Com a expansão urbana, as cidades deixaram de ser palco para seus atores principais e passaram a abrir espaço para um novo antagonista: o carro. E a impossibilidade do caminhar.
Em pleno século XXI, qualquer cidadão de qualquer lugar do mundo já foi convencido de que seus hábitos devem estar de acordo com as necessidades do planeta. Sacolas reutilizáveis, embalagens econômicas e lâmpadas fl uorescentes são algumas das mudanças que foram incorporadas ao dia a dia do cidadão consciente. Mas como fica essa relação de sustentabilidade no espaço público das cidades? Cidade Caminhável pretende explicar como a população adaptou-se a certos padrões verdes de baixo impacto ecológico, mas vive ainda em um cenário dominado pelos automóveis nas ruas, em que o ato de caminhar e conviver fi cou relegado a um segundo plano.
Speck propõe a criação de um novo “normal”, no qual o andar seja possível e benquisto. A proposta é tratada através de dez passos, que incluem pontos básicos como a melhoria nos transportes públicos, o zelo pelo pedestre e o propósito do caminhar. Em uma defesa à teoria da caminhabilidade, Jeff Speck explora como a ociosidade impactou o sistema de saúde, resultando em previsões assustadoras, consequentes do protagonismo do carro no cotidiano em detrimento de outras formas de locomoção.
O autor entende a crise dos grandes centros como uma crise no design, cuja cura reside no planejamento urbano e na busca pelo equilíbrio entre o uso dos automóveis e o andar a pé.
Cidade Caminhável “não trata de por que as cidades funcionam ou como funcionam, mas sobre o que funciona nas cidades”.
TRECHO:
Muito dinheiro e esforços foram usados para improvisar calçadas, faixas de travessia, semáforos e latas de lixo, mas qual a importância disso tudo, principalmente, no aspecto de convencer as pessoas a caminhar? Se a questão do caminhar se resumisse apenas em criar zonas seguras para os pedestres, então por que mais de 150 ruas principais, transformadas em áreas para pedestres nas décadas de 1960 e 70, fracassaram quase imediatamente?
Com certeza, há mais coisas para encorajar as caminhadas do que apenas criar espaços bonitos e seguros. O pedestre é uma espécie extremamente frágil, o canário na mina de carvão da habitabilidade urbana. Sob as condições corretas, esta criatura se desenvolve e se multiplica. Mas criar tais condições requer atenção a uma extensa gama de critérios, alguns mais fáceis de serem atendidos que outros.
Enumerar, e compreender, tais critérios é um projeto de vida – o meu – e é, incessantemente, um trabalho em andamento. Parece presunção alegar que solucionei esse problema, mas já que passei bom tempo tentando, vale a pena comunicar o que aprendi até aqui. E já que isso tende a explicar tudo, chamo essa discussão de Teoria Geral da Caminhabilidade.
SOBRE O AUTOR:
Reconhecido urbanista, Speck tem como objeto o desenvolvimento de comunidades habitáveis e, através do design, defende o restabelecimento do planejamento urbano em torno de princípios humanitários. Foi diretor de design no National Endowment for the Arts e por 10 anos atuou como diretor de planejamento urbano na Duany Plater-Zyberk & Company, onde ajudou a consolidar mais de 150 projetos para novas cidades, planos regionais e revitalização de comunidades. Junto com Andres Duany e Elizabeth Plater-Zyberk, foi co-autor do livro Suburban Nation: The Rise of Sprawl and the Decline of the American Dream, considerado a bíblia de um movimento “anti-subúrbio”, pela crítica norte-americana.