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Início › Parceria Ceart/Udesc › A atemporalidade dos sentimentos humanos a partir de uma obra de Henry Moore

A atemporalidade dos sentimentos humanos a partir de uma obra de Henry Moore

Ao revisitar a obra Three Points, a estudante de Artes Visuais da Udesc, Laura Roman da Luz, faz um sensível desabafo ao conectar os sentimentos implícitos na obra de 1939 com o cenário atual.

Por Laura Roman da Luz
10 jun 2021
em Parceria Ceart/Udesc, Artigos
Three Points, Henry Moore,1939-40. Bronze, 19.3cm. Proprietário: Tate Gallery. Fonte: Henry Moore Foundation.

Three Points, Henry Moore,1939-40. Bronze, 19.3cm. Proprietário: Tate Gallery. Fonte: Henry Moore Foundation.

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UM OLHAR PEGO DE SURPRESA. O verão chegava ao fim, diferente das más notícias brasileiras sobre a pandemia de proporções planetárias que cresciam e tornavam-se mais absurdas a cada dia. Em meio a pesquisas acadêmicas, na busca por encontrar obras sobre as quais gostaria de estudar e escrever, deparei-me com uma que muito me atraiu, trazendo muitos elementos para pensar esta realidade que agora vivemos. Mais do que me chamar atenção, ela cativou-me logo no primeiro olhar e foram necessários poucos instantes de observação para que diversos pensamentos e possíveis significados passassem a brotar em minha mente. Despertou em mim algo que no momento não pude identificar e prendeu-me de forma intensa sem que eu entendesse ao certo o porquê. Só mais tarde, a partir de um apontamento externo que passei a compreender de onde vinha esse fascínio. Sem perceber, vi nela a materialização de sentimentos pessoais e coletivos que já há mais de um ano vem se tornando cada vez mais persistentes e menos ignoráveis; relacionei-a com o presente e atribui à sua forma o papel de representar artisticamente minhas próprias aflições. Falo de Three Points, pequena escultura de bronze produzida entre 1939 e 1940 pelo artista modernista Henry Moore (Inglaterra, 1898 – 1986).

Three Points, Henry Moore
Three Points, Henry Moore, 1939-40. Bronze, 19.3cm. Proprietário: Tate Gallery. Fonte: Henry Moore Foundation.

Bem verdade que, ao olhar para um trabalho artístico, não despejamos apenas nosso olhar sobre ele, mas também nossas vivências, conhecimentos e sentimentos e, com isso, criamos leituras que refletem o que somos e estamos passando no momento, lemos a nós mesmos ao ler uma obra. Por isso, de forma inconsciente, senti uma atração forte e imediata por Three Points assim que a vi. Apesar de aparentemente não possuir nenhuma ligação com o momento que vivemos, tendo sido criada em outro contexto, esse trabalho parece encaixar-se com excelência no presente e pode ser um ótimo objeto de estudo e ferramenta para nos auxiliar a compreender melhor a confusão experimentada nos últimos tempos. Ela transmite, ou representa, com precisão, o estado emocional que me encontro já há muitos meses – e não sozinha, obviamente. O faz com tamanho êxito que, se não conhecesse esta obra e apresentassem-me como uma criação contemporânea que discute o momento atual, não encontraria dificuldade em aceitar tal afirmação.

Apesar de não ter percebido logo de início a motivação de minha conexão imediata com Three Points, assim que me foi revelada pareceu-me muito óbvia. Estabelecer essa ponte foi natural e até inevitável ao encontrar uma obra de arte que tão bem conversava comigo nesse momento. Acredito que esse envolvimento não se limita a uma experiência pessoal e pode ser compartilhado também por outras pessoas que tiverem a oportunidade de estabelecer contato com ela. Pois, ainda que esses sentimentos e angústias que estamos experimentando possam parecer muito individuais, são frutos de um evento coletivo e de forma alguma estão reservados a uma ou outra pessoa. Pelo contrário, o medo, a angústia, a solidão e a ansiedade são gerais e tem embalado os dias de milhões de pessoas. O mais interessante disso é pensar que possa ocorrer tamanha identificação com uma obra que foi feita por outra pessoa, em outro contexto e com outras coisas em mente. Acredito que isso acontece pois, em qualquer que seja o momento de criação de uma obra, sempre existirão dores e belezas compartilhadas com qualquer outro momento da história da humanidade, possibilitando a conexão de quaisquer épocas, visto que o sofrimento e a alegria estão presentes em todas elas, ainda que por motivações diferentes.

Da mesma forma, a eterna busca por adaptar-se aos tempos vividos e enfrentar as dificuldades por ele impostas é comum a todos os seres humanos de qualquer período. Sempre haverá pessoas falando sobre isso, criando a partir dessas dores e dessas belezas, sendo capazes de gerar identificação mesmo muito tempo depois do momento vivido. Ao contrário dos próprios humanos, os seus sentimentos são duradouros e percorrem séculos; partilhamos deles não apenas como aqueles que estão vivendo a exata mesma situação que nós. O que estamos vivendo hoje, dessa forma como está acontecendo, nunca foi vivido antes. Entretanto, os sentimentos gerados por esses acontecimentos já foram experimentados por inúmeras pessoas nas mais diferentes situações, semelhantes ou não a nossa. Há um fio que conecta todas as vivências humanas, há sempre algo em comum mesmo em meio a um mar de diferenças.

Three Points, Henry Moore
Three Points, Henry Moore,1939-40. Bronze, 19.3cm. Proprietário: Tate Gallery. Fonte: Henry Moore Foundation.

UMA OBRA NASCIDA NUM MOMENTO CRUCIAL.

Three Points foi de fato criada durante um momento de muita aflição e sofrimento, ainda que provindos de uma fonte diferente da atual: a Segunda Guerra Mundial. Apesar de Moore nunca ter confirmado se a obra diz respeito a esse cenário, muitos historiadores e críticos de arte atribuem a ela esse significado e concordaram em afirmar que ela emana apreensão e ameaça1. Observemos um pouco a citada obra de Moore. Assim que repousamos o olhar sobre ela, somos rapidamente atraídos pelo ponto central dessa forma, o quase confronto entre os três braços pontiagudos que parecem apontar ameaçadoramente para aquele pequeno espaço ainda não preenchido, acusando-o de algo que nos escapa. A ameaça iminente do toque entre as três extremidades emana apreensão, como se dessa colisão fosse possível surgir o mais grandioso dos fenômenos, podendo ser uma grande catástrofe ou algo de potência e beleza divinas.

Esse ponto de tensão carrega a junção do tudo e do nada; é ali que se encontram as três partes sólidas dessa figura – que são, na verdade, faces diferentes de uma mesma coisa –; os três vazios que também são parte dela, incluindo o que fica “fora” da obra; além do encontro entre a dimensão interna e externa do objeto, o que de fato é e o que não mais é a obra. Esse pequeno local, sendo o limite de todas essas coisas sem de fato ser nenhuma delas e sem delimitar nada em verdade, é um ponto-entre, suspenso no espaço e no tempo, origem e fim de tudo. A forma parece ter sido criada a partir dele, ainda que ele só tenha passado a existir de fato quando ela foi concluída; nasce e morre ali em um ciclo constante e eterno. É o próprio cerne da energia vital criadora de tudo.

Three Points, Henry Moore
Three Points, Henry Moore.1939-40. Bronze, 19.3cm. Proprietário: Tate Gallery. Fonte: Henry Moore Foundation.

“Fiz uma escultura com três pontos, porque esse apontar tem uma ação emocional ou física em que as coisas estão prestes a se tocar, mas não o tocam. […] É muito importante que os pontos não se toquem. Tem que haver uma lacuna.”

Moore confirmou duas de suas inspirações para esse trabalho2: o afresco de Michelangelo na Capela Sistina, onde os dedos de Deus e Adão quase se tocam para que a vida seja dada a esse último, sem que a ação se concretize de fato; e a pintura Gabrielle d’Estrées e uma de suas irmãs, de autor desconhecido, em que Gabrielle está prestes a tocar o mamilo da irmã. Sobre sua obra, Moore disse: “Fiz uma escultura com três pontos, porque esse apontar tem uma ação emocional ou física em que as coisas estão prestes a se tocar, mas não o tocam. […] É muito importante que os pontos não se toquem. Tem que haver uma lacuna.”3

Michelangelo. A Criação de Adão,
Michelangelo. A Criação de Adão, 1511-12. Capela Sistina, Vaticano. Fonte: Tate Galery.

 

Escola de Fontainebleau. Retrato presumido de Gabrielle d’Estrées e sua irmã, uma duquesa de Villars, 1594. Óleo sobre tela, 960 x 1250 mm. Museu do Louvre, Paris.

UM TEMPO DE TENSÃO E UM LUGAR DE ENCONTRO.

Ao pensar sobre essas questões, torna-se quase intuitivo associar essa obra com o momento presente. A tensão passou a ser o estado natural em que nos encontramos diariamente. A sensação de ameaça iminente também espreita nossos dias, bem como a incerteza. Tantos aspectos de nossas vidas foram interrompidos bruscamente, parecem estar em eterno pause e sem nenhuma perspectiva de retorno, elementos tão essenciais à nossa existência encontram-se distantes. É como se estivéssemos nesse ponto de suspensão, nesse limbo de estar vivendo sem parecer que o estamos fazendo de fato, em meio a lembranças do que já vivemos e promessas do que queremos viver, esperando para retornar para nossas próprias vidas. Entretanto, confrontar a ideia de que nossas vidas não são mais aquilo que eram há um ano, nem aquilo que gostaríamos que elas estivessem sendo, e sim o que elas de fato são, com todas as privações em que nos encontramos, é doloroso.

É como estar na mira daquelas três pontas intimidadoras criadas por Moore, que parecem estar cada vez mais próximas, sem nunca colidirem de fato. A diferença é que para nós há a certeza de que o fruto dessa colisão será necessariamente desastroso. A situação agrave-se quando consideramos as diversas formas de experienciar essa pandemia, ditadas pela posição social em que cada pessoa se encontra e os meios que têm disponíveis para enfrentar as dificuldades atuais, e que determinam o número de pontas a mirá-las – sendo para algumas pessoas muito mais intenso do que para outras o sentimento de vulnerabilidade perante as ameaças que se somam.

Refletir sobre o papel do vazio em Three Points também nos permite traçar relações com o cenário vigente. Os três vazios que vemos no trabalho nascem e terminam na mesma fonte e são, na verdade, o mesmo, visto que não há nenhum limite determinado entre eles. O espaço oco ocupa parte significativa da obra e parece ser seu componente estruturante, como se ele fosse o criador da parte matérica e não o contrário.

Revisitar esse trabalho e buscar conectá-lo com o presente é tornar possível um suspiro de alívio, ainda que só por um segundo, ao saber que, ao menos, é possível visualizar e dar forma ao turbilhão de sentimentos que estamos enfrentando.

Da mesma forma, a falta tem ocupado lugar de destaque nos nossos dias e sido pilar estruturante para as mais diversas angústias. Melhor dizendo: as faltas; já que são muitas e misturam-se e confundem-se umas nas outras. Privados daquilo que nos é mais precioso – contato e interação humana, conexão e troca com aqueles que amamos – somos obrigados a lidar com as múltiplas faltas que provém dessa primeira. Como se não fosse suficiente, há ainda inúmeras famílias que se veem privadas de elementos ainda mais vitais, como condições materiais básicas, e/ou lidam com a perda de familiares e amigos – faltas que, de tamanha grandeza e força, parecerem fundamentar os dias que se seguem, ao invés de simplesmente fazerem parte deles. Revisitar esse trabalho e buscar conectá-lo com o presente é tornar possível um suspiro de alívio, ainda que só por um segundo, ao saber que, ao menos, é possível visualizar e dar forma ao turbilhão de sentimentos que estamos enfrentando.

É importante lembrar que, por mais que estejamos vivendo muitas coisas (ruins) pela primeira vez, que carregam consigo o terror do desconhecido, essas sensações há muito são familiares para a humanidade, estando presente em nossa história desde sempre.

É quase como se, ao olhar para tal objeto que tão bem materializa a confusão etérea que guardamos no peito e não sabemos nem nomear, estivéssemos colocando-a para fora por um momento, observando-a fora de nós. Ao dar forma a ela não há uma suavização do que ela é, contudo, há sim um alívio em poder corporificar o que até então parecia tão abstrato e amorfo, dar um “rosto” ao desconhecido. O desconhecido parece-nos sempre mais assustador e imbatível do que o familiar. Por isso é importante lembrar que, por mais que estejamos vivendo muitas coisas (ruins) pela primeira vez, que carregam consigo o terror do desconhecido, essas sensações há muito são familiares para a humanidade, estando presente em nossa história desde sempre. Saber disso, é claro, não tira o peso dos acontecimentos e não ameniza o sofrimento, porém torna-o mais possível de ser enfrentado, uma vez que já o foi tantas vezes por outras pessoas, tão capazes quanto nós mesmos.

Portfólio Laura Roman da Luz

REFERÊNCIAS

¹ Alice Correia, ‘Three Points 1939–40: Sculptural Process and Public Identity, Tate Research Publication, 2015. Disponível em: https://www.tate.org.uk/art/research-publications/henry-moore/henry-moore-om-ch-three-points-r1151463. Acesso em: 28 abr. 2021.

² Alice Correia, ‘Three Points 1939–40: Sculptural Process and Public Identity, Tate Research Publication, 2015. Disponível em: https://www.tate.org.uk/art/research-publications/henry-moore/henry-moore-om-ch-three-points-r1151463. Acesso em: 28 abr. 2021.

³ Citação presente no artigo de Alice Correia citado acima, originalmente retirado do livro de Gemma Levine, With Henry Moore: The Artist at Work, Londres, 1978. p. 28-9.

Laura Roman da Luz tem 19 anos, é natural de Florianópolis e segue residindo na cidade. Estudante de Artes Visuais na UDESC, vem fazendo experimentações em linguagens variadas como vídeoarte, fotografia, colagem, desenho, bordado, pintura, etc. Com frequência, o corpo e a palavra aparecem como elemento de seus trabalhos.

Tags: arteArqSCceart udescceartparceriaHenry Moorearqsc parceria udesc
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