O segundo semestre de 2016 foi intenso. Somente em setembro foram quatro eventos internacionais importantes para o mercado de arquitetura e interiores: Cersaie, em Bolonha; Marmomacc, em Verona; Bienal da Arquitetura, em Veneza e Tecnargila, em Rimini. Todos os eventos tinham pontos em comum. Todos trouxeram temas semelhantes ou complementares. E, principalmente, todos estão diretamente ligados com o que veremos no próximo ano. Separamos, portanto, os highlights da temporada. A seguir o TOP 5:
Minimal Urban
Em 35.000m2 de Cersaie uma cor predominante: o cinza. Não importa o material, seja este cimento, pedra ou madeira as tonalidades acinzentadas dominaram. A verdade é que, ao olhar mais de perto, a cor – que é super comercial – ainda representa o pano de fundo da atitude neourbana. Uma busca intensa por simplificar a vida, cria espaços minimalistas, com poucos objetos e um toque industrial, despojado.
O conceito ainda foi refletido nas pedras naturais, representadas através de objetos na Marmomacc e na discussão intensa do aproveitamento dos espaços urbanos na Bienal de Arquitetura em Veneza, que propôs vida mais sustentável e compartilhada.
Por isso, a invasão dos cimentos e das cores urbanas. A representação dos grandes formatos e espaços mais amplos que possam formar unidade para ambientes comuns.
Inspiração Escandinava
Dentro da linha do “menos é mais” e do comportamento urbano surge ainda a vertente luminosa do design escandinavo. Originalmente ambientes clean, cores neutras e muita luminosidade são a resposta dos nórdicos ao frio intenso e escuro da região. Além da neve contínua e a falta de materiais. Porém, um conceito nasce, se desenvolve e passa a ser apropriado por outros públicos, que o adaptam e recriam formatos.
Nesse caso, por pessoas que buscam a intensidade da luz natural, a calma das cores e principalmente a delicada interferência das linhas retas nos ambientes. Nos revestimentos dominaram as madeiras de carvalho e os porcelanatos com a mesma referência. A madeira natural com uma tonalidade caramelo foi a que mais apareceu em todos os estandes da Cersaie. E com certeza dominarão os corredores da Expo Revestir 2017.
Em linhas gerais a funcionalidade do design nórdico ainda inspira outras vertentes, como a amplitude dos ambientes, o compartilhamento de espaços que esquentam relacionamentos e, um pouco mais longe, viver mais com menos.
Todo esse novelo de discussões, transferidas ou não para objetos, retratam exatamente o mote globalizado sobre a utilização da luz, dos materiais naturais e da funcionalidade das coisas, que vimos por toda a Bienal de Veneza.
Liberte-se
Muito além do comunitário, compartilhado, clean. Paginações, impressões e personalizações são o detalhe que torna cada peça única. Detalhes que tornam as pessoas únicas.
As tendências surgem e aos poucos, ganham força em pequenos grupos, até que se torna um paradigma. Nesse processo, os conceitos espalhados também produzem semelhanças na arquitetura, no design, na moda. A possibilidade da customização surge para que as pessoas continuem lembrando que são únicas.
Nos revestimentos isso já é uma realidade, empresas oferecem inúmeras possibilidades através de impressão e paginação. Nas feiras deste ano isso ficou ainda mais em evidência.
Reflexo do movimento da identidade ainda foi a discussão em diversos pavilhões da Bienal de Arquitetura de Veneza. Seja pela reorganização urbana, como em Taiwan, sem interferir no que as pessoas já haviam feito, seja no país novo como a Nova Zelândia, que tem muito a construir. Ambas focadas nas pessoas, em suas vivências, em suas identidades.
Liberdade total para criar
Sustentabilidade
Urgente. O assunto que mais permeou entre os corredores das feiras foi exatamente este. Seja sobre a responsabilidade do profissional que constrói e reforma ou sob a óptica do cliente, que muitas vezes ignora os processos. Ou uma discussão mais profunda sobre reutilização e preservação da memória. Todos em sinergia para o mesmo propósito.
Porcelanato livre de VOC, pela empresa Atlas Concorde, não ganha em design. Mas a técnica está em sinergia com as principais preocupações do mundo: a qualidade do ar.
As madeiras, TODAS de reflorestamento, apresentam suas vantagens estéticas e a capacidade de não emitir poluentes. Apresentando ao mercado consumidor a consciência de que extraímos aquilo que podemos repor. Um alerta aos consumidores de madeiras tropicais, mais escassas.
Em Rimini, na feira de tecnologia cerâmica, já se via muito apelo ao processo menos agressivo ao meio ambiente, levando também para a indústria a responsabilidade de se atualizar. Um caminho bastante longo, mas que não pode ficar a margem do processo.
Isso não é um porcelanato
Quando pensamos em porcelanato é o piso que vem a nossa cabeça. Quando muito, fachadas, paredes e algum outro detalhe que tenha a ver com a obra. Mas o material não tem mais um único uso, não é apenas um revestimento. Ganhou status de matéria-prima criativa.
Mesas, bancadas, móveis e equipamentos urbanos foram apresentados. Quando vazados, viram divisórias. O que mais podemos fazer com eles? Arte? Por que não? Basta iniciar um movimento diferente, pensar na placa como pensamos na pedra, no corian ou em outros materiais. Tudo vai depender do projeto.
Mas é claro que não apenas o porcelanato mudou seus status. Outros materiais podem ser utilizados em momentos que não o originalmente destinados. O destaque fica para ele que concretizou seu tamanho e sua estrutura.
Por Tatiana Fingerhut