Guarde este nome: Casa Quatro Oito. Localizada no Canto dos Araçás, com uma vista absurda para a Lagoa da Conceição, em Florianópolis, o local abre as portas apresentando-se como um misto de casa-hotel para viver uma experiência de hospedagem, gastronomia e cultura. São quatro suítes, cada uma com identidade única, restaurante e bar. Ao longo da concepção do projeto, decidiu-se abrir o bistrô para não hóspedes propondo a relação incontestável do novo espaço com a cidade, princípio defendido pelo multi-artista Felipe Morozini, que assina o décor personalíssimo do hotel-boutique, e que tem como uma de suas frentes a defesa de uma cidade melhor para viver, aplicado por ele na direção da Associação Parque do Minhocão (SP).
Mas o que torna a Casa Quatro Oito especial sob o meu ponto de vista? “Em São Paulo não existe nada igual”, comentou Morozini no nosso encontro, enquanto dava os retoques finais antes da inauguração. Ele referia-se a exclusividade, ao fato de ter apenas quatro suítes, e ao conceito de casa e serviço de hotel.
O que torna a Casa Quatro Oito diferente é a soma do conceito, do traço da arquitetura (escritório Arte Arquitetura), do paisagismo (JA8 Arquitetura Paisagística) e o cardápio que transita entre os sabores da ilha ao sudeste asiático. Mas é o décor evidente aos olhos de quem chega que revela a expressão do lifetsyle da empresária Bianca Pereira e da força provocativa de Morozini, artista visual, fotógrafo, cenógrafo que assinou projetos para o Lollapalooza, São Paulo Fashion Week e recriou a suíte presidencial do Maksoud Plaza para transformá-la numa “instalação habitável”. Amigos de longo data, eles levaram três anos garimpando cada item cuidadosamente. Como se fosse uma obra, Morozini imprime emoção ao espaço e levanta temas a serem discutidos por meio das escolhas dos objetos e móveis.
A Casa Quatro Oito reúne o que considero essencial: história, verdade, humor, poesia e leveza. O olhar apurado, a verve criativa e o repertório eclético e intelectual do geminiano Morozini lacrou o estilo da casa refinada, sem ser opulenta. Acúmulos de objetos calculados na medida do bom senso, referências brasucas – livros de Jorge Amado a Albert Eckhout, que documentou o Brasil holandês de 1637 a 1644 –, irreverências que ditam o mood do local na frase estampada na piscina “Estou Aqui”, que significa o novo luxo, na visão de Morozini. “É estar presente, não sair mais da poltrona”. É também assumir o clichê de estar em contato com a natureza, com direito à paisagem, mas é ainda o chão quente no banheiro entre outras regalias como o a marca de cosméticos australiana Aesop, que inaugurou sua segunda loja própria no Brasil com projeto dos Irmãos Campana – a primeira é de Paulo Mendes da Rocha.
A Casa Quatro Oito promove uma amálgama criativa: Fornaseti na parede da suíte, Albano Afonso na sala, Martim Parr transitando em várias cenas. A mistura bem dosada, e ousada, de móveis garimpados em diferentes lugares com peças importantes na história da mobília só reforça a liberdade criativa da dupla. Importa menos a grife e assinatura do que a composição que privilegia a circulação, o conforto do bem receber e a harmonia do conjunto que, certamente, será bem entendida por todos, até os menos atentos a grifes e balangandãs. (fotos de Felipe Morozini e minhas).