Ao perceber a vulnerabilidade das mulheres na hora de construir e reformar, a engenheira civil Cristiane Marian decidiu abrir uma empresa focada em ajudar as mulheres a enfrentar esse desafio contando com uma construção mais humana, igualitária e de confiança. Ela conta que existem situações inimagináveis e uma delas é a desonestidade e a falta de respeito entre os engenheiros e as clientes. Para atender esse público, fundou a Womma Engenharia que não nasceu com pautas contemporâneas claras – equidade de gênero, por exemplo, mas espontaneamente deu os primeiros passos. “Quando me dei conta, criei um negócio de impacto”, diz Cristiane, que emprega quatro engenheiras, além de mão de obra feminina para serviços como de pintura, eletricista e pedreira.
No Dia Nacional da Engenharia, celebrado em 10 de abril, nós contamos a história da Womma, em Florianópolis, que nasceu há um ano e meio e cresceu mais de 500% nesse período atípico que vivemos. “Acredito numa construção mais sensível, transparente, com cuidado com a comunicação”, afirma a engenheira civil formada pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) com curso em Técnica de Edificações pelo Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC). Ao se dar conta do propósito que estava assumindo, Cristiane procurou uma mentoria para formatar o negócio voltado para as mulheres e com um time de mulheres profissionais. “Abri a porta para essas mulheres, para nós sermos respeitadas na obra, abracei muito mais do que tinha imaginado”, afirma.
A Womma atua na elaboração de projetos complementares de engenharia como Estrutural, Hidrosanitários, Elétrico, e compatibilizado na plataforma BIM. Noventa por cento dos clientes são escritórios de arquitetura e 10% de clientes finais. Cristiane reforça que a empresa não faz o projeto arquitetônico, atua com a obra civil.
Mercado de trabalho
Em 2015, as mulheres respondiam por 30,3% das matrículas em cursos de engenharia civil, e por 26,9% dos profissionais no mercado. O gênero feminino ainda é minoria nos postos de trabalho do setor. Dados de 2017 apontam para 86,3% de homens e 13,6% de mulheres registrados no Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (Confea). Dos 273.491 profissionais de Engenharia Civil ativos no Confea nesse ano, 53.960 são mulheres, representando 19,7% do total.
No canteiro de obras, ambiente majoritariamente masculino, hoje é possível ver mais mulheres nas funções de ajudantes de obra, técnicas de segurança do trabalho, carpinteiras, pedreiras, pintoras, azulejista em todo o País. Apesar do crescimento, as mulheres correspondem a apenas 10% dos 2.122 milhões de trabalhadores na categoria, segundo dados do IBGE de 2017.
Do ponto de vista econômico, Cristiane diz que o trabalho na construção civil vale a pena se comparado com uma diarista. “Uma pintora pode ganhar, no mínimo, R$ 4 mil por mês ao pintar dois apartamentos”, comenta. A capacitação é importante e boa parte da mão de obra contrata é do Senai, em Florianópolis.
Equidade de gênero
Marcas e empresas precisam estar atentas às pautas contemporâneas e entender qual o seu papel para impactar positivamente a sociedade. Essa é uma discussão fundamental que tem a ver com propósito e relevância e que está presente em todos os eventos nacionais e internacionais que debatem sobre a contemporaneidade em diversos campos do conhecimento.
A equidade de gênero é uma pauta social contemporânea determinante no mercado. O Índice de Sustentabilidade Empresarial (ISE), que avalia o desempenho das 150 empresas com ações mais negociadas na Bovespa, indica que, para que um negócio tenha suas ações no ISE, ele precisa atender critérios e um desses eixos envolve a efetivação da agenda de direitos humanos nas empresas, dando efetividade a compromissos como o trabalho decente, a diversidade e a equidade. A empresa ganha relevância e se torna atrativa.
Além disso, práticas sociais como a igualdade de gênero estão relacionadas aos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), uma agenda criada pela ONU em 2015 para estimular a adoção de práticas sustentáveis no setor empresarial.