Partindo de uma pesquisa de fotografias antigas em álbuns de famílias joaquinenses e nos arquivos do Museu Histórico Assis Chateaubriand, a artista Lela Martorano selecionou imagens e criou uma série de obras impressas em papel tipo lambe-lambe, “fotos-vídeo”, caixa de luz, selos postais e uma instalação com retratos originais, feitos com a antiga técnica da fotopintura. A mostra Antes-Tempo que abriu sábado, dia 23 de junho, permanece até 29 de julho, em São Joaquim, na Serra Catarinense. A visitação é gratuita.
A exposição – que será realizada na Casa Gregório Cruz (próxima à Igreja Matriz de São Joaquim) – vai contar também com ações socioeducativas, como conversas e encontros sobre Arte Contemporânea e visitas mediadas para grupos (mínimo de 10 pessoas), que podem ser agendadas por email ou telefone (veja o serviço completo abaixo).
Contemplado no Prêmio Elisabete Anderle de estímulo à cultura 2017/2018, da Fundação Catarinense de Cultura, Antes-Tempo é um projeto artístico que envolve a participação da comunidade e promove um exercício de autorreconhecimento, de identidade e de memória da cidade. Imagens antigas com cenas cotidianas, fotos de viagens, paisagens, ambientes familiares, retratos de família, costumes e festejos – que fazem parte de uma herança cultural e histórica – adquiriram novas configurações estéticas e novos significados nesta exposição.A intenção da artista é que o público veja o conjunto dessas imagens como um grande álbum imaginário de fotografias, que origine uma memória coletiva fictícia: “Ao deslocar as imagens de seu contexto comum para o campo da arte, estabeleço uma relação íntima com o espectador que, por sua vez, se vê remetido às próprias lembranças e pode, então, ‘criar’ sua própria memória”, afirma Lela.
Nas imagens impressas em papel, Lela trabalhou com sobreposições e diferentes texturas, cujo resultado remete ao papel de seda que protege as fotografias em antigos álbuns. Coladas diretamente nas paredes da casa onde será realizada a exposição, essas imagens mostram, ainda, a fragilidade do suporte e da própria fotografia. “A técnica da fotopintura e os próprios álbuns de fotografia – que são hoje obsoletos e relegados ao esquecimento – estão atrelados à história particular de cada família. Resgatar o valor das fotografias e dos processos analógicos reivindica, de alguma forma, um tempo interior, de contemplação e de reflexão frente à instantaneidade do mundo contemporâneo. É também um ato de resistência ao fluxo cada vez mais exagerado de produção e consumo de imagens”, explica a artista
A escolha do próprio espaço expositivo – uma casa “abandonada” no centro da cidade, considerada patrimônio arquitetônico da cidade (quase inexistente e pouco valorizado) – estabelece uma nova relação cultural na cidade: antes local de residência, a casa deixa temporariamente de ser privada e passa ser pública. Construída no início do século XX, entre os anos de 1925 e 1926, a casa pertence à família de Gregório Cruz, que foi prefeito do município entre 1936 e 1941. Localizada próxima à Igreja Matriz, a casa possui as características arquitetônicas da sua época: oitões de cornijas rendilhadas, janelas envidraçadas tipo guilhotina e cumeeiras pontiagudas. Atualmente, encontra-se vazia e em estado de abandono, sofrendo as intempéries do tempo e cultivando o imaginário local com lendas sobre “a casa mal assombrada”. A realização da exposição neste espaço também evoca as memórias coletivas e provoca o público a refletir sobre a própria história da cidade e o patrimônio local. (com assessoria de imprensa)
Serviço
Exposição Antes-Tempo, de Lela Martorano
De 23 de junho a 29 de julho de 2018
Visitação: de terça a sexta, das 10h às 12h e das 14h às 19h; sábados e domingos, das 14h às 18h
Local: Casa Gregório Cruz – Rua Juvenal Matos, 236 (próximo à Igreja Matriz) – São Joaquim/SC
Entrada franca
Visitas mediadas: para grupos com, no mínimo, 10 pessoas. O agendamento pode ser feito pelo email exposicaoantestempo@gmail.com ou pelo telefone 49 9 91398299 (com Natália).
Ficha Técnica
Artista: Lela Martorano
Produção: Natália Martorano Salvador
Design Gráfico: Vanessa Schultz
Montagem: Leo Romão
Projeto educativo: Carolina Votto
Agradecimentos: Estela Norma Pereira Campos, Nara Martorano Vieira, Eunice Martorano, Yolanda Bathke, Ângela Bathke, Irene Pereira Borges, Maria de Lourdes Hugen Souza, Elizabeth Vieira Mattos (acervo Teófilo Mattos), Museu Histórico Assis Chateaubriand, Agnaldo Dutra Rodrigues e Glauco Silvestre
Financiamento: Projeto contemplado no Prêmio Elisabete Anderle de estímulo à cultura 2017/2018 – Fundação Catarinense de Cultura
Lela Martorano utiliza a linguagem da fotografia para refletir sobre a passagem do tempo e questionar a capacidade da memória em guardar as lembranças e recordações de forma objetiva. Suas obras fazem um cruzamento de tempos, passado e presente, memórias e histórias, que refletem sensações e emoções operadas pela memória. Investigando a imagem e sua projeção, a artista transita entre a fotografia e a videoinstalação, construída, muitas vezes, com a utilização de dispositivos analógicos. A apropriação de slides e filmes super-8 – produzidos pelo seu pai e fotógrafo amador na década de 70 – constituiu a base para o desenvolvimento desse processo.
A artista nasceu em São Joaquim, em 1974. Atualmente, vive e trabalha em Florianópolis. Graduada em Artes Plásticas pela Universidade do Estado de Santa Catarina, Lela Martorano é doutora em “Linguagens e Poéticas na Arte Contemporânea” pela Universidade de Granada/Espanha. Suas principais exposições individuais são: Longe. Estado Indefinido (Antinoo Fine Art, Málaga/Espanha e Galeria de Arte Pedro Paulo Vecchietti, Florianópolis/SC, 2016-2017), Mar de Dentro (Fundação Cultural BADESC, Florianópolis/SC e Mela Chu Gallery, Colônia/Alemanha, 2012), Olhos D’Água (Galería Arrabal & Cia, Granada/Espanha, 2012), Da memória e seus lapsos (Museu da Imagem e do Som, Florianópolis/SC, 2000), Cidades Inventadas (Museu Vitor Meirelles, Florianópolis, 2005) e Transportas (Circuito Catarinense de Artes Plásticas do SESC, 2004 e Cádiz/Espanha, 2006). Participa também de importantes exposições coletivas na Argentina, Chile, Brasil e Europa, dentre as quais se destaca Fotografia(s) Contemporânea Brasileira: Imagens, Vestígios e Ruídos (Florianópolis/SC, 2014).