Pedra-Carne está em exposição na Fundação Cultural Badesc, em Florianópolis, com visitação presencial até 1º de outubro, de terça-feira a sábado, das 13h às 18h. A mostra que faz um recorte dos últimos 10 anos de produção da artista é composta por cerca de 20 obras e séries, divididas em quatro temas curatoriais: Pedra, Carne, Carnificina e Florescer. Meg conta que a exposição é um recorte de trabalhos que dialogam com uma ideia de pedra e carne. E ao pintar uma pedra de vermelho como uma representação de carne em seu interior, a artista convida os espectadores a olhar atentamente e refletir sobre as transformações e ciclos vitais da existência.
Texto Curatorial
A exposição Pedra-Carne surge do encontro de Meg Tomio Roussenq (Rio do Sul, 1958) com uma pedra. Da cor e textura, que tangiam a aparência de um corpo tenro, porém lascado, aos olhos da artista revelaram-se carne.
Ao longo de sua carreira, apreende-se que o processo da artista se desenvolve a partir da descoberta de uma possível materialidade humana na pedra aliada às transmutações decorrentes do fogo. Como testemunhas silenciosas de tudo que passa, as pedras, apesar de sua imobilidade e estabilidade na natureza, aos poucos se modificam e se deslocam, por vezes em ritmo lento e em outras com grande rapidez e intensidade. Pedras compõem planos, que ora se encaixam e ora rolam na paisagem. E para Meg, de um encontro com uma pedra, e das significações que dela derivam, projetaram-se aquilo que nos constitui: o humano, a carne e os ciclos de transformações.
A descoberta da carne na pedra amplia no trabalho da artista as possibilidades do ser pedra. Se antes a pedra se configurava como algo estático, a carne nela projetada provoca transformações e rompimentos. A pedra então palpita, pulsa e lateja. Em seguida, instala-se no processo da artista a transformação da matéria por meio do cru e do caos: Meg rompe o invólucro externo da pedra e trabalha o inverso, entornando de vermelhos vivos e saturados a carne que pulsa, que transborda. E de tanto expandir, chega ao processo de desconstrução de corpos. Nisto que chama de carnificina, Meg trabalha o avesso da pedra sobre vermelhos de tonalidades alaranjadas, representando o fogo. O fogo é o elemento que inicia o processo de transformação da matéria: ele retira o mineral de seu estado bruto, ao mesmo tempo em que o purifica. Passar pelo fogo permite que o avesso da pedra, em seu estado mais puro, seja passível de mutação. A carnificina depura, expurga e encerra aquilo que precisa deixar ir para enfim renascer.
Ao final desta ablução, descobre-se a pedra não mais humana, e sim, como a matéria que origina o ser. Ir ao encontro da carne, é, metaforicamente, o ato de colocar a pedra na condição de semente: é descontruir, para voltar ao início, é se aproximar do caos para florescer e transcender. É partir da pedra e por fim retornar a ela, como os ciclos inerentes à vida.
Pedra-carne é a possibilidade de encontrar no minério bruto algo de humano e entendê-lo como potência de vida. Os trabalhos desta exposição apresentam um ciclo: pedra enquanto semente; a carne como aquilo que representa a matéria humana; a carnificina como a transformação da matéria e por fim o florescer, compreendido menos como o encerramento de um ciclo, e mais como início e fim, concomitantemente.