“Somos um estúdio coletivo e colaborativo que vai reunir marcas criativas de novos designers brasileiros em um único espaço. Valorizamos o consumo consciente, a produção local, o pequeno empreendedor e o processo criativo por trás de cada marca. O nome será Black Buffalo Studio.” Foi com esse depoimento dos sócios de um novo negócio nascido em Florianópolis que o designer Sandro Clemes recebeu a missão de criar um ambiente contemporâneo, para comercialização de diversos produtos, desde roupas, acessórios, objetos decorativos e livros, até ilustrações, geléias e cervejas artesanais.
Distribuído numa planta com área total de 25m2, o programa de necessidades incluiu projetos de vitrine, expositores para os diferentes artigos, área de estoque, provador, mini-escritório, balcão de atendimento e caixa. As soluções apresentadas pretenderam setorizar essas demandas de modo a garantir uma circulação fácil e fluida num interior acolhedor. Os elementos compositivos foram em sua maioria posicionados junto às paredes. Uma vitrine fixa ocuparia o exíguo espaço da entrada, optou-se, então, pela liberação integral do vão da porta principal de vidro. O conjunto formado por essa porta transparente, juntamente com a placa que exibe o logo “3D” do empreendimento, a esguia mesa de exposição e o sistema de nichos de madeira na parede ao seu fundo estabelece um eixo visual que guia o olhar do observador ao mesmo tempo em que recua e incorpora essa “vitrine” ao espaço interno da loja.
O ícone do búfalo negro foi um iniciador importante para a concepção estética do projeto. A imagem do animal imponente e robusto traz a força da vida selvagem para um lugar com atributos eminentemente racionais, e sugere o diálogo tão urgente entre natureza e urbanidade. O mundo natural está transposto aqui em elementos de formas orgânicas como a luminária pendente – um galho tombado de goiabeira sustentado por cabos elétricos com lâmpadas de filamento de carbono -, o tapete de couro bovino e o conjunto de nichos que ocupa a parede principal da loja. “O sistema de nichos Split, criado pelo designer britânico Peter Marigold, representa uma síntese da proposta conceitual deste projeto: sustentável (executado a partir de galhos de árvores caídas encontradas em parques londrinos), contemporâneo e que resulta num padrão visual ao mesmo tempo gráfico e orgânico.” A presença da natureza nos arredores do estúdio é valorizada pelas janelas de esquadrias escuras, que proporcionam maior contraste com a luminosidade externa e evidenciam o verde da paisagem, fortalecendo a conexão entre interior e exterior…
Reverenciando a arquitetura das cidades, dois elementos-chave na composição do layout exploram linhas-mestras horizontais e verticais. Abrigando cabideiros e prateleiras para roupas, acessórios e objetos, uma estrutura metálica vence todo o comprimento da sala e cria um elemento horizontal enfático. Ele conta com um segundo patamar, elevado, com “assoalho” e “forro” de madeira de reflorestamento, que remete ao sótão de uma antiga casa e armazena os estoques do estúdio, acondicionados em caixas plásticas daquelas usadas por feirantes. Por sua vez, o provador é um corpo volumoso que vai do piso ao teto e explora a verticalidade do ambiente. Suas paredes de tábuas encaixadas aludem a uma torre monolítica. Neste setor, a cortina e o espelho interno acompanham todo o longo eixo vertical, e pretendem proporcionar ao cliente uma experiência peculiar na prova das roupas. Ali ao lado, um balcão de atendimento é formado pelas mesmas caixas plásticas da área de estoque, empilhadas duas a duas e travadas numa armação metálica.
A urbanidade retrô das marcas comercializadas pelo estúdio está traduzida nas texturas e formas de base limpa do projeto. De inspiração modernista, o revestimento de cimento queimado cobre o piso e duas paredes junto à entrada, enquanto madeiras naturais e metais retilíneos com acabamento preto fosco trazem leveza ao mobiliário. O ar retrô do ambiente é reforçado pelo frigobar amarelo com desenho cinquentinha e pela antiga radiola, que serve de aparador útil ao manuseio de produtos e para rodar discos de vinil nos eventos promovidos no local. Assim como nesse exemplo de reuso de uma peça vintage, outras ações de viés sustentável como a reciclagem, o uso de matérias-primas locais e o aproveitamento da luz natural estão incorporadas ao projeto. (com Sandro Clemes)