O artista Alexandre Freire apresenta ELO, um desdobramento de sua pesquisa e mais uma etapa nessa caminhada pela arte que busca indagar as conexões que transformam a vida numa experiência urgente e profunda. ELO inaugura dia 2 de junho, às 19h, no Museu da Escola Catarinense e tem a curadoria de Francine Goudel. São 14 obras em acrílico sobre tela “que exploram a síntese da figura do barco e sua sombra sobre a água, refletindo sobre afetos em tempos líquidos”, como escreve a curadora. A entrada é gratuita. Alexandre Freire atua com arte há mais de 20 anos e é representado pela Galeria Mamute.
Leia texto curatorial assinado por Francine Goudel.
“Diante das criações de um artista estamos, por efeito, frente a uma substância que interroga seu tempo. Como antenas, que captam sinais usuais e emitem frequências quiméricas, os artistas materializam um modo particular de ver o mundo, instrumentando seus pensamentos, amalgamando em cores e formas o extraordinário como possibilidade poética da vida.
Diante da obra, podemos ver sua forma aparente, a sintaxe visual que contempla e que preenche o espaço expositivo. No entanto, olhando apenas o plano de sua composição estaremos, com efeito, perdendo o melhor do espetáculo de ver a arte, o substrato pelo qual podemos transitar, imaginar e interrogar mundos possíveis.
ELO contém em seu cerne isso que é essencial à criação, surge da captação do presente, emanada em frequência fabular pelo artista Alexandre Freire. Resultado de um longo percurso de pesquisa, a série materializa uma investigação compositiva das relações contemporâneas entre indivíduos e problematiza a densidade dos tempos líquidos, como trata o filósofo Zygmunt Bauman.
Por meio de composições geométricas, tidas por vezes como abstratas, Freire constrói um ambiente líquido, literal. Sínteses visuais puristas, que remetem à figura de um barco e sua sombra refletida na água, são criadas pelo artista como artifício de materialização da ideia de seres e suas projeções, subjetividades. Vértices que se tocam apenas em um limite matemático e massas de cores que se sobrepõem, são analogias visuais atreladas aos aspectos comuns dos afetos humanos, como idiossincrasias, escolhas, preferências e princípios que temos ou atuamos.
Com títulos como “amor”, “intimidade”, “solitude”, Alexandre Freire conduz o espectador a olhar a série por meio do caminho que ele mesmo busca refletir como criador de imagens, descortinando o tempo descontínuo dos indivíduos, a fragilidade que permite aos humanos a dualidade de suas naturezas. ELO é composta pelo desejo de indagar as conexões que transformam a vida numa experiência urgente e profunda”.
Alexandre Freire – Natural do Rio de Janeiro (1971), vive e desenvolve seu trabalho artístico em Florianópolis. Graduado em Arquitetura e Urbanismo pela Universidade Federal de Santa Catarina (1998) inicia sua pesquisa nas Artes Visuais em 2003, através do suporte da pintura, investigando temas sociais urbanos e relacionados ao patrimônio imaterial, com influência das artes gráficas e da precisão dos traços arquitetônicos. Nos anos de 2004 a 2014 foi representado pela Cor Galeria de Arte, localizada em Florianópolis. Em 2015 forçosamente para de produzir por ocasião de um tratamento de câncer. Em 2019, quando retoma sua pesquisa artística,
desenvolve um novo âmbito de exploração. Em sua pesquisa atual, explora as relações humanas próprias de nosso tempo, utilizando a pintura como linguagem prima e representações de sínteses visuais para tratar desse estado contemporâneo. Partindo de um interesse estético em conceitos compositivos geométricos e por vezes abstratos, as sínteses visuais ganham força nas construções imagéticas do artista, onde a simbologia do barco e sua sombra são o interesse compositivo das últimas pesquisas. Participou de mostras individuais e coletivas em Florianópolis, entre elas: Gabinete de Curiosidades (Cor Galeria, 2014), Casa Cor SC (Florianópolis, 2012), Releitura 2010, (Espaço Cultural BRDE, 2010), Alexandre Freire (Galeria de Arte Meyer Filho – ALESC, 2008) e Aqui e Ali – Cenas de uma metropolezinha à beira-mar (Confraria das Artes, 2005). Recentemente participou da Feira Artsoul Grandes Formatos (2021) e a mostra Mercado de Arte (Casacanto, 2020-21).
Francine Goudel – natural de Florianópolis, SC, é doutora em Artes Visuais – Teoria e História, pela Universidade do Estado de Santa Catarina – UDESC, mestre em Estudos Avançados em História da Arte pela Universidade de Barcelona, Espanha, pós-graduada em Gestão Cultural pela Universidade Nacional de Córdoba, Argentina, e graduada em Educação Artística – Artes Plásticas pela UDESC. É membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte (ABCA). Como curadora, vem desempenhando projetos que evidenciam a produção de artistas visuais, sobretudo catarinenses, desde 2008. Em 2017 e 2019 assinou a curadoria da Bienal Internacional de Curitiba – Polo SC, juntamente com Juliana Crispe e Sandra Makowiecky, recebendo da Academia Catarinense de Letras e Artes o Prêmio Victor Meirelles – Personalidade do ano em 2019, pelo trabalho desenvolvido à frente da organização. Em 2022 coordenou a programação de Artes Visuais da Maratona Cultural de Florianópolis, assinando quatro curadorias no evento.