Recentemente um artigo da Nasa de 2020 que viralizou na internet mostrou que o Brasil, junto com diversas outras partes do mundo, pode exceder 35º de temperatura do bulbo úmido – uma espécie de termômetro que relaciona calor e umidade. Quanto mais alta essa temperatura, menos o corpo humano consegue se resfriar, causando um estresse térmico que pode levar até a morte. O assunto trouxe à tona o debate sobre medidas urgentes para frear o aquecimento global, como a emissão de gás carbônico. Existe uma peça importante que pode ajudar na construção de cidades mais resilientes a essas mudanças climáticas: a arquitetura paisagística.
Os parques, praças e jardins podem mitigar o impacto de enchentes, ilhas de calor e escassez de água. Patricia Akinaga, arquiteta paisagista e urbanista e doutora em paisagem e ambiente, explica que o projeto inteligente e sustentável em espaços verdes urbanos pode transformar as cidades em sistemas vivos de resiliência climática. “A arquitetura paisagística vai além da estética. Ela se baseia em princípios ecológicos que permitem criar habitats biodiversos, gerenciar água de forma eficiente e reduzir as temperaturas urbanas”, afirma.
Urbanismo ecológico
As áreas verdes precisam ser vistas como artefatos de engenharia, que tem potencial inclusive de amortecimento, retenção e tratamento de águas pluviais. Essas áreas precisam ser incorporadas na legislação urbana de forma estrutural, e não acessória.
Para Akinaga, o planejamento de adaptação às mudanças climáticas precisa ser visto sob a luz do urbanismo ecológico, que considera a natureza como elemento estruturador da cidade. “O desenho urbano precisa ser pautado pelas potencialidades e limitações dos recursos naturais, conciliando a ocupação urbana e a natureza através de ferramentas como implantação de infraestrutura verde, hortas comunitárias, jardins de chuva, plantio massivo de árvores… Ou seja, as áreas verdes precisam ser vistas como artefatos de engenharia, que tem potencial inclusive de amortecimento, retenção e tratamento de águas pluviais. Essas áreas precisam ser incorporadas na legislação urbana de forma estrutural, e não acessória”, destaca.
Patrícia destaca o papel do arquiteto urbanista e paisagista como chave na configuração desses projetos, buscando sempre alinhar os interesses da população, da iniciativa privada e do poder público. “O pacto entre os diversos segmentos da sociedade é fundamental para que os ditos projetos verdes sejam mais do que instrumentos de propaganda, já que, isolados, eles não promovem a transformação necessária para a criação de cidades verdadeiramente resilientes”. Um outro segmento de grande importância e que deve ser incluído nas discussões e projetos são os centros de pesquisa, como jardins botânicos e universidades, já que muitas dessas decisões devem ser baseadas em evidências científicas.
Como exemplos bem sucedidos, Akinaga cita os jardins de chuva de Portland e Seattle, bem como suas hortas comunitárias, e o projeto de reuso da água e alagados construídos do Parque Estadual Jequitibá, que preserva mais de um milhão de metros quadrados de Mata Atlântica.
“Não podemos nos deixar seduzir por uma ideia de sustentabilidade, ela precisa realmente existir na prática e ser acessível a todos. Obras caras com finalidade comercial antes de ambiental – o chamado greenwashing – só servem para satisfazer uma ambição pontual de investir em tecnologia e projetos verdes, sem representar uma abordagem verdadeiramente aplicável em escala e como sistema”, finaliza.
Sobre o escritório
A Patricia Akinaga é uma empresa com escritórios em São Paulo e Salvador, que atua com projetos nacionais e internacionais de arquitetura paisagística, urbanismo ecológico e planejamento ambiental. Fundado em 2005, o escritório já conquistou diversos prêmios e tem ampla experiência com planejamentos de pequeno à grande porte, em diversas tipologias do setor público e privado. Já assinou grandes projetos como a revitalização e restauração do jardim histórico do Museu Casa de Rui Barbosa, no Rio de Janeiro, o Parque Estadual Jequitibá, no estado de São Paulo, e o paisagismo do Bosque Oswaldo Cruz, em São Luiz do Paraitinga. Seu principal objetivo é contribuir para a construção de cidades mais justas, resilientes e sensíveis às diferenças. Ao longo de quase 20 anos, foram mais de 14 milhões de m² de áreas projetadas, mais de 105 mil árvores plantadas, projetos desenvolvidos em 84 cidades e cerca de 12 milhões de m² de paisagens restauradas.
Fonte: com assessoria de imprensa