A mostra CASACOR/SC Florianópolis é um evento que já entrou no calendário da arquitetura de interiores do Brasil desde 1987, quando teve sua primeira edição em São Paulo. Em Santa Catarina, desde o final da década de 1990, o evento é uma vitrine para profissionais jovens e consolidados e também para marcas de design e lifestyle, primeiramente em Florianópolis e depois em cidades do litoral norte como Balneário Camboriú e Itapema. A mostra gira a economia local do mobiliário e design e propulsiona a imagem de profissionais catarinenses para o Brasil, como foram os casos de Juliana Pipi e Marcelo Salum.
Entretanto, nas últimas edições, alguns projetos na mostra têm sido marcados pela presença cada vez maior de marcas e estratégias de design de alto padrão e de mobiliário de luxo, afastando-se da experimentação formal, do acesso econômico aos projetos ou da atenção à técnica e aos ciclos construtivos. Feiras e eventos do também do circuito do design e da arquitetura, como as semanas criativas e de design de Tiradentes e África do Sul – Cape Town e Johannesburg, e os clássicos Salão do Móvel de Milão e semanas de Paris e Londres, tem respondido à pressão por um design que olhe para as necessidades planetárias e a potência econômica da criatividade. Nas últimas edições, estas feiras têm apostado continuadamente em evidenciar processos dos designers, centrando-se na inovação e laços com comunidades e os ecossistemas.
Apesar de não ser pauta central na CASACOR/SC Florianópolis 2024, de forma mais ou menos silenciosa, alguns arquitetos e designers da edição trouxeram soluções técnicas e formais para seus projetos. Neles, o engajamento social, a construção e design experimentais, no campo formal ou no âmbito da ecologia, aparecem como complemento do mobiliário e nas técnicas construtivas.
Honrando a passagem do arquiteto suíço Peter Zumthor no livro Pensar a Arquitetura, de 1998, em que declara que a arquitetura se faz nos detalhes, foram selecionadas estratégias técnicas e de materialidade de alguns dos projetos da edição. Eles são exemplos de um detalhamento cuidadoso e de um olhar atento às demandas sociais e ecológicas que podem pautar edições futuras ou novos modos de exibir a arquitetura.
O espelho da Gaveta em crochê de sisal feito pela Associação de Artesãos da Palhoça, com projeto de Schaiana Alves e Livia Cravo, no ambiente Refúgio Costeiro Artesanato à Beira Mar, é um exemplo de cooperação entre o saber local e o detalhamento de arquitetura de interiores. O projeto apresenta diversas soluções manuais que mesclam a artesania com marcenaria e design.
No projeto Kuya’buka Bistrô, da 3P Studio + Lavínia Duzzo, a inserção de uma parede com revestimento de terra foi uma solução para simular paredes autoportantes de taipa de pilão, aliviando o peso da estrutura que esse sistema exige e conectando os usuários do projeto com as texturas da terra.
O 3P Studio + Lavínia Duzzo também optou por uma parede autoportante de resíduos da construção civil, utilizando resíduos da construção da CASACOR/SC e de canteiros próximos geridos pelo escritório para criar um muro de gabião interno que delimita a entrada e a galeria do restaurante.
Para a praça do restaurante, o 3P Studio + Lavínia Duzzo criou o mobiliário com restos dos fornecedores parceiros de pedras e revestimentos em uma Mesa feita de resíduos, explorando novas possibilidades para os materiais.
No projeto do IdeiaBALN, além do emprego de forros reutilizados, a equipe de projeto usou como elemento de decoração o Tijolo Experimental de resíduos desenvolvido em parceria com o IFSC – Instituto Federal de Santa Catarina. Nesse caso, não foi possível utilizar o elemento construtivo na composição arquitetônico por questões de prazo de produção.
O jardim Raízes, do Terraço Paisagismo, priorizou espécies brasileiras e locais e incorporou a memória afetiva dos jardins catarinenses – como o limão galego e o araçazeiro. Além disso, dispõe em seu mobiliário e itens de arte elementos feitos de madeira resgatada e reutilizada.
O arquiteto Leandro Sumar projetou uma casca de argamassa e gesso com montantes de alumínio para criar um ambiente cavernoso do espaço Rumah DECA. Telas de alumínio e sintéticas são incorporadas ao processo para estruturação e modelagem. Resulta numa estrutura rígida, leve e de rápida execução e secagem.
Prateleiras de metal cobertas com granilite jateado são encriptadas entre o revestimento do painel da sala no ambiente Origens, de Mariana Maisonave. O item é exemplo da sofisticação industrial moveleira catarinense, além de apresentar um resultado esbelto e bruto.
O Studio Guilherme Garcia utilizou tijolos leves experimentais para criar uma parede autoportante que corta o ambiente sendo utilizada também de cabeceira. A paginação de tijolos também demonstra a disposição à um detalhamento técnico pouco tradicional para o material.