A artista plástica Celaine Refosco surpreendeu o mercado com a notícia do fim do Instituto Orbitato após 10 anos de atividade em Pomerode, interior de Santa Catarina. O projeto do instituto, reconhecido além fronteiras, formou muita gente do país e até de outros continentes tendo como foco a educação voltada para a criação e o mercado, num heroico propósito de fazer a ponte com a indústria. Para Celaine, foi uma decisão difícil, que levou tempo para amadurecer, entretanto coerente com o seu momento e verdade. Nesta entrevista concedida para a jornalista Luciana de Moraes, ela fala sobre a transição, o significado de inovação e novos projetos daqui pra frente.
Fotos de alguns momento que nós do ArqSC passamos juntos com Celaine Refosco. (foto destaque de William Bucholtz)
Você fala dessa necessidade de inovação que marcou o início e história do Orbitato até aqui. O que neste momento significa para você inovar neste contexto que vivemos?
Existem palavras que caem no gosto popular e acabam assumindo significados múltiplos, até duvidosos ou contraditórios. Inovação é uma destas, já bastante desgastada. Mas, quando digo inovar, falo de aproveitar da melhor forma todos os recursos disponíveis, em favor do maior número de pessoas, sem prejudicar ninguém, pelo maior prazo possível. Está relacionado com fazer bem feito e com capacidade de previsão do futuro e análise rigorosa do passado. Inovar é ser coerente com a complexidade que envolve cada movimento. Tem a ver com aproveitar os recursos todos e quaisquer da melhor forma possível, com conseguir o melhor resultado estético do que está disponível, com não estagnar a ação por falta de recursos, sempre há movimentos possíveis. Está claro que não fazemos isso, pelo contrário, preenchemos formulários, e isso basta para os burocratas, mas não para o país. Acho que no fundo ela se parece com bom senso, um termo que afinal nunca entrou na moda, mas que nos faz tanta falta.
Você segue carreira solo com o nome Celaine ou carrega Celaine do Instituto Orbitato? O Instituto deixa de existir?
O Instituto Orbitato deixa de existir. Percebi que Orbitato é um jeito de ser muito meu, que durante estes dez anos insisti por ser a cara de uma equipe, um jeito de atender e de relacionar-se com as pessoas mas que já não é mais necessário. Não preciso de um CNPJ para realizar uma maneira de trabalhar.
Já tem algum trabalho, projeto, agenda programada de cursos? Sei que existe uma história com os O Tropicalista?
Desmanchar uma coisa tão grande tem exigido muita concentração. Minha força tem se voltado para isso muito mais do que para o futuro, mas pelas frestinhas de tempo vou percebendo meu coração se acender para o futuro e os projetos vão se arquitetando quase sozinhos, mais pautados na certeza do desejo do que em ações determinadas. Antes de mais nada, é sem dúvida, o tempo em que devo viver minhas verdades. Então ser artista, com custos e brilhos assumidos. O tempo com que fazemos as coisas no mundo está equivocado. Quero praticar um tempo que seja mais lento, mais relaxado e desfrutado, (uma palavra que se usa bastante no Uruguai, by the way.) Então, pintar, desenhar e criar em diferentes esferas como Artista e Designer. Um trabalho que acontece comigo, pessoalmente e com a rede de relacionamentos que criei durante todos estes anos em Orbitato, e antes.
O Curso de Criatividade que se chama CRIATIVIDADE E LINGUAGEM PESSOAL, e que na verdade eu acho que é uma coisa que fica bem explicada como CRIATIVIDADE NA PRÁTICA, se revelou surpreendente. Constatei que de fato tenho um talento para educar. Percebi que meu papel em geral não diz respeito a conteúdos mas a percepções, obtidas com vivências, experiências, confrontos, perguntas. Eu não uma pessoa que ensina conteúdos, eu sou mais uma pessoa que ajuda a entender. E isso na Orbitato sempre foi uma papel invisível que eu assumi de coração aberto. Agora eu quero ajudar a entender de maneira bem direta, com cada uma das pessoas com que eu me envolver neste sentido.
Tive recentemente a oportunidade de fazer um pequeno teste. A última aula da série de cinco encontros da terceira turma com que trabalhei aconteceu no sábado passado, na minha casa. Já havia considerado a possibilidade de abrir minha casa, como um atelier que ela de fato é, para criativos e interessados, até porque nossos lugares público estão tremendamente raros e rasos.
Além disso, percebi que tive experiências parecidas muito positivas, como entrar na casa/estúdio dos O Tropicalista, ou da DoowWood que ficava em Piraberaba, pertinho de Joinville, entre outros. O resultado me animou muito. As pessoas se animaram, minha casa é modesta mas eficiente, eles disseram que é inspirador. Isso me anima, eu adoraria inspirar as pessoas a aproveitarem da forma mais eficiente possível todos os seus recursos, levando em conta o que de fato lhes dá prazer e animo.
Foi um dia especial, emocionante, particular. Erámos dez pessoas interessadas não só em viver melhor, mas em viver suas próprias verdades, tentando reconhece-las na barafunda de confusão com o mundo que somos, como isolar esta pergunta no meio do caos: o que eu gosto de fazer, o que me deixa feliz, o que eu faço bem? A vida está na ação, em construir-se. Éramos pessoas nos praticando. A Galeria El ClanDestino tem me representado e esse ensaio de muitas coisas, que vai da arte ao design de produtos, me encanta muito e abre inúmeras novas interfaces, parcerias. E sim, com O Tropicalista alguma coisa vem, não sei direito ainda o que, mas ainda este mês nos encontraremos, aliás, aí em Floripa, lá no O Sítio.
Sobre Curso de Criatividade e Linguagem Pessoal:
De 19 de agosto a 02 de dezembro ministrado por Celaine Refosco.
Os encontros deste curso acontecem em um sábado por mês, das 09 às 18h. As datas previstas (sujeitas a alteração) são es seguintes:
– 19 de agosto
– 16 de setembro
– 21 de outubro
– 18 de novembro
– 02 de dezembro
Mais informações: www.orbitato.com.br