos artístico contemplados em editais e premiações de relevância como Funarte, Itaú Cultural, Fundação Joaquim Nabuco, Paço das Artes e Instituto Tomie Ohtake.
Fonte: com assessoria de imprensa