Pouco se tem falado, na última década, sobre design em Santa Catarina, um estado reconhecido por sua produção industrial de bens de consumo, especialmente, têxteis, cristais e porcelana. Apesar disso, a criação não parou e não para, e a produção de peças de design também não. Pelo contrário! Não só o desenvolvimento de produtos, mas também dos processos, arranjos produtivos e de mais amplos entendimentos acerca do design, sua necessidade, desdobramentos e consequências. A Exposição de Design Catarinense – VERAS Design é uma iniciativa que busca contribuir com a redução dessa lacuna.
Sabemos que não é pouco trabalho mapear as inúmeras iniciativas em variadas escalas produtivas que estão relacionadas ao tema. Sabemos, também, que apenas um processo de pesquisa continuado pode levantar e apresentar tais iniciativas, e que a partir do conhecimento e do reconhecimento será possível tecer uma rede capaz de abranger a velocidade com que tais iniciativas surgem, se aprimoram e se apresentam, em condições de fazer frente aos novos e cotidianos desafios com que nos deparamos.
Esta exposição se entende como uma primeira iniciativa, no sentido de reunir e revelar o que se faz por aqui e através de quais conexões se estabelece o que chamamos de “Design Catarinense”. Pretende, ainda, servir como observatório, pois trabalhamos na certeza de que há muito mais sendo engendrado, com o desejo de que possamos, em algum momento — em breve —, visualizar um conjunto mais preciso e, quem sabe, favorecer a conexão de profissionais na construção de novas realidades.
No exercício de atenção ao entorno, consideramos importante incluir o próprio Centro Cultural Veras também como objeto da Exposição de Design Catarinense, pois em sua arquitetura, sistema expositivo e objetos que abriga, encontramos premissas importantes do design que nos interessa, e identificá-los e nomeá-los faz parte da experiência que o VERAS Design pretende oferecer.
Nesse mesmo sentido, transgredimos questões de escala e de tipologia, apresentando lado a lado mobiliário, edificações, produtos e superfícies como um espaço de interfaces e de estímulos sensoriais, seguindo critérios que permeiam a inventividade e a busca de correção ambiental e suas fronteiras.
Vale destacar que usamos o termo “Catarinense” conscientes das limitações que a palavra evoca neste momento de tendência de apagamento das fronteiras, com a intenção de, estabelecendo uma geografia, tornar visíveis o sem número de conexões que fazem possíveis os resultados aqui apresentados: designers locais que produzem fora daqui, empresas catarinenses que executam peças de designers do Brasil e do exterior, estúdios independentes que ensaiam formas de produção em escala reduzida ou impressa sob demanda, entre tantos outros formatos.
SOBRE A EXPOSIÇÃO VERAS DESIGN
Dividimos a exposição em três eixos curatoriais, pois assim os percebemos durante a etapa de pesquisa:
Arranjos Industriais
Apresenta peças criadas e desenvolvidas por designers e executadas industrialmente. Criações de designers catarinenses executadas fora do estado ou realizadas através de processos de logística integrada, mas sempre adeptos aos raciocínios de produção industrial.
Novos Futuros
Traz iniciativas e experiências realizadas por indivíduos e designers que detêm conhecimento e capacidade produtiva a um só tempo, e cujos objetos e feituras apontam ideias que podem vir a constituir soluções para nosso futuro coletivo e incerto, que, não raramente, tem sua base em conhecimentos do passado.
Fronteiras – Arte Contemporânea
Mostra objetos nos quais o funcionalismo estrito é rompido em favor de fortes cargas subjetivas. E que, embora respondam a necessidades, avançam em direção ao simbólico, de alguma forma ocupando uma zona de fronteira entre design e arte.
Sabemos que não contemplamos aqui todos os pontos que gostaríamos de abordar e que é, sob muitos aspectos, um trabalho incompleto. Porém, é um primeiro passo em uma direção importante que marca a retomada de um movimento coletivo no campo do Design de e em Santa Catarina.
É preciso olhar para a cadeia do setor, saber quem estuda, quem produz conhecimento, o quanto se produz, quem comercializa, como se distribui, como se descarta, como se reaproveita ou se recicla, em quais condições.
São muitas as perguntas, e sabemos muito pouco. Por isso, gostaríamos que os visitantes desta exposição se sentissem convidados a pensar sobre o design em seu cotidiano e que nos ajudassem na construção de um cenário mais completo, lembrando e indicando pessoas, iniciativas, objetos ou empresas, cujos conhecimentos, interesses e ações se relacionam a realizações na área do design.
Finalizamos com algumas perguntas:
— O que é design?
— Como é sua relação com os objetos com os quais se relaciona diariamente?
— Você sabe como são criados, produzidos e descartados os seus objetos?
— Você precisa de tudo o que tem? E tem tudo o que precisa?
— Quais suas próprias perguntas sobre os objetos que te rodeiam?
Celaine Refosco, Célio Teodorico e Simone Bobsin
2025
SOBRE OS CURADORES
Celaine Refosco é artista visual, fez carreira na indústria têxtil e na educação, em experiências que impactaram sua produção e poética. Realizou exposições em museus, galerias e espaços independentes. Sua carreira iniciou na década de 1980 e foi marcada pelo Instituto Orbitato (2007-2017). Em 2024, a artista foi contemplada com uma residência artística em Paris, pelo 10º Prêmio Aliança Francesa de Arte Contemporânea.
Célio Teodorico é professor doutor no Departamento de Design da Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Sua experiência se dá na área de Desenho Industrial, com ênfase em Design de Produto, com atuação em diferentes temas. É professor permanente do Programa de Pós-Graduação em Design (PPGDesign) da UDESC. Possui várias premiações na área e tem uma obra no acervo permanente do Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba.
Simone Bobsin é jornalista, com atuação segmentada há mais de 20 anos na área criativa incluindo arquitetura, design, arte e artesanato, em diferentes mídias, em Santa Catarina. É cofundadora e editora do site ArqSC e mantém projetos pessoais e terceirizados. Nas artes, participou de diferentes ações e exposições coletivas como resultado do Grupo de Pesquisa em Processos Artísticos Políticos Curatoriais.