Viajar um ano pelo mundo requer, antes de tudo, abertura para o inesperado. Foi esse sentimento que fez Pedro e Florinda Wickbold embarcarem em uma aventura que passou por 37 países e mais de 120 cidades, tudo registrado para a exposição Embarque Luz, aberta ao público de 25 de agosto a 10 de setembro, na La Lampe (Al. Gabriel Monteiro da Silva, 1258), em São Paulo.
A ideia surgiu em um café da manhã. Um mês depois de ter vendido a importadora de relógios que tinha, Pedro sugeriu a viagem para a esposa. “Não sei de onde tive a inspiração para propor isso. Acho que foi simplesmente uma intuição”.
Depois disso, compraram a passagem e partiram rumo à Ásia, onde o percurso se iniciou. Dos cinco continentes, voltaram com uma mistura de sentimentos que os fizeram repensar em todas aquelas verdades absolutas de suas vidas.
Das experiências mais marcantes, pegaram o início da crise imigratória, na Ilha de Kos, na Grécia; viram a reabertura dos bancos em Atenas em uma das maiores crises financeiras recentes da União Européia; estiveram no Nepal 10 dias antes do terremoto terrível que assolou o país; enfrentaram a pior seca do século na Etiópia; subiram um vulcão em atividade escoltados pelo exército da ONU na fronteira do mesmo país com a Eritréia (onde quatro cientistas foram assassinados por rebeldes do país vizinho em 2012); dormiram a céu aberto em uma estrutura de bambu em um povoado no meio do deserto com temperaturas que chegavam a 52º graus durante o dia; participaram do festival Holi na India e viram a beleza inesgotável das cerejeiras no Japão.
“Depois de passar por tudo isso, é impossível não se dar conta do tamanho da nossa insignificância. Tudo que tínhamos certeza foi se desconstruindo com a percepção de que a sociedade mensura nosso sucesso pelas coisas erradas. Cobram para sermos bem-sucedidos profissionalmente, criarmos uma família de comercial de margarina, mas a felicidade está no dia-a-dia, na incerteza, no frio na barriga, no olhar ao próximo, na coerência de nossos atos. Ela é simplesmente o desenrolar do processo de evolução”, conclui Pedro.
Após esse período, o intuito do casal é levar a exposição para escolas e mostrar aos alunos a importância de conviver com as diferenças e como respeitar as decisões do outro torna a vida mais tolerante e feliz.
O Embarque
Levando na mala apenas histórias, crenças e uma vida toda de verdades absolutas, o casal economizou tudo o que precisariam em 20 quilos para embarcar. No meio do caminho descobriram que não era necessário mais que isso. Fundamental mesmo era deixar parte da bagagem acumulada, coisas que não faziam mais parte do essencial, que os distraíam na loucura do cotidiano.
Descritivos
SAPATEIRO DA MEDINA
MARRAKECH, Marrocos
O acúmulo sufoca.
MULHER
TRIBO MURSI, Ethiopia
Quando chegamos na tribo Mursi, no sul da Etiópia, o que mais chamou a atenção foram os pratos gigantes que elas colocavam nos lábios. Era aflitivo. Com o tempo, fomos nos acostumando ao choque inicial e passamos a reparar em seus hábitos. Essa mulher, por exemplo, carregava seu filho para cima e para baixo junto a seu corpo. Organizava o almoço em uma das cabanas, fazia artesanato para vender aos visitantes e dava toda a atenção necessária a seu pequeno bebê. Ser mãe, trabalhar e cuidar da casa era a sua obrigação diária, exatamente como muitas das mulheres ocidentais. O prato passou a ser mero detalhe, enfeite, vaidade. Éramos parecidas de verdade, muito mais do que imaginávamos. A força da mulher é universal.
JUAN Y PLAYA
FORMENTERA, Espanha
Ele não vive sem ela. Ela nem sonha em viver sem ele. Juan e a praia, quase um só. Amor verdadeiro.
BANHO
TRIBO HIMBA, Namíbia
As mulheres dominam essa tribo semi-nômade que se instalou nos arredores do rio Cunene, entre a Namíbia e a Angola. Aos 12 anos, elas não podem mais ter contato com a água. Tomam banho com a queima de ervas que as fazem suar e é desse jeito que limpam as impurezas do corpo. Seus cabelos são cobertos com uma mistura de ocre e gordura animal, que os deixam duros e avermelhados.
CORANEXAO
Danakil, Etiopia
Ali, no meio do deserto, a bela menina de sorriso fácil brincava com uma carcaça de celular. Estávamos desconectados há três dias e já sentíamos falta dos nossos aparelhos. Ela ficava ao nosso lado o tempo todo sem nos pedir nada, sem conversar nada, só nos presenteando com a sua presença. A conexão que nos fazia falta estava bem na nossa frente. Como será a estrada daquela menina vai ficar no nosso imaginário pra sempre, depois da profunda ligação de corações inteiros, que nenhuma falta de sinal interrompeu. Quando a gente conecta olho no olho o sinal é sempre o mais forte. O pacote ilimitado da conexão humana. (com assessoria de imprensa)