A solução de problemas é inerente ao design. Entre suas premissas está o emprego de materiais e técnica para atender a função, por exemplo. No entanto, o design atende muito mais do que a função, carrega a dimensão simbólica, comunica valores, exercita linguagens, pesquisa novos materiais e cria identidade. O design conta histórias!
O arquiteto e designer americano Charles Eames dizia que o design nem sempre implica manufatura industrial. A manualidade está presente na execução de peças que são vistas como obras de arte e o artesanal tem sido anunciado pelas pesquisas de tendências como o novo luxo. Design, arte e artesanato têm suas fronteiras diluídas na contemporaneidade.
Ao visitar a CASACOR/SANTA CATARINA em Florianópolis, preste atenção às soluções propostas pelos profissionais para resolver problemas, observe os detalhes, dos objetos, a mobília e aos adornos. Tudo ali foi cuidadosamente planejado para ocupar o lugar certo. E tudo conta uma história.
Nesta seleção, muitas histórias em soluções desenvolvidas pelos arquitetos para os ambientes, nos móveis e objetos que carregam a assinatura de seus criadores, e nos produtos manufaturados de diversas formas.
A seus pés
Uma extensão do sofá, para sentar, deitar e rolar. É assim que a arquiteta Bárbara Ramos entende a importância dos tapetes dentro de casa. E a referência vem da infância. “Eu sempre tive uma relação com o sentar no chão, quando criança estudei em uma escola Montessoriana, onde muitas das atividades se fazem sentadas no chão e até hoje dentro da minha casa costumo sentar no tapete para ver TV, brincar com a minha cachorra, jogar, por isso sempre escolho tapetes que são aconchegantes”, diz.
Para o Living Entre Laços, Bárbara desenhou um tapete com quase seis metros de largura para abraçar o estar e escolheu duas alturas de tecido para dar volume e conferir conforto. Destaque para peças que unem tecnologia, funcionalidade e beleza: luminária Balance sobre o sofá, com delicada forma tubular côncava, com apenas 2,5 cm de diâmetro, funciona com contrapeso; poltrona Ramona, de André Grippi, ex-bailarino que descobriu sua paixão pelo desenho de mobiliário; e banco BO, de Zanini de Zanine, com assento em madeira maciça e pés em ferro.
Azul é a cor …
Yves Klein, artista francês do século 20, criou a cor Azul Klein que inspirou os arquitetos Aline Martins e Michael Zanghelini a projetarem o ambiente Bleu Espaço de Leitura. Mergulhar no tema Corpo & Morada, para a dupla, significou uma verdadeira imersão na paleta de cores, com referências que remetem às texturas e às formas orgânicas da natureza. As variações de azuis também foram utilizadas no tapete desenvolvido pelos profissionais especialmente para o espaço. Trata-se de um patchwork com texturas diferentes, com aproximadamente 45m2, que envolve o estar e o canto de leitura.
No mesmo ambiente, a poltrona Gugo é a protagonista. “Me inspirei na antiga logo do MSN. O projeto personifica esse símbolo de movimento e integração. É como se aquele bonequinho viesse pessoalmente nos chamar para uma conversa acolhedora”, diz a arquiteta Anna Maya, que faz um pré-lançando da peça nesta edição de CASACOR/SC . O desenho chama atenção pelo ângulo do assento. “Mesmo ao contrário, consegui desenvolver uma estrutura interna que oferece conforto e aconchego”. Sentamos na peça para testar e a poltrona é super confortável!
Colo de mãe
A Cama Nane tem o aconchego do colo de mãe. Essa foi a intenção da arquiteta Andressa Venturini quando desenhou a cama especialmente para a Suíte Pele. “A ideia é transmitir esse abraço de mãe, esse mergulho do íntimo”, diz. A cama remete a ideia de almofadões confortáveis para deitar e sentar, feita em linho e apoio de cabeceira em pena de ganso. No mesmo ambiente, destacamos a Torre London, lançamento 2023 de Jader Almeida, um bar que apresenta a investigação do designer em relação a forma e função dos objetos de apoio e organização. London se mostra tradicional com as esteiras que compõe o fechamento ou abertura das peças, e contemporânea na combinação de materiais. Ao lado, sentada no banco, boneca da coleção As Gurias, da arquiteta de formação e artista Inês Schertel, que faz obras manuais com lã de ovelha, na técnica de feltragem.
Brasilidade
As linhas curvas do arquiteto Oscar Niemeyer e as formas fluidas do paisagista e artista visual Roberto Burle Marx foram as grandes referências para a composição do Estar Origens, projeto do Studio Guilherme Garcia. “O projeto segue o conceito do concreto curvilíneo, o mix de texturas e a homenagem ao design nacional”, afirma. Todo o ambiente apresenta soluções de desenho que organizam o espaço inserindo o mobiliário no contexto das colunas estruturais do edifício. Assim é com a mesa curvilínea de oito metros de comprimento em pau ferro inspirada nos jardins de Burle Max, e com a estante na mesma madeira cuja referência é o Hotel Nacional, no Rio de Janeiro.
Designers catarinense ou que moram no estado são destaque no ambiente: preste atenção nas cadeiras Siri na cor azul bic do designer Giácomo Tomazzi, com pés em metal que remetem às patas do crustáceo; no projeto luminotécnico assinado pelo lighting designer Waldir Junior, que criou o gráfico do hall de entrada; e na mesa Morfa em bronze que apresenta o design experimental e handcraft de Lucas Recchi, do Studio Cas, que emprega técnicas artísticas em suas criações.
Mobília com grife
Clássicos do design que adoramos presentes no loft Coragem Bell Arte, ambiente da arquiteta Eduarda Werner: banco Mocho, de Sérgio Rodrigues, e a cadeira Girafa, de Lina Bo Bardi. Outros destaques: sofá Piazza, por Zanocchi e Starke para Bell Arte inspirado nas praças italianas, versátil, com muitas possibilidades de modulação; cama Posh e as peças da Coleção Trangran, por Arthur Casas para a Quorum Home Design, marca premium da Bell Arte; e o tapete nas cores do ambiente desenhado pela arquiteta.
A arte de receber
Para o generoso estar, um sofá protagonista na arte de receber. Aqui, foi preciso dois sofás Fragmento, do designer catarinense Maurício Bomfim, para oferecer o conforto que o espaço Essenza, do Progetta Studio, desejava. Seu desenho curvo, orgânico, sem início e fim, se torna fluido no espaço e um convite a sentar. A peça vem acompanhada de pufe.
Fases da vida
“A mesa Fases traduz a nossa transmutação como ser na vida, o pé se transforma representando as nossas fases, se tornando mais robusto, experiente, e a madeira carrega a energia da natureza”, explica Bruna Sposito sobre a peça desenvolvida para o living Que Seja Casa. Com 300×110 cm, de um lado os pés da mesa são estreitos em madeira maciça ebanizada, e do outro, a madeira laminada ebanizada oca recebe concreto interno para sustentar o tampo de mármore italiano com acabamento escovado.
As escalas do design
Na Casa na Floresta, assinada pelo arquiteto Michael Zanghelin, escolhemos dois exemplos de design em escalas diferentes. “Estamos diante de uma arquitetura de grande porte, com uma fachada de 32 metros lineares. Foi um verdadeiro balé para fazer tudo funcionar”, comenta. Observe a solução de fechamento adotada pelo arquiteto que conferiu identidade à construção. Ele usou madeira Biriba (espécie nativa brasileira), encaixada, pintada de preto, em algumas fachadas e no teto do gazebo.
A outra peça é a cadeira Dueto, desenhada pelo arquiteto Rodrigo Ohtake. A matéria-prima é madeira maciça trabalhada como se fosse moldável, tornando a peça um elemento de destaque com sua estrutura curvilínea.
Ondas e gabião
No amplo Living Integrado, a arquiteta Aline Fagundes Rosar apostou em um layout para valorizar a circulação e a entrada de luz natural. Para compor com o cenário, duas escolhas nos chamaram a atenção: o bufe Trilha, da designer catarinense Larissa Diegoli, com um ripado em madeira maciça que camufla as portas e traz movimento à peça; e o aparador cuja base é um gabião, inspirado justamente nos muros de contenção no cenário da Serra Catarinense, como explica a arquiteta. A ideia foi contrapor a delicadeza do tampo com a rusticidade da base.
Materialidade
O projeto do VK Arquitetos para a Casa Essência recupera e atualiza elementos do passado para traduzir a casa brasileira cheia de histórias. O design foi impresso no conceito e materialidade do ambiente, com o uso de materiais de verdade como a madeira Tauari usada de diferentes maneiras, a granilha, o couro dos estofados, a vegetação e o piso original em pedra São Tomé, a mesma do tampo da mesa de centro, de Arthur Casas. Coroando o espaço, a poltrona Jangada, criada em 1986, por Jean Gillon, e considerada um ícone do período moderno.
Bicicletas artesanais
Você não irá passar indiferente a uma bicicleta inserida em alguns ambientes de CASACOR, que tem chamado a atenção pelo design e material utilizado. A peça é um produto de luxo resultado de uma startup que une engenharia e design na criação de bicicletas artesanais em madeira Jatobá certificada. O atelier tem espaço próprio dentro do Centro Tecnológico UniSatc, em Santa Catarina, um ambiente onde são realizadas pesquisas e desenvolvimento de engenharia para que cada bicicleta seja produzida, em média, em três meses. Toda bicicleta carrega o nome de seu proprietário e o número de série de fabricação.