Solucionar problemas. Se fossemos sintetizar o papel da Ana Claudia de Araujo na área do design, poderíamos afirmar que resolver os desafios do setor é o seu principal foco de atuação. Mas não pense que tudo começou durante sua convivência com o designer Aristeu Pires, com quem foi casada e atuou ativamente no desenvolvimento de produtos e na expansão da marca. A experiência acadêmica com pesquisa e investigação somadas a paixão pelo design moldaram uma profissional com habilidade para articular relações entre designer, indústria e posicionamento de marca no ponto de venda. Como consequência espontânea do seu modo de transitar neste campo, ela fundou a Ponto A, uma agência que auxilia os designers na construção de suas carreiras, desde o desenvolvimento de produtos, a melhor fabricação à venda.
Ana é formada em Odontologia com mestrado, doutorado e pós doutorado em biomateriais, com trabalhos em pesquisa na área ligada à USP, à Universidade de Toronto e à Universidade de Michigan. “Meu papel era justamente de solucionar desafios”, conta nesta entrevista ao ArqSC.
Natural de Bauru, no interior de São Paulo, Ana mora atualmente em Itajaí, litoral de Santa Catarina, onde é proprietária e faz a curadoria da Autoria Design, uma loja com proposta de trabalhar com o design autoral com nomes consagrados e novos talentos, inaugurada em 2020.
Apaixonada pelo assunto, ela avisa: “Há uma satisfação de ver o belo, o coerente e o harmônico, que muitas vezes não estão juntos, mas que, isolados ou em conjunto, têm que fazer sentido. Por isso quem tem essa sensibilidade leva para o resto da vida essa paixão e, cuidado, isso é contagioso”.
Qual é o papel de um consultor ou agente de design?
Ana Claudia de Araujo – O papel do consultor é ajudar a tirar o desenho do papel, conectando o designer com fabricantes e ajudando a colocar o produto no mercado.
Por que e quando decidiu se dedicar à consultoria e abrir a Ponto A?
ACA – A Ponto A iniciou a partir de um encontro de novos designers que fizemos na Autoria Design, no final de 2023, onde participaram os designers Leonardo Zanatta e Jefferson Branco, jovens talentos com desenhos belíssimos, a grande maioria ainda no papel. Na mesma época, conheci a Anna Maya que tinha exposto o protótipo da poltrona Gugo na Casacor Florianópolis, porém, não tinha um fabricante definido, também com um livro de produtos não executados. Então, como não acredito em coincidências, vi que estava surgindo um desafio: ajudar esses novos designers no desenvolvimento de suas criações. A história mesmo começou durante os meus 15 anos de convivência com (designer) Aristeu Pires, tanto como esposa como parceira de trabalho. Mais especificamente, durante os anos de 2016 e 2017, foram lançados 17 novos produtos do Aristeu onde tive participação ativa no desenvolvimento de algumas peças como a cadeira Angela e a Chaise Pitu. Peças que foram um desafio para ele tirar do papel e virar realidade. A ajuda ativa nesse desenvolvimento de certa forma foi uma continuidade ao trabalho de pesquisa de materiais que fiz por anos como pesquisadora ligada à USP, à Universidade de Toronto e à Universidade de Michigan, na área de Biomateriais, onde meu papel era justamente de solucionar desafios.
Quais os principais gargalos e necessidades olhando para triangulação do Campo – designer, indústria e lojista? O que você tem percebido neste processo?
ACA – Primeiro, qualidade, e encontrar fabricantes que permitam o livre acesso do criador no desenvolvimento de seu produto. Isso faz toda diferença. E também encontrar o mercado certo para o produto desenvolvido.
Quem a Ponto A assessora e quais os principais direcionamentos aos designers em relação a carreira? Basta desenhar e criar ou o que o profissional precisa entender sobre o mercado?
ACA – Assessoramos a Anna Maya, o Leonardo Zanatta e o Jeferson Branco. Eu não acredito que tenha que entender de mercado. Acho que o designer tem que enxergar o produto não só como algo estético, mas que tenha uma função. Muitas vezes o mercado nem sabe que aquilo seria uma necessidade. Às vezes, tem a criação de um produto que ainda não existe no mercado, mas que algo que é tão bom é criativo e útil que passa a ser uma necessidade do mercado. O papel principal do designer é desenhar, é criar, é encontrar soluções para problemas e situações do dia a dia.
Você exerce influência em relação à adequação de peças dos designers ao mercado?
ACA – Influencio através de sugestões que sempre aparecem devido à experiência de mercado que tenho, porém, acredito que a adequação do desenho deve partir integralmente do designer.
Como você enxerga o Campo do design hoje no país?
ACA – Há muito designer novo. Nesse grupo, como tudo na vida, existem os que realmente vão se firmar como uma referência de design e os que cairão no esquecimento. O desenho autoral e a personalidade própria separam o bom designer dos demais. A tendência é o design brasileiro cada vez mais ser uma referência internacional.
Depois de tantos anos atuando em várias frentes, você ainda é apaixonada por design?
ACA – O olhar de quem é apaixonado por design é diferente. Há uma satisfação de ver o belo, o coerente e o harmônico, que muitas vezes não estão juntos, mas que, isolados ou em conjunto, têm que fazer sentido. Por isso quem tem essa sensibilidade leva para o resto da vida essa paixão e, cuidado, isso é contagioso.