O NCD Floripa, associação de lojistas de Florianópolis, tem se destacado em realizar ações que promovem o encontro necessário dos campos da arte e da arquitetura, sinalizando um olhar e interesse mais abrangente para o segmento e contribuindo para a valorização da produção local e, ainda, formação de público. “Por incrível que pareça, os participantes ficam impressionados com o que encontram e muitos ainda confessam que não têm o hábito de acompanhar a agenda dos nossos museus”, afirma a empresária Márcia Lopes Maurano, diretora do NCD Floripa.
O NCD Floripa é uma das seis regionais do Núcleo Catarinense de Decoração, entidade que nasceu em Florianópolis, em 1999, e que hoje tem 157 lojas associadas. Em 2019, o núcleo comemora 20 anos.
Nesta entrevista exclusiva ao portal ArqSC, Márcia fala sobre a escolha dessas ações voltadas para os profissionais arquitetos, designers de interiores e público em geral. “Mais do que conquistar novos associados, queremos nos posicionar como uma entidade referência para o setor e isso entendemos que é possível a partir da troca de ideias e geração de conteúdo”, afirma.
Confira!
Na sua gestão à frente do NCD Floripa algumas das ações propostas sinalizaram uma visão mais abrangente em relação ao setor, principalmente propondo o entrecruzamento dos campos da arquitetura e da arte. Quais iniciativas vêm ao encontro desta relação e por que a mudança de foco?
Márcia Maurano: Neste primeiro ano da nossa gestão – minha e da Koka Rigon – buscamos lançar iniciativas que valorizassem principalmente a nossa cidade, a nossa arte, o que é produzido aqui por pessoas e instituições locais. Mostrar para a população em geral que aqui temos o que muitas vezes buscamos fora, faz parte do nosso papel. Nós, como uma entidade representativa de um importante segmento, que é o da arquitetura e decoração, temos o dever, o compromisso de comunicar, de gerar conteúdo relevante e de disseminar o que é nosso. Neste sentido é que criamos, por exemplo, o NCD Visita, a primeira ação com este foco, iniciativa da regional Floripa. Sabemos que é um trabalho de formiguinha, mas cada vez mais temos maior aceitação e, mais do que isso, os feedbacks têm sido totalmente positivos com relação às ações propostas.
O que é o NCD Visita e qual o propósito desta ação?
Como o próprio nome diz, o NCD Visita é um convite às pessoas, principalmente aos profissionais – arquitetos, designers, decoradores e lojistas do NCD – para que visitem espaços e exposições locais. O NCD Floripa organiza a visita guiada com educadores ou curadores de arte de uma determinada exposição, faz o convite e acompanha os interessados em uma imersão de conhecimento. A ideia é estreitar o relacionamento da cadeia do décor com os movimentos artísticos e culturais da cidade. Queremos instigar profissionais e empresários a “conversarem” mais com a cidade. Conhecer, sentir, valorizar a produção artística e cultural local e gerar esta conexão com a cidade. Já promovemos duas edições em importantes expos no Museu de Arte de Santa Catarina, o Masc. Uma delas foi na mostra Pléticos e outra Desterro Desaterro, em comemoração aos 70 anos do Masc.
A terceira visita foi na casa-ateliê da galerista e consultora de arte contemporânea Myrine Vlavianos, na Lagoa da Conceição, que apresentou o acervo de obras de artistas com os quais trabalha, principalmente os catarinenses. Por incrível que pareça, os participantes ficam impressionados com o que encontram e muitos ainda confessam que não têm o hábito de acompanhar a agenda dos nossos museus. Ou seja, por isso é cada vez mais importante atuarmos nesta frente, provocando e ao mesmo tempo estreitando a distância.
Recentemente o NCD Floripa lançou um curso rápido e gratuito de História da Arte para profissionais cadastrados na entidade. Como surgiu esta ideia?
Fizemos um brainstorming com a assessoria de imprensa e compartilhamos os anseios da nova gestão. Mais do que conquistar novos associados, queremos nos posicionar como uma entidade referência para o setor e isso entendemos que é possível a partir da troca de ideias e geração de conteúdo. Assim como o NCD Visita, surgiu a oportunidade deste curso de História da Arte com a professora da UFSC, Carolina Votto, que é pesquisadora de Arte, Filosofia e Educação. Fizemos a parceria, criamos o curso, dividido em quatro módulos. Tudo gratuito. Do Modernismo ao Contemporâneo, a partir da relação da arte com a arquitetura, foi o tema que direcionou as aulas. Cerca de 70 pessoas participaram desta primeira edição. Foram 4 dias de aulas, média de uma por semana.
Portobello Shop São José, Masotti, Saccaro Floripa e Puxare foram as lojas anfitriãs nesta primeira edição do projeto que, por sinal, foi um sucesso. Posteriormente, fizemos uma pesquisa voluntária para ter as impressões dos participantes e também para conhecer melhor seus anseios. Em breve teremos o resultado completo.
Como os lojistas e profissionais do setor veem estas atividades? Há um envolvimento e aceitação dos profissionais?
Acreditamos que ações que envolvam conteúdo, como as citadas anteriormente, têm ótima aceitação do público. Hoje em dia as pessoas não têm mais tempo. Por isso, querem eventos, iniciativas que agreguem, somem de alguma forma, seja no seu processo pessoal ou profissional.
Qualquer pessoa pode participar destas atividades? Como funciona?
Qualquer pessoa que tenha interesse pode participar. São eventos abertos e gratuitos mediante inscrição. Este é um presente para a população.
Feliz de quem aproveita!
A associação de lojistas estadual ou a regional Florianópolis já pensou em incluir em suas iniciativas ações voltadas para a comunidade onde está inserida, transbordando a relação principal que é com o especificador e ganhando um reconhecimento maior na sociedade?
Já existe hoje o NCD Solidário que faz este trabalho, muito bem por sinal. Em Florianópolis destacamos a reforma de três ambientes do asilo Cantinho dos Idosos, no bairro Ratones, e a doação de fraldas geriátricas para o lar Anjo Querido, um asilo em Biguaçu, na Grande Florianópolis, que atende 17 mulheres idosas, acamadas. Fizemos uma feijoada solidária e com parte dos recursos fizemos a compra e a entrega diretamente na entidade. A escolha da instituição teve a colaboração da arquiteta Maria Aparecida Cury Figueiredo, que hoje coordena um grupo, o Amor pela Vida, formado por amigos, todos voluntários, e que anualmente se dedicam a ajudar uma instituição.
A regional Floripa além desta ação social, de arrecadar doações para entidades locais, que dependem de ajuda voluntária, tem ainda os movimentos voltados para a cidade, como exemplificado.
O NCD Floripa foi pioneiro em propor ações de relacionamento voltadas para a arte dentro da entidade, que é estadual. Você acha que há interesse em replicar iniciativas desta natureza nas demais regionais?
Total! Alguém tem que começar e nossa maior alegria é que todo Estado se envolva em projetos como estes que acreditamos mudar o comportamento das pessoas.