Os 50 anos da Acap (Associação Catarinense dos Artistas Plásticos) vistos sob o prisma da ideia do associativismo, de pertencimento, de discursos, de vestígios, de obras e de fontes textuais, com registros cartoriais, cartas, telegramas, fotografias e documentos amarelados pelo tempo como testemunhos de um passado de largo alcance nas artes visuais. O papel dos artistas, das instituições, do mercado, da função da arte e da crítica, produzindo identidade e memória coletiva.
Como parte da agenda de 2025, totalmente dedicada aos seus 50 anos, a Acap promove mais um momento festivo e especial no próximo sábado, dia 8, às 15 horas, no Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, com o lançamento do livro “Memória, Legado e Resistência – 50 Anos da Associação Catarinense de Artistas Plásticos”.
De autoria da jornalista Néri Pedroso, com participação da autora convidada Francine Goudel, a obra resgata a associação que carrega há cinco décadas o DNA de seus oito fundadores – Eli Heil, Franklin Cascaes, Martinho de Haro, Max Moura, Ernesto Meyer Filho, Pedro Paulo Vecchietti, Rodrigo de Haro e Vera Sabino -, todos artistas consagrados na cena da arte moderna e contemporânea de Santa Catarina.
A publicação integra-se ao Circuito Catarinense de Cultura PNAB/SC – 2024, legitimado pelo governo de Santa Catarina, por meio da FCC (Fundação Catarinense de Cultura), com recursos do governo federal e da Política Nacional Aldir Blanc.
Resultado de um sonho coletivo
Presidente da entidade desde 2020, Gelsyr Ruiz vê o livro como um sonho coletivo realizado, uma ideia gestada há mais de dez anos por diretorias anteriores e que, só agora, por meio do edital da PNAB/SC (Política Nacional Aldir Blanc), é concretizado. “Trata-se de um documento que permite olhar para a história construída por centenas de artistas, no esforço individual de muitos, no desejo de aprendizagem e encontro, na crença de que a arte é transformadora”, frisa.
Ruiz, ao lado da vice-presidente, Maria Esmênia, dos demais diretores e associados, segue com o firme propósito de trabalhar em favor do desenvolvimento cultural de Santa Catarina, levando seu exemplo para outras entidades do gênero. A torcida da equipe envolvida, dos autores e associados é para que o empenho em torno da publicação resulte em novas pesquisas, ativando memórias e questões atuais sobre o circuito de arte.
Esmênia completa lembrando que o desejo da Acap, enquanto instituição de arte, de registrar sua história em livro, nasce quando decidiu escutar seu próprio eco, formado por vozes, gestos, pausas, públicos, artistas, educadores e curadores que a atravessaram.
Para ela, o livro com certeza torna-se também uma ferramenta de continuidade, um ato de criação, não apenas de documentação. “Quantas revelações traz o debruçar da jornalista Néri Pedroso sobre os processos, as pessoas, os gestos, as ideias que moldaram a Acap no decorrer destes 50 anos?”, questiona entusiasmada.
O presidente enfatiza o esforço de diferentes gerações em manter-se unidas em torno da Acap, mesmo em momentos difíceis, como a perda da sede própria, mas sempre com a capacidade de reinventar-se em torno do objetivo de valorizar a memória de seus fundadores e unir os artistas contemporâneos divulgando, debatendo e ocupando o espaço merecido no cenário atual. Ele cita o empenho e a participação constante do associado mais antigo, Onildo Borba, que há 30 anos acompanha ativamente a entidade e presta seus serviços como tesoureiro.
Da gênese à autonomia
Com 142 páginas, formato 20 cm x 20 cm, o livro tem cinco capítulos. Os quatro primeiros resultam da pesquisa da jornalista: “Vidas, Cidade e História”, “Anos 1970 e Os Fundadores: Gênese”, “Trocas Transregionais e Transnacionais” e “Instauração de Novos Códigos”. No último, “O Percurso de Autonomia da Arte”, a autora convidada chama a atenção para o jogo de circulação que a obra institui no sistema composto por diferentes agentes e instituições, legitimando a produção artística.
Na apresentação, Néri destaca que, ao contrário de outras iniciativas de associativismo na história da arte catarinense, há um certo eclipse em torno da Acap. Lembra que embora protagonista em um momento vitalizante na vida cultural de Florianópolis, em especial na segunda metade da década de 1980, a entidade pouco é mencionada em bibliografias especializadas e portfólios.

“O fato, mais do que estabelecer hierarquias entre entidades, movimentos e organismos associativos, aponta o valor das ações coletivas em carreiras artísticas e os seus efeitos nas noções de pertencimento, no tecido social da urbe e no tempo contemporâneo”, Néri Pedroso
A publicação não aborda a produção artística formal. O associativismo de classe é um dos pontos focais, revelando a força que resulta quando pessoas se reúnem por um ideal de transformação e mudança de paradigmas.
Obra em construção
A publicação, bilíngue em inglês, tem tradução de Samantha Hoffmann, revisão de Denize Gonzaga e projeto gráfico e produção de Júlia Steffen. Também inclui uma galeria, um serviço em que apresenta com foto todos os presidentes, uma relação da atual diretoria e o nome artístico dos 47 associados na atualidade.
Gelsyr Ruiz lembra que a obra sintetiza os 50 anos, mas a Acap tem uma história em permanente construção. Por isso, convida artistas interessados a enviar depoimentos sobre sua participação na entidade, para que suas memórias sejam reunidas, na perspectiva de continuar o projeto memorialístico.

Seis exposições em um ano
Como parte das comemorações, a Acap está realizando uma série de exposições, em que valoriza a memória de fundadores e parceiros, e revela os talentos atuais, ocupando espaços nobres da Capital. Estas ações levam a assinatura de Meg Roussenq e Anna Moraes como curadoras.
A quinta exposição do ano, “Movências: Ressignificação dos Oito Fundadores da Acap: Eli Heil, Franklin Cascaes, Martinho de Haro, Max Moura, Ernesto Meyer Filho, Pedro Paulo Vecchietti, Rodrigo de Haro e Vera Sabino” ocupará o Museu Victor Meirelles do dia 19 deste mês a 31 de janeiro de 2026, em uma verdadeira reverência aos seus idealizadores.
Neste ano, também foram realizadas as coletivas “Max Moura – Desdobramentos de Uma História: Acap 50 Anos”, em fevereiro, na Fundação Cultural Badesc; em agosto, “Hassis [o circo como palco da relação entre arte, ironia e política]”, na sede da associação que leva o nome do parceiro, no bairro Itaguaçu; setembro, o Espaço Cultural BRDE – Governador Celso Ramos, recebeu “Desdobramentos de uma História”, ressignificando o legado dos fundadores Meyer Filho, Martinho de Haro e Rodrigo de Haro. Por fim, em 5 de dezembro, o Mesc (Museu da Escola Catarinense) dará espaço para uma releitura e homenagem às mulheres, por meio das duas fundadoras, Eli Heil e Vera Sabino. Aos 77 anos completados neste dia 2, a manezinha Vera é a única que está viva, ainda em processo criativo e registrando personagens que retratam o feminino, a natureza e o patrimônio cultural de Santa Catarina.
O ciclo de homenagens aos fundadores, informa o presidente, se estenderá no ano que vem, quando uma exposição exaltando a obra de Franklin Cascaes será realizada a partir de 3 de março, no Marque (Museu de Arqueologia e Etnologia) da Universidade Federal de Santa Catarina.
Carreira marcante no jornalismo cultural
Formada em comunicação social/jornalismo pela Universidade Federal de Santa Maria (RS), Néri Pedroso vive e atua em Florianópolis desde 1988. Com experiência em jornalismo cultural e na implantação de projetos editoriais, editou o caderno Anexo, do jornal A Notícia (1989/93 e 2000/05), em Joinville; e criou e editou o Plural no Notícias do Dia (2008/11), em Florianópolis. No mesmo jornal, assinou a coluna Secos & Molhados (2009/11) e, mais tarde, entre 2012 e 2018, a coluna Mosaico, entre outras funções de chefia. Atuou como jornalista responsável no site Net Processo, voltado à arte contemporânea, assessorou instituições culturais e é autora dos livros “Hassis” (Tempo Editorial/2010), “Coletiva de Artistas de Joinville: Construção Mínima de Memória” (Fund. Cultural de Joinville/2010), “Superlativa Marina” (Inst. Juarez Machado) e “Associação Pró-Música de Florianópolis e Darcy Brasiliano dos Santos: Construção Coletiva de Sentidos” (Bernúncia Editora/2020). Assina artigos em livros e também atua em coordenação editorial.
Pedroso integra a ABCA (Associação Brasileira de Críticos de Arte), a Acla (Academia Catarinense de Artes e Letras) e, como sócia-fundadora, é vice-presidente do Museu de Arte Contemporânea Luiz Henrique Schwanke/Instituto Schwanke, em Joinville. Hoje é responsável pela produção de conteúdo e comunicação do Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação, em Florianópolis, onde também faz, ao lado de Francine Goudel, a coordenação editorial dos catálogos e de publicações. Na condição de free-lancer, atende sites, revistas e jornais. Julga editais, dá cursos e palestras.
Serviço
Quando: 8/11/2025, 15h
Onde: Instituto Collaço Paulo – Centro de Arte e Educação (rua Desembargador Pedro Silva, 2.568), Coqueiros, Florianópolis
Quanto: distribuição gratuita
PRÓXIMAS EXPOSIÇÕES DA ACAP
Museu Victor Meirelles
“Movências: Ressignificação dos Oito Fundadores da Acap: Eli Heil, Franklin Cascaes, Martinho de Haro, Max Moura, Ernesto Meyer Filho, Pedro Paulo Vecchietti, Rodrigo de Haro e Vera Sabino”.
Quando: de 19/11/2025 a 31/1/2026
Mesc (Museu da Escola Catarinense)
“Coletoras: Ressignificação de Eli Heil e Vera Sabino”
Quando: de 5/12/2025 a 31/1/2026
Fonte: assessoria de comunicação





































