Em 1984, três estudantes da Universidade Federal de Santa Catarina lançaram a revista “84”. A publicação era contra tudo e contra todos. Contra a reitoria, contra o Diretório Central dos Estudantes, contra a direita e contra a esquerda. Era contra a poesia que se fazia, o teatro e o cinema. Fazia críticas culturais e desapareceu após a publicação de seu terceiro número, mas volta agora em uma edição fac-similar, com textos e entrevistas com seus editores e colaboradores. O lançamento é nesta quinta-feira, dia 15, às 19 horas, na Faferia DNA de Arte (Rua Fernando Machado, 261, centro, Florianópolis).
A “reedição” foi realizada com apoio do edital Elisabete Anderle pelo engenheiro Mauro Faccioni Filho, criador e editor publicação na época junto com o professor e poeta Aldy Maigué e o jornalista e produtor cultural Jéferson Lima, o Fifo. A revista se alinhava ao modelo das publicações independentes de arte e literatura da época e movimentou a cena cultural no ambiente universitário em um ano de abertura política, fim da ditadura militar e campanha pelas eleições diretas.
“Éramos jovens de 20 e poucos anos e não acreditávamos em nenhum movimento. Mesclar gêneros, estilos, fontes, riscos, imagens era nosso modo de contestar e criar”, escreve Mauro Faccioni num estudo crítico da publicação que contém, além da edição fac-similar dos três números, mais três cadernos, que fazem uma revisão crítica da publicação. Os seis cadernos são embalados em uma caixa com papel couchê.
Provocativa, a revista também tinha o tom da ousadia e do deboche. Às vezes beirava o disparate. Na primeira capa da revista “84”, por pura provocação, aparece a foto de Carlos Lamarca, ex-militar, guerrilheiro, que foi morto por tropas militares. A revista trazia textos literários dos editores. Tinha fotonovela. Em vez do editorial, um conto. Fotografia. Crítica literária. Além disso, a revista tinha também o objetivo ser autossustentável e teve anúncios de empresas como a Editora Noa Noa, Livraria Catarinense, Livraria Cuca Fresca e Bar do Pida, entre outros.
Entre os colaboradores estão o escritor Anísio Garcez Homem, o diretor do Florianópolis Audiovisual Mercosul, o FAM, Antônio Celso dos Santos, o arquiteto João Batista Ferreira, o Zito, o fotógrafo Renato de Sousa, o engenheiro Ricardo Wagner Sandri, o poeta e crítico Ronald Augusto, o jornalista Xico Sá e o professor Henrique Pereira Oliveira.
Na época, Mauro fazia engenharia elétrica. Aldy era estudantes de Letras, assim como o Fifo, que havia deixado a engenharia civil para estudar literatura. Os três escreveram e publicaram poemas em paralelo à “84”. Mauro dirigiu e produziu cinema. Atualmente, é engenheiro e professor. Aldy leciona inglês e trabalha na UFSC. Fifo é jornalista e produtor cultural, realizador da Feira de Arte de Florianópolis e coordenador da Faferia DNA de Arte, um espaço de cultura no centro histórico. (com assessoria de imprensa)