São Paulo, o gigante que nunca adormece, parece finalmente ter acordado de vez para uma realidade cada vez mais tangível: os novos hábitos da vida urbana. Enquanto assistimos ao boom dos foodtrucks, aos restaurantes se estenderem em parquelets nas calçadas, aos mais descolados trocarem os automóveis pelas bikes – ou pelo metrô – e às moradias, cada vez menores, assumirem funções múltiplas ao subverter cômodos formais, o mercado da arquitetura de alto padrão mira cada vez mais em apartamentos de curta-metragem – vide as mostras do mainstream, como a edição 2016 da Casa Cor SP, que convidou profissionais acostumados a desenhar “alqueires e mais alqueires” de high décor a exercitarem sua verve em espaços mais compactos, com uma média de 50 metros quadrados cada.
A mostra NOVAS GEOMETRIAS URBANAS, em cartaz na ACIERNO de 10 a 20 de agosto de 2016 (um dos principais eventos da Design Weekend, mas que transborda da semana oficial, estendendo-se por alguns dias mais) radicaliza o discurso ao convocar a chamada nova pele da arquitetura para interpretar, cada qual do seu jeito, espaços contemporâneos que dialoguem com a vida lá fora.
“Todos os oito jovens arquitetos trouxeram à mostra um olhar diferente, inovador, diria até refrescante! Os espaços misturam estilos, materiais e formas – geométricas, naturalmente – para representar a diversidade e a complexidade da metrópole e de seus moradores. Foi um trabalho de pesquisa muito sério, profundo e esforçado para ir claramente além do ordinário e do já visto”, revela Carlo Acierno.
Com curadoria do jornalista e diretor artístico Allex Colontonio, cada um deles criou, para um personagem urbanóide (em alguns casos hipotéticos, noutros, reais), um espaço doméstico que desvenda as novas demandas do habitar nas grandes metrópoles, buscando, através de ligações geométricas, ora mais sutis, ora mais explícitas, uma linguagem visual que se harmoniza no todo. “A ideia aqui foi instigar esses novos talentos que estão chegando ao mercado, a exercitar as novas estéticas e demandas da casa urbana, criando um diálogo permanente com o estilo de vida nas metrópoles. Temas como mobilidade, espaços híbridos, móveis multifuncionais, integração com o exterior, cultivo de plantas dentro de casa, o rigor da nossa marcenaria e a estética geométrica que evoca o modernismo nacional, permeiam cada espaço da mostra“, conta Colontonio, que também assina o hall de acesso aos espaços.
“No meu caso, não se trata de uma proposta de decoração, mas sim de um projeto cenográfico que materializa o conceito da mostra. Imaginei um tapete imenso, que brota da loja como uma grande língua que ‘lambe’ toda a calçada, convidando as pessoas a entrarem. Do lado de dentro da caixa, as paredes e o teto assumem o mesmo grafismo da passarela, como uma grande cápsula que traduz as Novas Geometrias Urbanas”, finaliza.
Participantes e Espaços:
1. Allex Colontonio – Curador do Evento + autor do Hall de Entrada
Para o espaço de abertura da mostra Novas Geometrias Urbanas, o jornalista e diretor criativo Allex Colontonio, encapsulou a grande caixa-átrio da Acierno com uma pele gráfica em zigue-zague tribal vermelha e branca, do chão ao teto, em parceria com a marca Tergoprint, de Gina Elimelek. O efeito óptico-cinético de grande apelo visual funciona como um ponto de exclamação para quem passar pelo número 116 da Rua Francisco Leitão. Mas o grande destaque fica por conta da passarela no mesmo padrão, com imensos 30 metros que transbordam da área da mostra para cobrir todo o perímetro da calçada, até o rebaixo da guia, propondo uma interação radical com a cidade. “É a minha versão do tapete vermelho das grandes festas e celebrações, tipo Oscar, aqui em leitura high-design”, brinca. A luminária La Lampe customizada com adesivos vermelhos, arremata o mood “national geometric” da cena. Allex Colontonio, 38 anos, é uma das autoridades do design no Brasil. Autor de livros como Sig Style, foi diretor das revistas Casa Vogue, Wish Casa e Kaza. Ministra palestra sobre tendências em design em todo o Brasil e é o publisher da revista GIZ.
2. Vitrine – Por Murilo Weitz
Criador da vitrine da mostra, o arquiteto e urbanista Murilo Weitz, 27, montou o espaço com sua mais recente coleção, a Transi.nox e os móveis assinados pela Acierno. A linha de artigos desenhadas por Weitz mesclam a matéria-prima das arestas de inox com cordas de poliéster nas tonalidades preta e vinho, além de conterem elástico cirúrgico e mangueira de lâmpada de led revestida com corda branca. “As cordas são objetos de destaque na minha vitrine, além delas aparecerem na coleção, também foram usadas por demais profissionais nas outras ambientações, por isso, eu e o Carlo achamos interessante entrar com as peças no meu espaço”, explica. O conceito também foi montado em cima do tema proposto para a exposicão cedi l;ão, para explorar as novas geometrias e estabelecer uma ponte com novos os móveis da Acierno, que tem traçados geométricos diversificados.
3. Living do Itinerante – Por Rafael Zalc e Mona Singal
O desafio de unir globalização, tecnologia, sustentabilidade e mobilidade urbana foi alcançado pelos arquitetos e urbanistas Rafael Zalc e Mona Singal, ambos de 29 anos, que desenvolveram um living ideal para quem é apaixonado por viajar. Os destaques do espaço são as fotos de diversos países, da Galeria Art Shot, emolduras pelas ancestrais janelas da Império Antigo, além da plataforma de realidade virtual. “Nossa intenção é fazer com que o visitante sinta que está em vários lugares do mundo”, traduz Zalc. O ambiente de 30 metros quadrados também remete à locomoção urbana, com escultura feita de aro de bicicleta do Studio Vila e cadeira de escritório em forma de balanço de pneu de caminhão, do Antiquário Ponto Náutico. Por fim, a sustentabilidade vem por meio do sof& amp; aacute; da Acierno, cuja estrutura é feita com madeira de manejo sustentável. O encosto é formado por sacos de café e o estofado é arrematado por lona de caminhão.
4. Ateliê do Jovem Marceneiro – Por Eric Ennser
Quem nunca aprendeu a desenvolver algum objeto ou obra por meio de tutoriais da internet? Esta é a premissa que rege o espaço criado pelo arquiteto e designer Eric Ennser, 32, que desenvolveu um ateliê de marcenaria que também tem função residencial. “A modernidade nos permite desenvolver o que queremos com facilidade, sem limitações espaciais. Nossa ideia é mostrar que o morador pode criar até mesmo a própria casa”, ilustra o criador. A presença de objetos de marcenaria instiga quem vê o ambiente, que agrega peças em formação, como bancos em processo de montagem e gabaritos de corte da Eucatex, a móveis versáteis, usados tanto para trabalhos manuais, quanto para fins domiciliares, como a mesa de jantar da Acierno, que serve como bancada para trabalhos manuais.
5. Cozinha-Garagem – Por Kwart Arquitetura
Os sócios da Kwart Arquitetura, Bruno Batistela, 33, Iraima Castro, 34, e Melina Moraes, 33, ousaram ao representar uma cozinha na garagem para a mostra Novas Geometrias Urbanas. O uso de móveis de base de madeira maciça, assinados pela Acierno, leva aconchego e calor ao ambiente, e combinam perfeitamente com o móvel em destaque, um estiloso painel para garrafas de vinho. “Nossa limitação foi o tamanho da garagem, com espaço suficiente para apenas um carro. Portanto, priorizamos a funcionalidade, mas sem deixar de lado a leveza e o contraponto entre áreas cheias e vazias”, explica Iraima Castro. Inspirada no design escandinavo, com estética clean e soluções funcionais, a Cozinha-Garagem contou com os seguintes fornecedores: Acierno, Atelie das Pedras, Oficina 2+, A lot Of, Estúdio Ping Pong e Velosophy Bikes & Design.
6. Spa da Blogueira – Por Érica Giacomelli
A arquiteta e designer de interiores Érica Giacomelli, 26, ousou ao criar um pequeno spa voltado a uma blogueira de moda fictícia que, por viajar muito a trabalho, precisa de um refúgio aconchegante. “Minha inspiração para o ambiente veio dos antigos transatlânticos frequentados por mulheres que iam à Europa em busca de vestes da moda”. Nós e cordas náuticas regem o ambiente de 25 metros quadrados, que tem tons de cinza, vermelho, azul e branco. Os espelhos da Acierno, presentes em larga escala em volta da luxuosa banheira da Interbagno, dão a sensação de um ambiente maior e também remetem a vaidade presente no universo fashion. O “refúgio”, como define a criadora, é arrematado por detalhes em madeiras brasileiras, que ilustram a volta da blogueira à sua terra natal, e por uma área de leitura composta p or duas poltronas da Futon Company, prateleira da Acierno, prateleira e banco da Yankatu e tapete da By Kamy.
7. Quarto triângulo – Por João Martins
A paixão pela música foi expressa na obra do arquiteto e urbanista João Martins, 24. Sua criação é um espaço feminino com múltiplas funções, desde estúdio de música até quarto para descanso. “Hoje em dia, os ambientes estão menores e híbridos, sendo que um mesmo espaço tem vários usos”, explica João, que criou dois ambientes: closet de armação dourada, arrematado por um fofinho tapete da By Kamy, e quarto espelhado de paredes preto brilhantes, cuja decoração agrega recortes triangulares de madeiras e possui itens clássicos como discos de vinis. Os destaques em mobília ficam por conta da bancada de trabalho com abajur da Acierno e da cama da Cara de Casa. Já o MDF aplicado nas paredes e o piso são de autoria da Eucatex.
8. Cocoon – Por Pedro Bazani
O projeto Cocoon, do arquiteto tem a teoria Cocooning (em português é traduzida como encasulamento), da Faith Popcorn, como fonte de inspiração. Neste conceito, Faith reforça a tendência que muitas pessoas têm adotado de se fecharem em casa e conviver pouco em sociedade. Pensando nisso, Pedro Bazani, 27, assina um ambiente todo futurista e marcado pelas cores rosa, azul, verde, laranja e roxo. Para montar o espaço, o arquiteto também teve como estímulo as obras dos ícones do design Verner Panton e Joe Colombo. “As fotos tiradas por Léo Fagherazzi, produzidas exclusivamente para o projeto, os terrários infláveis e estruturas coloridas em PVC são alguns dos destaques do espaço”, explica Pedro. Como conceito, o projeto do arquiteto busca discutir o modo de vida da DJ Lounge, personagem moradora do espaço que assina para a mostra.
9. Espaço de Debates – Por Hugo Sigaud
Com apenas 23 anos, o jovem arquiteto Hugo Sigaud desenvolveu um espaço de debate inovador, baseado na história de uma personagem fictícia que alugou um galpão com intuito de criar um mix de escritório e sala de reuniões. “Meu espaço tem uso prático, pois, além de transmitir um conceito, aloca os visitantes da Mostra em palestras e workshops”, conta Hugo. Para permitir a flexibilidade e facilidade de comunicação, os 30 assentos, formados por blocos de concreto, balanços e móveis da Acierno, são alocados circularmente em volta da área em que as apresentações ocorrem. Preto e branco com destaques de cor pontuais, o espaço tem iluminação indireta e poética, que combina com o intimismo dos tapetes da By Kamy. Já a urbanidade fica por conta dos detalhes em serralheria da RS Artefatos em Metal. O espaço também conta com as criações da Eucatex e da Com Tijolo.
10. Living Suspenso – Por Nildo José
O jornalista e amante de moda André Rodrigues (diretor de redação da GIZ) é o morador antenado desse living. Inspirado pelo lifestyle de André, o arquiteto Nildo José, 28, criou uma área ligada à arte e moda, composta apenas por peças suspensas. A ideia foi fazer uma alusão ao estilista Jeremy Scott, linha de tênis com asas, de quem Rodrigues é fã e colecionador. Como destaque na ambientação, José deixou os móveis à altura dos olhos de quem passa por seu espaço para valorizar o design dos mesmos. Os vidros coloridos reaproveitados também ganham notoriedade na ambientação. “Recuperamos um elemento de uma das principais referências da arquitetura paulistana, o Masp, assinado pela que respeitada Lina Bo Bardi. A ideia é resgatá-los propondo um novo uso, com novas cores e dinâmicas, mas sem perder a ligação com a arte”, pontua Nildo.
Universidades
1.Centro Universitário Belas Artes
Tendo como conceito e inspiração a ideia de montar um Ateliê do Design, o espaço traz criações dos quatro cursos oferecidos pela universidade a cargo da professora coordenadora da disciplina de Design Sueli Garcia, a mesma responsável pela ambientação na mostra. Na área há criações ligadas aos cursos de design de moda, de produto, interiores e gráfico. “Ou seja, nosso espaço se destaca pela multidisciplinaridade que apresenta, imaginamos um ambiente que reúne os quatro cursos de design que coordeno na Belas Artes e que aqui, conversam entre si. Também tivemos como conceito o tema proposto pela mostra, de enfatizar o jeito urbano de se viver”, detalha Sueli. A docente considera todos as criações expostas na mostra como destaques da área assinada pela universidade.
2. Instituto Europeu de Design
O IED teve como objetivo criar projetos que promovessem uma busca e mudança de comportamento na civilização através da compreensão emocional. “Nossa instalação propõe pensar um pouco no futuro do design para a cidade, para isso, montamos quatro áreas na exposição, baseadas na proposta da IED, de formar profissionais que busquem sempre criar projetos pensando no contexto social, nas mudanças e benefícios que eles podem trazer para a sociedade”, explica Christian Ullmann, coordenador dos projetos. No evento, enquanto a primeira das quatro áreas assinadas pela escola é uma coletânea de perguntas feitas por professores a estudantes da arquitetura e design, a segunda traz um painel onde cada visitante da mostra pode se conectar; a penúltima é uma oficina de brinquedos e a quarta questiona como sentir e usar objetos de mobiliário urbano, mobilidade e vestimenta.
3. FAU – USP
Conectividade: esse é o conceito do espaço assinado pela FAU. Composto por cinco projetos sob coordenação da Profª Dra. Denise Dantas, do departamento de Projeto | Lab Design e do Profº Me. Alexandre Perroca, os ambientes da universidade foram criados com a proposta de destacar para os visitantes as melhorias que os dispositivos atuais podem proporcionar na vida da população, tanto para pessoas mais jovens quanto de faixas etárias mais avançadas. Entre as criações apresentadas, Alexandre e Denise destacam o aplicativo Bueiros Conectados. “Trata-se de um projeto onde é possível aproximar o aparelho celular de um bueiro e com isso, receber informações sobre quando ele passou pela últi ma inspeção, por exemplo, além de demais detalhes”, explica Perroca. Denise reforça que a peça é uma importante criação para a cidade. “Ela pode prevenir em épocas de alagamento, além disso, qualquer pessoa pode usar o aplicativo como forma de alertar a prefeitura sobre a situação do bueiro e seus problemas”, pontua a coordenadora.
Sobre Allex Colontonio
Pioneiro na web com o blog allexincasa, o jornalista e diretor criativo paulistano é considerado uma espécie de “messias” do mercado editorial brasileiro. Foi o editor-chefe da revista Casa Vogue durante 11 anos. Ao deixar a Carta Editorial, idealizou e criou, em parceria com o legendário diretor canadense Tyler Brulée (criador da Wallpaper), o maior sucesso editorial da década no Brasil quando se fala de revistas: Wish Casa, da qual foi diretor. Dois anos depois, como diretor de outra revista de circulação nacional, a KAZA, reposicionou a marca enquanto, paralelamente, desenvolveu projetos editoriais nacionais e internacionais, como os livros Latin America Fashion (Phaidon, 2013), Sig Style (Toriba, 2015), e Facetas (Olhares, 2015). Atualmente, ministra palestras de tendências, consultorias de estilo para arquitetos, faz curadorias de exposições de design e prep ara o lançamento de seu livro MPB – Mobília Popular Brasileira. A convite de Talita de Nardo, tornou-se sócio e co-autor do portal GIZ e está formatando o projeto editorial da plataforma, com seus inúmeros desdobramentos em web, espaço-concept, etc.
Sobre a Acierno
Recém-inaugurada em São Paulo, no bairro de Pinheiros, a Acierno coloca sob o mesmo teto a sua exclusiva linha de móveis de design italiano, artigos para o lar, moda, gastronomia e arte: um híbrido de loja e galeria. A proposta da marca é trazer o melhor da história da empresa na Itália, mas com uma nova identidade bem brasileira, já que a marca deixou de fabricar em seu país e continua sua trajetória no Brasil. Com um modelo inovador, apresenta um showroom com conceito panorâmico e integrado da casa. Todos os móveis Acierno são assinados por renomados arquitetos europeus, porém fabricados no