Documentar e contar a história a partir das experiências e vivências dos moradores do Pastinho e dar voz a mulheres negras da comunidade foi o caminho percorrido pela estudante e pesquisadora Cauane Maia, que transformou sua tese de mestrado no livro Vozes Negras Em Florianópolis: Escrevivências Antropológicas Do Morro Das Mulheres (Appris Editora). Doutoranda em Antropologia Social pela UFSC e integrante do grupo Cores de Aidê, Cauane mostra o protagonismo das mulheres negras que vivem no Morro da Caixa/Monte Serrat, em Florianópolis. A publicação já está disponível em versão impressa e e-book e o lançamento oficial acontece em 13 de maio, Dia da Abolição da Escravatura.
“Lá, identifiquei mulheres atuantes, lideranças femininas. É o Morro das Mulheres Negras e essa é a grande novidade do meu trabalho. Trabalhei com o conceito de escrevivências, de Conceição Evaristo – abri mão de técnicas tradicionais de pesquisa e enveredei para as escrevivências para trazer as vozes dessas mulheres. A própria comunidade já produzia cadernos de memórias, porque ninguém contava histórias do morro. Esses materiais recuperam como aquele lugar se formou, as grandes personalidades, e as mulheres estavam sempre ali como importantes lideranças. Eu queria entender, escrever essas vivências e experiências por essa perspectiva da memória, da contação de história, de recuperar o passado, com o viés antropológico”, explica Cauane.
Uma das comunidades que compõem o Maciço do Morro da Cruz, a história do Morro da Caixa/Monte Serrat remonta ao período da escravidão, ao higienismo proposto pelo projeto urbanístico da cidade na década de 1920, quando o projeto de modernização e urbanização da cidade criou estratégias para “limpá-la” e torná-la mais “civilizada”, e ao desenvolvimento da construção civil, entre as décadas de 1950 e 1960. Também foi um ponto estratégico para as lavadeiras desalojadas do Centro no começo do século XX, por possuir córregos e fontes de água.
Hoje, a comunidade é uma das referências na luta antirracista e na organização comunitária. Também se destaca pela participação das mulheres em momentos importantes da construção da comunidade – fato que chamou a atenção da autora, que recupera histórias de antigas moradoras como Dona Uda, que assumiu a presidência da Embaixada Copa Lord em 1984, após a morte do esposo, gestor da escola de samba. A história da Dona Uda é uma das que se misturam à formação da própria comunidade, por conta de sua atuação não só na Copa Lord, mas também na escola, na associação de mulheres, no conselho comunitário e na igreja local. Ela, inclusive, foi uma das entrevistadas da autora durante a pesquisa.
Por conta da pandemia, o lançamento oficial do livro será diferente. Entre as ações criadas por Cauane para marcar este momento está o lançamento de um vídeo, gravado na própria comunidade.
Livro disponível em versão impressa e e-book.
Escritora morou na comunidade durante pesquisa
Paulista, Cauane foi criada em Salvador antes de vir para a Ilha, em 2008. Por aqui, atuou junto a movimentos sociais negros e feministas, e se interessou em investigar protagonismo das mulheres negras em uma região onde a população negra é invisibilizada pela origem açoriana da cidade e do estado colonizado.
“Me deu grande interesse em investigar como essa população vai reivindicar essa negritude em um lugar em que se reivindica açorianidade, que nega outras culturas. Já conhecia ações da comunidade, mas me aproximei ainda mais por conta dos ensaios do Cores de Aidê, que aconteciam ali, na escola de samba Copa Lord”, relembra.
Durante a pesquisa de campo, ela também morou na comunidade durante um semestre, quando pôde se aproximar de seus moradores e sua história.
Saiba mais em @cauanemaia
Fonte: com assessoria de imprensa.