Marcelo Salum não se coloca como ativista de pautas contemporâneas, mas exerce influência como arquiteto a partir do gesto sensível da criação. Os ambientes projetados por ele carregam, invariavelmente, licença poética em suas abordagens. Ano passado, Salum emocionou ao homenagear Atilio Baschera e Gregorio Kramer, na edição de CASACOR São Paulo. Em Florianópolis, celebrou a música brasileira no Chez Odara. Aliás, a música sempre é protagonista em todos os ambientes e este ano estava presente na abertura da mostra paulistana com a presença de músicos catarinenses como Jandira Souza Rosa, que compõe o projeto Antonietas, coletivo formado por sambistas negras de Florianópolis.
Provocado pelo tema da mostra “Corpo e Morada”, Salum trouxe a ancestralidade, o legado da cultura africana na construção do povo brasileiro para o ambiente “Morada do Samba”, espaço que marca a 9ª participação do arquiteto em CASACOR, sendo a quarta na edição paulistana do evento. A principal parceira foi a marca nordestina Casa Riachuelo.
A influência para o nome do espaço vem do entendimento de que o corpo é a nossa morada e nos expressamos através dele, da nossa cultura. Já em 2012, com a Sala Azul, Salum falava sobre a teoria das cinco peles do artista e arquiteto austríaco Hundertwasser: epiderme, vestuário, casa, identidade social e o mundo. Para a edição 2023 de CASACOR, o partido foi o samba, um dos movimentos culturais mais característicos do Brasil, que nasceu como uma forma de libertação, por meio da música e da dança, sob forte influência da África. Traz intrínseca a força, o movimento, a alegria, um ritmo envolvente e contagiante, que mexe com nossos sentidos. Salum nos contou que a música Batuque de Pirapora (Samba do Sino) o emocionou e inspirou a criar a Morada do Samba. “É uma oportunidade ímpar de prestar a devida homenagem à cultura africana, que ajudou fortemente a construir a identidade brasileira com suas cores, texturas, ritmos, religiosidade e simbologias”, diz o arquiteto.
“é um ritmo que mexe comigo”
Salum tem uma grande ligação com a música em geral, mas suas memórias de criança, durante as férias de verão sempre estão entremeadas com o samba, desde momentos em família, passando, inclusive, pelos desfiles de Carnaval, que assistia pela TV. O arquiteto ficava vidrado nas cores, nas fantasias: “é um ritmo que mexe comigo”, declara. Então, a ideia era trazer todas essas referências, essa força, alegria e ritmo para o projeto. E claro, a marca registrada do arquiteto que é a construção do espaço a partir da Proporção Aurea, que aparece já no pórtico de entrada do espaço e em sua distribuição, feita em três momentos: um hall, um espaço central com duas áreas de estar, jantar e cozinha, e por último, um quarto com banheiro e escritório.
Além disso, a Morada do Samba expõe a característica principal do trabalho de Salum como a mistura de cores, texturas, produção rica em detalhes, ousadia nas escolas, uma profusão de elementos tão bem sintonizados que são poucos que conseguem esse feito. As cores foram definidas a partir da escolha dos pisos. São três modelos diferentes, da Ceusa: Easy, (que traz as cores – três tonalidades de coral e três de verde), Retrô (um ladrilho decorado, que remete às antigas fazendas); e Flakes, que remete aos confetes típicos do carnaval. Em seguida, essas cores chegam às paredes, pintadas em degradê, em duas diferentes cartelas: o coral e o verde, que aparecem também no revestimento de algumas paredes, a partir de painéis com desenhos inspirados na cultura Ashanti, mais especificamente nas formas geométricas dos símbolos Adinkra – executados pela Duratex, com desenho do escritório Marcelo Salum – e aplicados em paredes pontuais, que emolduram algumas obras de arte.
A escolha das obras de arte tem grande importância no projeto. Para compor o ambiente, algumas máscaras – elemento bem representativo da cultura africana – serão fornecidas pelo acervo da loja Pangea, de Balneário Camboriú. Destaque para a obra de Emerson Rocha, inspirada em uma fotografia de Alberto Henschel tirada em 1839, na Bahia. Nessa obra de Rocha, o artista “realoca” essa figura, levando em conta o contexto da república que, desde a proclamação, é governada por homens brancos e cristãos.
O projeto traz também uma tela na entrada e duas esculturas de Daniel Jorge, a pintura de uma roda de samba, feita com exclusividade pelo artista Luiz Pasqualini, além de um oratório de São Jorge de Juliano Aguiar, fotografias de Bruno Jungmann, Mario Cravo Neto, Carlos Vergara e a pintura de Maurício Adinolfi (esses três últimos representados pela galeria Bolsa de Arte).
As peles da casa da artista catarinense Juliana Hoffmann, em sua série inédita Casa-ser, também são destaque no ambiente, agrupadas formando um conjunto único de fine art.
O mix de móveis utilizados sobressai as criações do escritório Marcelo Salum e do Estúdio Fresa, de Salum e Frederico Cruz, cuja inspiração vem da obra de Rubem Valentim, e que traz influências da cultura africana e seus símbolos religiosos, dando origem a duas poltronas e dois bancos. Há ainda novidades assinadas por Roberta Banqueri junto às peças de antiquário, de Arnaldo Danemberg e da Galeria Teo, dispostas lado a lado, com móveis de Jader Almeida (Sollos), Studio Ambientes.
O escritório de Marcelo Salum cuidou de tudo nos mínimos detalhes e, ainda, assina os puxadores de todas as portas, do quarto à cozinha. Na iluminação, destaque para as criações de Cristiana Bertolucci e projeto luminotécnico, executados pela Ouse Iluminação.
Casa Riachuelo
Vale destacar que a Casa Riachuelo levou para CASACOR sua melhor versão, a coleção assinada junto a marca Allmost Vintage, vista nas cerâmicas dos pratos, bowls e xícaras nos tons de verde, azul e laranja, e combinada organicamente com outras peças da coleção de Outono-Inverno, como as taças e cestarias. A coleção ainda aparece em outros ambientes do espaço, como o quarto, onde a colcha, porta-travesseiros, mantas, aqui usadas como peseiras, e almofadas também complementam o mix. “Ter uma marca que se preocupa, assim como eu, em contar histórias e emprestar personalidade por meio de detalhes foi fundamental para a execução desse projeto, do qual tenho muito orgulho”, declara Marcelo Salum. Outro ponto alto do espaço está na identidade olfativa com notas de Caju, assinada e desenvolvida pela Casa Riachuelo exclusivamente para o ambiente e possui uma fragrância alegre e cheia de energia, com acordes cítricos e notas florais.
Fonte: texto com informações da assessoria de imprensa.